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A marca de ilda

Escrito por 

Ilda Reis foi uma das artistas mais influentes na arte da gravura e da serigrafia em Portugal. A escolha dos temas orgânicos e as cores vivas marcaram profundamente a sua obra de quase três décadas de existência. Uma carreira que apesar de ter sido reconhecida internacionalmente, nunca foi fulgurante no nosso país devido a sua personalidade recatada, como descreve a sua filha, Violante Saramago Matos.

O que gosta mais da obra da sua mãe?

Violante Saramago Matos: Eu gosto particularmente da obra gráfica, isto é das gravuras que idealizou. Ela começou pela pintura, depois escolheu a gravura, mas a partir de uma certa altura teve que deixa-la, tornou-se difícil de continuar, porque a arte da gravura é muito dura, muito exigente fisicamente, as prensas naquela altura eram muito pesadas, hoje em dia já existem máquinas eléctricas. Eu ainda tenho uma prensa da minha mãe que é um peso brutal, era tudo a mão, uma placa de ferro com imensos quilos que era preciso mover a força de braços. E a minha mãe deixou de ter força poder fazer gravura e a própria arte de gravar a chapa é muito exigente, por isso ela retornou a pintura. Mas, o francamente acho que aquilo que é extraordinariamente bom na minha mãe foi a gravura. Há delas que são qualquer coisa de maravilhosa, em particular as de metal. Existem também algumas peças em madeira que são muito boas e algumas em cobre.

Acha que lhe fizeram justiça como artista?

VSM: Não, mas a minha mãe tinha um “péssimo feitio”. Ela teve propostas, e não vou dizer de quem, porque ela nunca quis que se soubesse, de galerias, mas é preciso frisar que o conceito hoje de galeria é muito diferente, são espaços mais abertos, naquela época e estamos a falar dos anos 60 e 70, as galerias tinhas artistas “próprios” e ela nunca quis isso, e teve duas propostas nesse sentido, que queriam que ela trabalha-se com eles e eu nunca percebi porque ela nunca aceitou, a verdade é que não o fez.

Terá sido pela sua natureza extremamente independente?

VSM: Eu penso que não. A minha mãe era uma mulher curiosa, independente, mas acima de tudo era uma pessoa extremamente tímida. Eu acho que aquilo que a impediu foi um misto de duas coisas, por um lado que se estava a vender a um comércio de arte, que eu acho que não era verdade. E por outro, porque tinha a ideia que se produzisse uma obra menor poria em causa o nome da galeria e devo acrescentar que ela nunca mo confessou. É a minha percepção. Falando de uma altura em que havia esta extrema ligação galeria/artista, é preciso ver que estes espaços “faziam” os artistas de certa maneira, se não fossem bons claro que não eram conhecidos. A Paula Rego, por exemplo, teve uma grande ligação a 111 e não há dúvida de que houve uma grande sinergia entre os dois. Mas, a verdade que havia esta dualidade de interesses que convergiam na promoção de trabalhos de qualidade e minha mãe sempre fugiu disto, e penso que foi por isso que ela não foi cotada e reconhecida como deveria.

Não foi pelo facto de ser uma mulher no mundo do grafismo?

VSM: Eu penso que não. A Paula Rego é mais nova, mas não é assim muito mais nova e foi a mulher que foi, a Meneres foi a mulher que foi e a Lurdes de Castro. Havia muitas mulheres a gravar. Estou convencida que esta recusa sistemática é que a prejudicou.

Não é um contra-senso em certa medida, já que o artista deseja que a obra seja reconhecida?

VSM: É um contra-senso. Por isso é que digo que isto tem um pouco de independência, mas muito de timidez. A minha mãe era uma mulher muito recatada, se pudesse fugir de qualquer coisa, ela fugia. Se alguém lhe quisesse fazer uma pergunta desaparecia. Há aqui alguma coisa de contra-senso, é verdade. Eu acho que pouquíssima gente sabe que, tenho um conjunto de medalhas de ouro do grande prémio das artes de Europa de 76/78 e quase ninguém sabe, porque nem isso foi receber. Não consegui que ela fosse a Lile, ofereci-me para ir com ela, disse-lhe: vamos as duas e nem assim consegui convence-la. Ora era porque não tinha dinheiro, ora porque não tinha fato, ora porque não sabia falar francês e isso era tudo mentira, tinha tudo isso, inclusive falava fluentemente a língua e não foi. Isso ilustra o feitio dela, eu acho que é uma pena. Ela teve vários primeiros prémios em concursos internacionais em países como o Japão, Milão, Brasil e Moçambique e nunca saiu de casa para receber seja o que for. Sempre com a mesma desculpa, o dinheiro, a roupa e que não sabia falar. Não recebeu um que fosse.

Esta paixão passou para a nova geração da família, a sua filha, a Ana está também ligada as artes através de uma galeria.

VSM: Passou para os meus dois filhos, embora o manifestem de maneiras diferentes. A Ana está mais ligada à galeria, esta agora a acabar o mestrado em curadora de artes e tem esse espaço há seis anos. O meu filho tem muito jeito para desenho, não sei o que aquilo vai dar, mas gosta de estar no seu canto a desenhar. Eu, penso que essa paixão da Ana tem pela arte tem muito a ver pelo facto de ter vivido muito tempo com a minha mãe, ela também tem um gosto particular pela gravura e penso que terá pesado a influência da minha mãe nessa matéria. Segue o seu caminho e por isso acho que está bem.

http://www.bnportugal.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=286%3Ailda-reis&catid=3%3Aeventos-a-ecorrer&Itemid=322&lang=pt

http://www.livro-antigo.com/site/temas.php?cod=25

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