A permissão de actividades cinegéticas em áreas protegidas da Península Ibérica tem sido motivo de discórdia entre ambientalistas e governos.
Recentemente, o governo português permitiu a caça do coelho-bravo na zona sul da reserva natural da Malcata, uma área protegida para o lince-ibérico. Embora, não tenham sido avistados especiméns do felino em perigo extinção há vários anos, existe já um plano de conservação em que está previsto a reintrodução nesta área do lince-ibérico e por esse motivo a União Europeia investiu milhares de euros, através de programas de recuperação de habitats da população do coelho-bravo, que é o seu alimento preferido.
A “Quercus” contesta esta opção do governo, porque como refere no seu comunicado, “a mesma pode colocar em causa a recuperação de várias espécies-presa que se encontram a recuperar na zona como o corço, o veado e o coelho, e ainda de espécies em perigo como o Lince, o Lobo ou o Abutre-preto. Na maioria do território português é possível exercer a actividade cinegética, sendo muito poucas as áreas no território nacional onde não se caça. Uma decisão, que ao ver da organização não governamental ambientalista, “carece de qualquer fundamentação científica, não se conhecendo até à data nenhum estudo sobre as populações de espécies que possam vir a ser exploradas cinegeticamente. Acresce o facto da Reserva Natural da Serra da Malcata, à semelhança de muitas outras áreas protegidas, encontrar-se com graves lacunas de funcionamento devido a falta de recursos humanos e financeiros, o que se reflete nas ações de vigilância e fiscalização realizadas. A Reserva Natural da Serra da Malcata já enfrenta graves problemas de caça furtiva, pelo que a opção de agora permitir a caça nesta área protegida só vai agravar os problemas de fiscalização na reserva".
Na vizinha Espanha, por estes dias, o tema da caça ao lobo voltou a ser assunto do dia, depois de os pastores exigirem o seu “controlo”, através da actividade cinegética selectiva desta espécie. Em 2014, os governos de Espanha e França enviaram para Bruxelas uma petição a pedir a modificação da Directiva de Habitats que, mantendo a proibição da caça ao lobo a sul do rio Douro, permite a sua “gestão” a norte do rio. O grupo espanhol “Ecológias em acción” também é contra esta medida que na sua perspectiva, segundo declarações Theo Oberhuber, coordenador deste movimento ecológico ao jornal ABC, “caçar os lobos não soluciona nenhum problema, pelo contrário e cita mesmo um estudo do biólogo Alberto Fernández Gil que assegura que “mais lobos mortos levarão a mais danos”, devido ao carácter social do animal: quando o macho ou fêmea alfa morrem, o grupo desfaz-se e ataca o gado. A convivência não é fácil. mas é possível com os métodos tradicionais de pastoreio: com mastins e gado recolhido à noite”. O que não deixa de ser irónico e lamentável ao mesmo tempo é que em ambos os lados da fronteira gastaram-se milhões em fundos comunitários para preservação destas várias espécies raras da Península Iberica e são os caçadores que “lucram” com os programas de protecção ambiental.