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Pássaros de ferro

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Maria Helena Carmo retorna a Macau num romance histórico que retrata as vivências do território nos anos 30 e 40 do séc. XX, em três fases distintas. À época de progresso no espaço físico e cultural, seguiu-se a Guerra Sino-Japonesa. A Europa entrou na II Grande Guerra e Portugal demarcou-se neutral. Na Guerra do Pacífico foi Gabriel Maurício Teixeira quem impôs em Macau medidas eficazes, manteve a ordem e a neutralidade com a ajuda de homens de valor, face aos japoneses. Acolheu milhares de refugiados, sob o flagelo da fome, malfeitores e espiões fizeram da cidade palco de crimes pelo embargo alimentar. No fim da guerra, Samuel da Conceição Vieira assegurou a continuidade da colónia no Extremo Oriente.

Porquê decidiu escrever mais uma vez sobre Macau, 5 livros e vários contos depois, o que este “Pássaros de ferro” tem em particular?
Maria Helena do Carmo: Temos muitas comemorações não são apenas os 600 anos da descoberta do arquipélago da Madeira, temos os 20 anos de transição de Macau para à RAEM (região administrativa especial de Macau), depois comemorámos os 40 anos em que Portugal entregou Macau à China e o 70º aniversário da República Popular da China, portanto há muitas efemérides, a partir daí e pelo interesse que eu tive por ter encontrado uma ligação entre Macau e a Madeira. Num período muito difícil para Macau que foi a 2ª guerra Mundial, o território foi governado por dois homens da ilha da Madeira, um deles o Gabriel Maurício Teixeira que governou 6 anos e que depois foi substituído por Samuel da Conceição Vieira que também é do Funchal. Então peguei por aí e fui ainda buscar uma personagem tipicamente macaense, porque eles gostam de ser retratados, mas não apenas isso, houve um macaense que me deu um livro sobre a sua família, sobre o José Maria Braga, mais conhecido por Jack Braga que é um homem importante, por ter sido um dos primeiros historiadores de Macau e decidi romanceá-lo. Abordei a sua vida neste período de guerra que abrange a guerra sino-japonesa anterior a 2ª grande guerra e depois temos a guerra do pacífico que ocorre também durante este período.

Teve de fazer muita pesquisa para este livro?
MHC: Sim, de tal forma que jurei a mim própria que faria mais ficção, vou escrever mais livremente, não quero mais saber de história. Para este livro estive em contacto com um antigo aluno do Jack Braga que com ele trabalhou sobre a história de Macau e como estava a lidar com pessoas que conheço, familiares até, tive um rigor muito grande para não cometer erros. Eu tinha que respeitar quer o tempo, quer as personagens, tudo isso tinha de estar encadeado. Agora, houve ficção logicamente, eu sei quem é a esposa do Jack Braga, mas as conversas que eles tinham eu inventei dentro do contexto em que viviam, mas tentei sempre ser o mais rigorosa possível em termos históricos.

Foi essa a parte mais difícil do livro, ou nem por isso?
MHC: Foi, porque eles eram todos conhecidos. Eu peguei num livro que relatada a vida de um médico que esteve em Macau durante a segunda grande guerra mundial, e claro, a obra conta uma série de coisas. Depois li um outro sobre o Adé que era alguém que fazia peças de teatro, era poeta e abordou a língua do patoá, é uma linguagem antiga falada entre os macaenses. Depois houve outras obras, li uma sobre um comandante da polícia que era retratado como um herói, ofereceram-me ainda, um livro sobre o Danilo Barreiros que foi para Macau, casou lá e viveu um amor quase impossível com uma menina da elite macaense e a um dado momento vi que todas estas pessoas se movimentavam no mesmo espaço e que eram amigos. O Danilo Barreiros era amigo do Jack Braga, que por sua vez, era amigo do historiador Charles Boxer e foi precisamente o Danilo que vai salvar mais tarde os documentos do Charles Boxer no dia em que Cantão foi bombardeado e tudo isso me permitiu criar uma ambiência real, mas que para mim foi bastante complicada, porque tinha de ter bastante atenção para poder conjugar todos estes elementos. Inclusivamente, eu descobri as origens da família do Jack Braga, a mãe era inglesa, não foi um casamente fomentado pela família, muito pelo contrário, foi por amor e mais tarde deu para torto, mas como é que o escritor coloca este detalhe no livro, porque é interessante, mas não pode ser abordado no princípio?

Esse mergulho do Ocidente para Oriente foi difícil? Porque temos culturas e formas de pensar diferente?
MHC: Às vezes opostas, mas mais em quê? Nos preceitos. Só que quando se chega a minha idade já se assistiu a tantas transformações que não se cingem ao Oriente e ao Ocidente. As pessoas que lá estão acabam por adaptar-se complemente, embora haja aqueles que detestam o Macau, o Oriente, existe quem diga “oriente lixo na frente” e outros que gostam desse contraste. Eu fui para à Índia com 12 anos, o Oriente também faz parte de mim, não propriamente Macau, porque só lá estive quatro anos, mas vivi em Goa uma grande parte da minha vida, onde havia uma harmonia entre cristãos, muçulmanos e hindus.

De todos estes personagens deste romance, posso dizer isso?
MHC: Sim, é um romance, porque embora tenha uma personagem principal, tem muitas outras.

E de todas estas panóplia de personalidades houve algum que o surpreendeu pela positiva ou pela negativa, ou nem por isso?
MHC: São todas pessoas reais com as suas qualidades e defeitos. Acho que foi um trabalho importante de Gabriel Maurício Teixeira, ele soube ter muita diplomacia, não era um homem habituado à Macau, ao contrário do Samuel da Conceição Vieira que foi capitão do porto em anos anteriores, trabalhou inclusivamente com a personagem principal, ele conhecia o território bem, enquanto que o Gabriel Maurício Teixeira esteve mais em Moçambique, apesar deste handicap teve sempre uma atitude conciliadora, e não deixou que os Japoneses exagerassem. Ele teve uma atitude digna em defesa da nação, nesse aspeto respeito todo o seu trabalho, como também aprecio o trabalho de Jack Barga, de todos os que o acompanharam e acho que todas as personagens têm o seu quê de especial. Não vou dizer que uma se sobrepõe sobre a outra, cada um deles desempenhou bem as suas funções.

“Pássaros de ferro” é uma alusão aos aviões Kamikaze dos japoneses?
MHC: Exatamente. O romance começa quando nasce o primeiro rapaz de Jack Braga, depois de quatro meninas e eu sei que todos os homens querem ter um rapaz ainda hoje, quanto mais naquela altura. Contudo, uso essa expressão na voz da filha do Jack Braga, a mais nova, porque naquela época Macau era muito silencioso, era considerado nessa altura um sanatório e de repente passam uns aviões a fazer muito barulho e ela ao vê-los chama-lhes pássaros de ferro que iam a caminho de Cantão para a bombardear em 1938. Mais tarde Macau também é atacada, desta feita pelos Aliados que vinham atrás dos japoneses.

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