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Sombras dos céus

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Os censos dos milhafres/ mantas promovidos pela Sociedade Portuguesa para Estudo das Aves (SPEA) nos arquipélagos dos Açores e Madeira dão conta de um total de 4399 aves de rapina. Uma iniciativa que contou com maior número de voluntários açorianos do que madeirenses o que influenciou os dados dos resultados finais, saiba como, como relata a bióloga e assistente de projectos da SPEA, Cátia Gouveia.

Nestes últimos censos dos milhafres na Madeira notaram uma diminuição do número de voluntários para a contagem destas aves em relação ao Açores?
Cátia Gouveia: De um modo muito geral notámos que os Açores têm um grupo de pessoas que participa nesta contagem em todas as ilhas bastante mais significativo do que nós cá. Tentámos mesmo em outras actividades da SPEA captar um maior número de pessoas interessadas em saídas de campo, ou em cursos de observação de aves e notámos que aqui comparativamente aos Açores, e com conhecimento de causa, que as pessoas não aderem tanto. É um processo crescente e daí que seja importante ter este tipo de actividades frequentemente, ou seja, todos os anos, de modo que as pessoas vão ouvindo informação. É um trabalho que estamos a fazer agora, tentámos incutir estes valores, mas temos consciência que se calhar só daqui a uns anos teremos uma participação maior. No entanto, temos tido sempre por volta de 30 voluntários todos os anos.


A contagem destas aves é feita através da observação num determinado ponto?
CG: Não.


Então como se efectua neste caso os censos destas aves de rapina?
CG: As pessoas demonstram o seu interesse em participar, ou podem sugerir-nos um percurso que podem efectuar e este trajecto pode ser feito de carro, em bicicleta ou a pé. Por norma, informam-nos do lugar que pretendem utilizar que com frequência é próximo das suas residências, ou se então escolhem um passeio mais longo. Nós gostámos de possuir esta informação antes dos censos para poder colocar as pessoas em zonas diferentes, porque acaba por não ter qualquer interesse para a SPEA ter dez pessoas a fazer o mesmo percurso. Assim, estamos à partida a inviabilizar dados com a recolha de informação no mesmo local. Por isso, espalhámos as pessoas no máximo de sítios possíveis para cobrir a maior área possível e o maior número de habitats. Um dos dados que recolhemos é precisamente o número de zonas onde estas aves podem residir, daí que seja importante passarmos por todos os tipos de habitats para comprovar onde existem em maior densidade. Á partida são aves mais frequentes em zonas florestais, ou campos agrícolas. Mas, também é possível vê-las junto de áreas urbanas. É importante cobrir o maior número de estradas possíveis e depois com à nossa análise determinámos quais os pontos onde essas aves existem em maior abundância.


Mesmo assim não é difícil de avista-las? São aves de grande porte que voam a grandes altitudes.
CG: As probabilidades de conseguirmos observar este animal estão relacionadas em sítios onde o seu habitat é mais propício para as suas condições quer de reprodução, quer de alimentação.

Ao longo do dia?
CG: Aconselhámos as pessoas a efectuar o censo de manhã até as 14 horas da tarde, porque entendemos que é durante este período que as aves são mais facilmente observadas em voo, em muros, em cercas e em árvores. Tem um comportamento bastante variável.


Ao longo destes anos verificaram que as mantas são aves sustentáveis, ou seja, que não correm perigo de extinção ou não?
CG: Esta é uma espécie que tem uma distribuição muito ampla na Europa, o buteo buteo. Na Macaronésia existem 4 espécie, uma específica da Madeira, uma dos Açores, Canárias e Cabo Verde. Relativamente as populações dos arquipélagos existe muito pouco informação, daí que seja importante fazer este censo todos os anos para conseguirmos determinar se estão a aumentar ou a diminuir. No entanto, devido a falta de voluntários e a pequena rede de percursos que conseguimos fazer torna-se difícil isolar todas estas variáveis, porque é um número que varia de ano para ano. É difícil ter uma percepção directa de que estão a aumentar ou a diminuir, a SPEA parece que é uma população que esta estável, mas aproveito para deixar um apelo para que participem o maior número de pessoas, porque só com um grande número de dados conseguiremos ter uma amostra significativa e dessa forma tirar uma conclusão da distribuição destes animais para o seu estatuto de conservação. Ao nível de estudo aprofundado na Região nunca foi feito nada. Este é um censo que efectuámos com duas vertentes, sensibilizar as pessoas para a educação ambiental e para os problemas relacionados com a natureza. Por outro lado, gostaríamos de dispor de uma rede de voluntários maior que fizessem estes censos para futuramente comparar estas variações das espécies.


Então os censos ainda não terminaram é isso?
CG: É um fim-de-semana que ocorre ao longo do ano. Entre Março e Abril, é apenas uma vez ao ano e era muito importante ter voluntários para esta fase, implica apenas uma saída de campo e claro, o nosso objectivo é que se prolongue, mas sabemos que também depende das pessoas para continuar este tipo de iniciativas, nós temos essa vontade.


Catalogou esta ave como uma subespécie como é que ela se distingue das suas congéneres no continente e demais arquipélagos?
CG: A definição de subespécie está relacionada com o sítio de ocorrência. Ao nível de características morfológicas são muito semelhantes entre si, mas o facto de existirem em arquipélagos diferentes e não se cruzarem entre si com a espécie do continente fazem com que sejam denominadas subespécies.


As mantas, devido a falta de predadores nas ilhas, torna-se uma ave mais visível, em relação a sua congénere no continente?
CG: Eu acredito que seja uma espécie bastante visível, é uma questão de estarmos despertos para isso e olharmos para o céu, porque todos os dias conseguimos visualizar uma. É uma ave predadora que reside na ilha e fazemos os censos entre Março e Abril, porque é o período em que notámos comportamentos mais visíveis. Apesar das pessoas terem alguma dificuldade em participar por considerarem que tem pouca experiência, um dos objectivos desses censos é mostrar que qualquer um pode participar neste tipo de actividades. Por isso denominámos esta iniciativa de "cidadão para a ciência" que é um tipo de ciência que se faz em muitos países e parte do envolvimento da comunidade local neste tipo de projectos. Não é necessário ter conhecimentos aprofundados, porque na ilha só existem 3 tipos de censos, do francelho que é uma pequena ave de rapina, as mantas e o fura bardos e todos tem comportamentos distintos. De qualquer forma, as pessoas podem consultar o nosso site e lá encontram a informação sobre a metodologia e sobre as diferentes espécies e assim fica com uma noção de como é fácil identificar e separar estas espécies.


Em média quantos animais existem no arquipélago?
CG: As últimas estimativas dão conta de 300 aves. No entanto, devido ao número reduzido de voluntários e uma área percorrida bastante pequena, nos acreditámos que é um número subestimado, pensámos que é largamente superior. Contudo, os dados que existem não nos permitem afirmar com fiabilidade e com um nível de significância elevado qual é o número exacto de aves que existem cá.

http://www.spea.pt/pt/estudo-e-conservacao/censos/censo-de-milhafres-mantas/

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