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Fungo pode limpar microplásticos do oceano

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Um estudo inédito que surgiu de um repto lançado aos estudantes de terceiro ano de biotecnologia, pela investigadora principal do Centro de Estudos do Ambiente e do Ar, do departamento de química da Universidade de Aveiro (UA), Teresa Rocha Santos, acabou por dar frutos e descobriu-se graças a tenacidade de uma jovem estudante, Ana Paços, que o Zalerion maritimus, um fungo muito comum na costa portuguesa, consegue num ambiente em tudo semelhante ao do mar poluído com microplásticos, em apenas sete dias reduzir 77% daquele material tóxico. Para os três investigadores envolvidos nesta pesquisa “este é sem dúvida o primeiro estudo a apresentar estratégias de biorremediação, processo que utiliza organismos vivos para reduzir ou remover contaminações no ambiente, neste caso específico de microplásticos. Portanto, este trabalho pode ser considerado um primeiro passo e uma contribuição para a resolução deste problema”. Esta é também primeira solução ecológica alguma vez descoberta para combater os plásticos nos oceanos, já que, ao otimizar-se o raro apetite do fungo recorre-se a uma solução oferecida pelo próprio mar. Um achado científico que segundo o editor da revista “Sciene of The Total Environment,” onde o estudo foi publicado, abriu as portas para “um verdadeiramente novo campo de investigação”.

Como é que descobriram as qualidades deste fungo que absorve microplásticos no oceano?
Teresa Rocha Santos: É um fungo que se chama Zalerion marítimo e que tem capacidade de degradar a celulose. Portanto, é encontrado na madeira no oceano. Atendendo a que a celulose é um polímero bastante complicado, nós achámos que seria capaz de degradar plástico que é constituído por polietileno e foi o caso que testámos. Outro dos aspectos que nos levou a escolher este fungo é que existe na costa portuguesa. Era uma proposta possível interessante se quisessemos avançar com o sistema de tratamentos de plásticos na nossa costa. É uma espécie que já existia e não haveria problemas de introduzir algo novo.

Se existe na costa portuguesa, o fungo tem de ser usado em áreas controladas, porquê? Se deixarmos que este fungo actue de forma aberta ele espalha-se de forma descontrolada, como acontece nos rios e albufeiras, quando aparecem manchas de algas?
TRS: Exactamente, todo o organismo tem tendência para fazer isso. Não o podemos introduzi-lo em grandes quantidades, porque senão pode induzir a um desequilíbrio no ecossistema. Portanto, o que temos de fazer é ter locais controlados para introduzir maior ou menor quantidade de fungo e não deixar para o resto do oceano.
Como podem controlar isso com redes?
TRS: Da mesma maneira que se faz produção de algas e peixe em aquacultura, também se pode produzir um fungo nas mesmas condições. Estámos ainda a pensar o que vamos fazer na fase seguinte, antes estivemos a fazer um estudo com aluminais, depois passámos para os aquários onde nos encontrámos actualmente. Como estámos na zona de Aveiro e temos salinas abandonadas vamos criar as condições necessárias para fazer aí um género de estação de tratamento. Isto sempre será um ensaio, deverá estar afastado de aquaculturas e outro tipo de actividades deste género, porque temos de ter a certeza que não iremos produzir nenhuns danos, temos de estudar devidamente o fungo a degradar o microplásticos e ter de ter a certeza de que a água não contém componentes tóxicos.

Outra questão que tenho é se este fungo tem algum predador natural? Ou seja, há sempre organismos vivos que comem outros, essa questão se pode colocar futuramente quando coloquem o Zmaritímo em redes no oceano?
TRS: Não sabemos, porque este fungo esta muito pouco estudado, também foi um dos motivos porque achámos que também era interessante estudá-lo na altura. Efectivamente existem predadores, mas se o tivermos numa estação fechada essa questão não se coloca, à partida não temos esse problema. Temos colecções deste e outros organismos que podem ser comprados para serem reproduzidos em laboratórios, portanto não há o problema de se esgotar no oceano.

Este é um estudo pioneiro, foi publicado numa revista científica, mas há quantos anos estão centrados neste estudo?
TRS: Este estudo começado há um ano atrás, no seguimento de um convite que recebi para escrever um livro com outros autores sobre microplásticos. Na altura achámos interessante tentar procurar, toda a gente o esta a tentar, uma solução para a sua monitorização no oceano, porque é muito importante e não temos a noção de onde é que existem e em que quantidade. Por isso, é necessário fazer uma monitorização exaustiva, por outro lado, também achámos que era necessário lançar uma solução e decidi lançar o tema ao terceiro ano do curso de biotecnologia e departamento de química da UA. Uma aluna, Ana Paços, escolheu este tema, porque o achou interessante e veio trabalhar connosco. Ela era muito interessada e uma excelente aluna e com as parcerias que obtivemos no laboratório para executar estes trabalhos acabámos por obter estes resultados. O trabalho de lá para cá já evoluiu de outra forma e como ela se interessou tanto, este ano quis continuar a trabalhar connosco em regime de voluntariado, apesar de termos outras pessoas envolvidas neste assunto e ainda resolveu fazer a tese de mestrado connosco sobre este mesmo tema. Temos, neste momento, uma equipa de três pessoas para conseguir os resultados mais rapidamente.

Esta segunda fase, de testar este fungo num ambiente controlado vai ser de quanto tempo?
TRS: Não sabemos ainda, porque estámos a fazer o estudo com aquários, estámos nesta fase aquática desde fevereiro. Mediante os resultados que obtivermos, que será entre setembro, ou outubro voltámos a publicar esses resultados e tomámos uma decisão do que vamos fazer a seguir. Nessa altura, decidimos se avançámos mais ou só daqui a algum tempo e como é que vamos avançar, porque ainda não conseguimos ter essa noção.

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