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A diáfana

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Com particular interesse pela relação entre o individuo e o espaço que o rodeia, o trabalho de Natercia Caneira tem-se desenrolado em torno das questões do corpo e da paisagem, assim como da importância que a deslocação geográfica tem no desenvolvimento do processo criativo do artista, um metódo que ficou patente na sua última residência artística na Pedra da Sina, no Funchal.

A instalação desta exposição é inspirada em quê?
Natércia Caneira: Nas questões da luz e de como as pessoas se movimentam no espaço, é uma das coisas que me interessam, neste caso quando cheguei à residência e em conversa com o grupo ficou acordado que uma das salas seria utilizada por mim. Então a partir daí começo a construir a instalação, já que estava também a viver nesse mesmo sítio e vou construindo consoante a minha percepção do espaço. A minha relação com a luz, com a janela, com os candeeiros que já existiam na sala, dois cabides que me deram para pendurar a minha roupa que resolvi também integrar na peça. Mais tarde a instalação começou a crescer e pedi mais dois cabides, no fundo está construída em torno desses dois objectos que encontrei aqui. Na rua achei no chão sumaúma, é de uma a árvore que existe na ilha, nunca tinha visto uma ao vivo e esta espécie de novelo tem uma grande capacidade de reflectir a luz. É um material que é branco, mas quando a luz lhe bate reflecte brilho, essa semente foi também integrada na peça. O material que uso é um fio que é feito de sumaúma tecida. A lógica foi integrar o que foi encontrado aqui nestas duas semanas que cá estive e que me interessava, porque tem a ver com as minhas ideias de luz, espaço e linhas. E que durante o dia é completamente diferente, porque a luz que entra pela janela reflecte os brilhos do próprio material. À noite a luz controlada por mim, cria um ambiente totalmente oposto, uma luminosidade mais suave, mais relaxada. A forma como a instalação esta feita também permite que as pessoas andem pelo espaço, em torna da peça, que possam interagir com ela, tocando os materiais e andando em volta, criando esta espécie de dança entre o objecto e o visitante, o facto de se entrar por uma porta e sair por outra, era tudo coisas que estive a pensar enquanto construía a peça.


Então consideraste uma artista visual?
NC: Sim, eu sou uma pessoa que venho do campo da pintura e do desenho, depois da escultura e que sempre me dediquei a estas questões da escala, do espaço e do corpo humano em torno desta dinâmica. O meu trabalho é de facto de instalação para um sítio específico, é-me designado um espaço e eu crio a partir daí. Também trabalho com fotografia e com vídeo, com vários materiais e técnicas diferentes, mas sempre seguindo com estas preocupações que tenho e que tem a ver com espaço.


Quais são os factores preponderantes que te atraem em relação a um espaço em detrimento de outro?
NC: Normalmente sou muito flexível nessa questão. Gosto de experimentar espaços diferentes. Faço uma proposta para um determinado local e depois adapto-me ao espaço com a concordância das pessoas que lá estão. Neste caso, chegámos a acordo em relação àquela sala, porque tinha duas entradas, permitia as pessoas pudessem circular por um lado e sair por outro. Escolho esse tipo de locais, que permita ao visitante poder entrar e sair, circular mais facilmente junto da peça.


A Luz e a sombra são importantes no teu trabalho?
NC: Sim, são extramente importantes.


E as escalas estão sempre presentes?
NC: Sim, em tudo o que faço. É uma constante. Seja no desenho, na fotografia, nas instalações de escultura, para mim um dos factores que mais me atraem para trabalhar é o nosso corpo com a escala, com o espaço e a nossa percepção do real. Teres uma ideia se aquilo é luz, se são linhas, essa lógica de como nos apercebemos do nosso ecossistema, de tudo o que esta a nossa volta, dessa mesma realidade.


A cor não é uma prioridade no teu trabalho.
NC: Interessa-me bastante a subtileza da cor. A maneira como a luz incide sobre os materiais e como reflecte essa luminosidade, não estou muito interessada se a cor condensa. Se bem que tenho pintura em tela, com dourado e prateado. Interessa-me mais as questões da transparência, da luminosidade.


É difícil dominar esses aspectos? Já que foi desde sempre uma preocupação dos artistas ao longo dos séculos, especialmente na pintura, como dominar a luz.
NC: Eu acho que é um fascínio que sempre existiu. Falo por mim, é um fascínio pelo belo, pelo encantamento, por exemplo, estar a ver um pôr-do-sol que faz um efeito diferente, que fica gravado na nossa memória não sabemos bem o porquê. Em outros tempos os artistas tentavam copiar esse efeito, através da pintura, para mim não faz sentido copiar, é mais importante criar um ambiente que de alguma forma apele ao visitante essa curiosidade, esse momento de contemplação.


O que te inspira?
NC: O que mais me inspira particularmente é andar sempre em busca de criar esses momentos, que primeiro que tudo me fascinem a mim e posteriormente possam fascinar outros. É quase uma vontade de querer agarrar o efémero, a luz é efémera e isso encanta-me de o não material, por isso construo peças no espaço, a ideia de quase desenhar uma linha no ar.


Qual é o teu próximo passo.
NC: Vou viajar, vou estar em França, sozinha. Ando em volta agora mais do corpo do que do espaço, da fisicalidade do corpo, da matéria e isso interessa-me. Tenho um projecto em andamento que versa sobre a efemeridade do corpo.

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