Então como defines após estes anos o mercado nacional?
AM: Eu defino um mercado como sendo muito pequeno, o que dificulta o trabalho dos galeristas e dos artistas. Os artistas não podem ter a pretensão de ter uma exposição individual todos os anos, é muito limitante em termos de sustentabilidade e da sua própria existência, porque simplesmente estagnam no mercado, isso obriga-os a participar mais em exposições colectivas e ir para fora. Depois é um mercado onde existem ideias muito pré-estabelecidas a priori, colaborações fora, participações em feiras e trabalhar com espaços internacionais, será sempre bom cá dentro. Depois a meu ver, dá-se demasiada importância aos críticos de arte, que é uma práctica quase inexistente, temos muito poucos, mas há uma espécie de consultores e uma certa elite que acaba por comandar os artistas, sobretudo as colecções e os investimentos estatais, decidindo quais os artistas com um bom futuro e quais são um bom investimento e isso esta viciado.
Tem sido um dos motivos porque tornaste estas exposições de certa forma itinerantes?
AM: Não, foi por uma questão de necessidade. Costumo dizer mesmo que a necessidade aguça o engenho e aconteceu porque tinha 40 metros quadrados e queria fazer exposições maiores e colectivas. Era tudo muito difícil nesse espaço e trabalhar com essas dimensões e foi essa razão que me levou a fazer exposições fora. A primeira que foi em 2005 em Granada, foi um convite, apresentei 7 artistas no que foi uma jornada louca, preparei tudo em duas semanas. A razão pela qual vou para fora do país, ou de Lisboa, é essa necessidade por novos espaços, maiores, que permitam novas propostas. Também tem um lado de curiosidade, muito meu, de tentar perceber como é que as pessoas que não conhecem os artistas, a galeria e o meu trabalho como é que reagem, como é que o interpretam e as perguntas que fazem, até há um olhar quase mais virgem. Tivemos um caso muito curioso quando estivemos em Bucareste, com o Cláudio Garrudo, numa exposição chamada “borderline” em que havia uma série de retratos, com auto-contemplações, em que ele se colocava em situações limite, por exemplo, numa morgue, simulou até um suícidio e o que acontece? As pessoas que viram aquela exposição na galeria e que me conhecem tiveram uma determinada reacção, que foi completamente diferente na Roménia, onde nem se perceberam em algumas situações que era mesmo o artista, tiveram uma aproximação e uma relação com a fotografia completamente diferente, não estavam a ver o Cláudio Garrudo, a pessoa. Isso foi muito interessante e enriquecedor.
Agora que falastes de exposições fora de Portugal, qual é a tua percepção do mercado?
AM: Há um aspecto muito pragmático a ter em conta, quando se fazem exposições lá fora é muito difícil vender. Isso logo é um permissa que é necessário ter muito presente, isto porquê? Pelo menos vender num primeiro momento, porque a compra de um objecto artistico envolve, ainda bem que assim é e contra mim falo, um conhecimento e um envolvimento do trabalho, ou a pessoa compra por impulso, gosta, apaixona-se e já esta, ou então aprecia ver uma exposição, depois quer ver outra e pretende acompanhar o trabalho do artista. As primeras vezes que se vai para o estrangeiro é muito difícil vender e também quando convido artistas estrangeiros para exporem na galeria. Contudo, existe muita curiosidade tanto na República Checa, como na Roménia com quem estado mais próxima, em relação à nossa cultura e aos artistas, as pessoas tem um genuíno interesse, porque faz parte da sua educação e do seu quotidiano, há mesmo muita vontade de conhecer e é muito bom o artista ir, porque precipita esse contacto com os públicos.
E nos mercados mais tradicionais de arte, não se consegue penetrar?
AM: Eu fui parar a estes países que referi por questões afectivas, porque conheci um curador romeno e uma outra checa e se chego vinda do nada é mais difícil. Tem de haver um ponto de contacto local e isso depois vai abrir as portas, portanto, a razão pela qual tenho estado a falar com a República Checa e a Roménia não é estratégica, nem algo que pensado, simplesmente aconteceu, fomos desenvolvendo essas parcerias e também não me interessa ir a muitos sítios de uma vez, porque em termos de rentabilidade é muito difícil, interessa-me ir aprofundando as minhas relações com estes dois países, até porque o galerista romeno é uma pessoa absolutamente extraordinária, de uma cultura e de uma sensibilidade fora do comum e a curadora checa também e se calhar daqui a dois ou três anos desenvolverei outras geografias.
Quais são os planos para a galeria das Salgadeiras para este ano?
AM: Este ano é muito conservador dígamos assim. Já fiz 102 exposições, sou centenária. No ano passado mudámos de espaço e este ano vou focar-me mesmo na nova área, as exposições que vamos apresentar, em preparar já o ano 2016 e dar continuidade as colaborações internacionais. Vou sair muito menos, mesmos de Lisboa, as únicas excepções foram compromissos já assumidos com a Casa das Mudas, na Calheta e em Bucareste, fora isso, quero ficar na casa nova e trabalhar. Até porque é muito importante estar presente na galeria, também é um espaço novo para mim, tenho que ver como funciona, a luz é diferente, o espaço é diferente, o volume é enorme em comparação com o que tinha anteriormente e agora tenho de estar ali para ver como tudo funciona no verão, no inverno, com chuva, com sol, questões que no anterior espaço não se colocavam, quase nem precisava lá estar, montava exposições de olhos fechados, agora não, é tudo novo.