Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Com alma

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Os Atma nasceram em 2007 e resultam de uma fusão de diferentes estilos musicais. Uma sonoridade que nos remete para os ambientes de diversas culturas e que não pretende ser catalogada, apenas ouvida e sentida.

Como é que aparecem os Atma?
Hugo Claro: Eu e o Jorge já nos conhecíamos, depois passado um tempo reencontramo-nos e surgiu esta banda.
Jorge Machado: Começou em 2007 em formato dueto ainda, começámos a inserir mais pessoas, primeiro como convidados, a Berta na voz e um amigo nosso, o Lucas, no desenho, até chegar ao quarteto.


Quando começaram o dueto havia essa ideia de fazer música de fusão? Ou surgiu mais tarde com a adição dos restantes elementos?
HC: Já existia essa fusão, já tinha umas músicas feitas, eram estilos diferentes e entretanto começámos a fazer uma fusão. O Jorge e eu próprio começámos a utilizar outros instrumentos, que sugeriram outras sonoridades, mas não foi algo forçado, foi natural.


JM: Eu toco as repercussões e ele a guitarra e acordéon e a voz, no início começámos a juntar sonoridades e timbres que funcionavam. E isso foi continuando a acontecer com a adição de mais pessoas, mas também com o acréscimo de mais instrumentos. Depois o Hugo começou a tocar guitarra portuguesa e eu a ampliar a minha gama de repercussão de outros sítios e isso também acabou por trazer consigo uma sonoridade de fusão. Mas não só, também deixámo-nos influenciar por outras culturas, quer seja europeia, do mundo árabe, latino, ou africano. Foi uma procura muito nossa para que o projecto não fosse catalogado com um estilo. Tocámos o que tocamos e deixamo-nos influenciar por muitas coisas, entre elas, os instrumentos.


O facto de usarem tanto a guitarra portuguesa não causa algum desconforto entre os mais puristas?
HC: Primeiro, considero que seja música portuguesa, porque é feita em Portugal. Comecei pelo bandolim e só depois é que passei para a guitarra portuguesa. O meu instrumento base, se é que lhe posso chamar, é a guitarra clássica. Eu uso uma técnica na guitarra portuguesa que é da clássica e que não é o mesmo que fado, embora goste deste género musical, não pretendo fazer este tipo de música ou algo mais tradicional que já exista. Gosto de explorar outras coisas e acho que é importante haver pessoas puristas para manter as raízes, mas eu não sou esse tipo de músico, gosto de explorar coisas novas. Pessoalmente só toco a guitarra portuguesa há três anos. Hoje em dia é o instrumento de que gosto mais, isso também tem a ver com o nosso espirito de não fixar-nos apenas em aquilo que existe. Por vezes, é importante fazer uma ponte de ligação entre o que as pessoas estão habituadas a ouvir e algo mais comercial ou não, no fundo é a nossa abordagem musical, que nasce espontaneamente, não é que o façamos de propósito. E acabamos por ser catalogados por alguém que afirma que é música do mundo.


Achas que não devem ser catalogados assim?
Berta Azevedo: Acho que sim, já estivemos a discutir isso agora mesmo, nós temos várias influências quer ao nível dos instrumentos, quer até pelas vivências de cada um dos membros que as trazem para o projecto. Aliás é típico dos portugueses, não é? Esta miscelânea e creio que sim, não temos de ser catalogados assim, somos um grupo de música portuguesa, o que para nós também é importante.


JM: São termos que acho que são todos muito físicos. Não parece ser assim tão assertivo, catalogar uma banda como a nossa. É um projecto tão amplo e tão vasto, é étnico e eclético também, porque abrange muita coisa.
BA: As catalogações valem o que valem, mas não temos problemas em ser catalogados.


A pouco falaram da mistura de sonoridades e instrumentos e como é que chegam no final de todo esse processo à escolha dos temas, neste caso, do "com a mesma alma"?
HC: Eu compus as músicas desse álbum e agora já estamos a usar temas da Berta e no segundo disco gostávamos de fazer algo com uma maior participação. Surge a partir de uma estrutura, dependendo da sensibilidade de cada um junta-se uma ideia e faz-se uma canção. Daí parte-se para as opiniões e até a estrutura pode ser mudada, cada um coloca a sua energia em cada um dos temas e isso vai criando novas formas e abrindo novas portas, cada um escolhe a sua parte, o que vai fazer perante uma determinada estrutura, através de acordes.


JM: O Hugo mostra-me sempre um tema e eu penso em termos de percussão, tento olhar para isso e ver em termos de instrumentos, qual é sonoridade que calha melhor? A ideia é depois fortalecer o tema e torna-lo mais amplo, e acaba por ser uma escolha. A Berta é igual, ela chega e consegue criar uma linha diferente que fique bem e harmonicamente funcione.


BA: O processo criativo é bastante livre, espontâneo e participado. Sendo que a base por norma são as composições do Hugo e inclusivamente e já nos aconteceu, termos uma estrutura definida e que quando começámos a trabalha-la em grupo altera-se por completo. Há essa abertura por parte de toda a gente. Qualquer um de nós tem liberdade para fazer uma sugestão.

Achas que há temas mais masculinos? Canções em que a tua voz não se insere?
BA: Acho, mas não considero que seja por serem temas mais masculinos, ou menos, tem a ver com uma questão de voz. Eu gosto da voz do Hugo e acho que há músicas que resultam melhor com ele.

HC: Sim, há letras que é como se fossem um homem a falar.


BA: Sim, mas eu não considero que por ser um homem a falar, a música seja mais masculina. Não. Há canções teoricamente de um homem para uma mulher e não faz qualquer diferença. Eu não seria o tipo de pessoa que mudaria o seu disco por ser para um e não para uma, sinto-me perfeitamente confortável em qualquer registo e isso não faz da música mais masculina ou feminina.

HC: As canções adaptam-se. Tanto podem ser cantadas por um homem, como por uma mulher. A emoção que esta lá é muito forte, não tem sexo.

BA: Eu não considero que haja música mais masculina ou feminina. A interpretação é algo muito pessoal e cada um faz a gestão do tema como entende para o interpretar da melhor forma. Mas, não sinto essa diferença. Há é uma questão estética em que sinto de facto que há temas que a voz do Hugo resulta melhor.


Estão já a preparar um novo trabalho em termos evolutivos há diferenças?
HC: Em princípio já evoluímos mais como músicos, quando fizer este álbum vai ser melhor que o primeiro, acho. Existem temas que estamos a tocar ao vivo que vão entrar neste segundo trabalho musical. Há-de surgir na altura certa e já estamos a pensar o que vamos fazer.


BA: Vai ser também menos introspectivo que o primeiro. Mais mexido. Pelo tipo de músicas, vai ser uma abordagem totalmente diferente.

No vosso primeiro disco houve participações especiais, este também vai ter também?
JM: Não pensámos ainda nisso, mas vamos ter. Ao vivo gostamos de ter, no primeiro tivemos 2 participações.

Haverá uma frase para definir este segundo álbum?
HC: Estamos na fase de nos organizar para escolher os temas e só depois é que podemos ter uma ideia estética de como será o álbum e o que o irá definir. O nosso primeiro álbum chama-se "com a mesma alma" que não consta nesse trabalho, vai aparecer no segundo. O próprio trabalho vai falar por si e dizer o seu nome.


BA: Na criação nas músicas não pensámos do ponto de vista estético qual vai ser o resultado disto. É um processo que acontecerá provavelmente no fim, quando estiver terminado e isso aconteceu-nos no primeiro álbum. Tivemos algumas dúvidas em que músicas ficariam, depois tomámos essas opções e surgiu o resultado final. Não temos ainda datas.


HC: Mas, há essa intenção. O nosso último trabalho discográfico é de 2010 e entretanto já estamos a tocar temas novos que não estão gravadas, mas há a intenção de fisicamente as tornar reais e não estarem só a ser usadas em concertos ao vivo, alguém que queira ouvir vai ter de ver um vídeo.


Nos concertos por esse mundo fora associam-vos a Portugal ou nem por isso? Há temas cantados em português, mas nem toda a gente sabe o que é.
HC: É mais Brasil, mas é possível que não achem que sejamos portugueses.


E como é ser músico português em Portugal?
HC: Eu acho que depende das oportunidades que os músicos tem e não quero ser mau, mas depende das cunhas. Pessoalmente para ser músico em Portugal é preciso ter muito amor pela camisola, eu conheço a realidade das bandas onde vou tocando. Ou uma pessoa tem sorte, ou tem alguém. Eu vou tentando a minha "sorte" com o meu trabalho e por vezes uma pessoa pensa em desistir, porque é não é de agora, não é da crise. Toco há vários anos, desde que decidi ser artista. É uma corda bamba constante, mas acredito que há músicos portugueses que estão muito bem, ainda bem para eles. Não sinto inveja, eu coloco-me no meu lugar, se calhar tenho de passar por este tipo de experiência. O sucesso não é para todos, é limitado.


Mas, tem a noção que a tua música não para as grandes massas?
HC: Sim, é mais restricto.


JM: Estamos a tentar abrir mais essa porta para o exterior também, não quer dizer que não haja público, mas este é um país pequeno. E com os anos a passar temos a impressão que já fomos a todos os sítios dentro desta exprectum onde nos inserimos. Há bons festivais musicais, mas existem muitos onde o que fazemos não se enquadra, bem nem tentámos nos inserir, há grandes festivais que deveriam ter palcos diferentes e também cabe-nos a nos explorar isso, abrir essas portas. No entanto, existem etapas em que tudo está a correr melhor e outras não. Normalmente nesses períodos temos de ter o barco a andar para frente, quando é difícil devemos ter mais energia e é preciso dá-la. Falamos da música, mas se calhar há outras profissões onde isso acontece, em se sentem dificuldades em entrar em determinados mercados. O músico também necessita de um salário certo, há quem o consiga e outros vão tentando em determinados momentos e depois tem de gerir. É uma opção, o principal é fazer a música de que gostámos, ou pelo menos não afastar essa hipótese por causa das dificuldades que aparecem, porque essas aparecem em tudo na vida. Eu neste momento estou no Atma, mas por vezes, vou tocar noutros projectos musicais como freelancer, porque se vamos esperar que dê para pagar a nossa casa, se calhar não vai dar e temos de estar com mais músicos e não ficar só à espera de concertos. Pode-se fazer muitas outras coisas como dar aulas, que acaba por ser um dos complementos da maioria.


HC: Eu gosto de viver em Portugal. Não gostava de sair daqui, faço música em português. Eu expresso-me nesta língua, o que não quer dizer que o faça só para os portugueses, posso fazer instrumental, mas não é essa questão. Este é um país bonito. É pacífico.


http://projectoatma.weebly.com/muacutesica.html

 

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