Quem é a mulher que usa as tuas malas?
MCS: É gente nova, divertida.
Qual é das malas que desenhaste aquela que o teu público-alvo gostou mais?
MCS: É a avozinha, é a mala mais emblemática da minha colecção, inclusive já foi copiada, muito mal por sinal. Já fiz até uma versão maior, a bisavó, porque as pessoas diziam-me que a original era muito pequena.
Vamos agora abordar um outro conceito mais recente, o "cut furniture", que é mobiliário sem parafusos. Como é que surge esta ideia?
MCS: Curiosamente, comercialmente é mais recente, mas surgiu muito antes da confeitaria das malas. Foi uma ideia que comecei a ter desde cedo, sou açoriana e fui estudar para Lisboa. O meu quarto quase não estava mobilado, só tinha uma cama e um guarda-fato e um dia estava a passar pelos Chiado, ainda estava em obras e vi uma placa de contraplacado intacta, foi perguntar aos trabalhadores se eles me davam e eles disseram que sim. Fiz então uma mesinha de cabeceira sem parafusos, que pudesse levar debaixo do braço no comboio. Desenhei as pecinhas, cortei e foi só montar. No quinto ano, no projecto de final de curso, por nossa iniciativa, voltei a esta temática de fazer mobiliário em que o processo de maquinação era reduzido ao mínimo, ou seja, a peça era cortada e não era preciso mais nada para montar. Mais tarde, concorri a um concurso da Massimo Dutti, que pretendia design tendo em conta o espaço e eu achei que era uma oportunidade para dar o passo seguinte. A organização disponibilizava um pequeno orçamento para criar o protótipo. Comecei com três peças, um banco, uma mesa e uma estante, que não fazem parte da colecção actual. Dois anos mais tarde, no concurso das indústrias criativas da Fundação Serralves e da Unicer, transformei o mobiliário em ideia de negócio e ganhei o primeiro prémio. Tinha como compromisso iniciar a comercialização do mobiliário num espaço de tempo que abrangia os dois anos e assim fiz. Desenvolvi uma colecção mais coesa e mais comercial, retirei a estante e substitui por uma cadeirão e uma cadeira, o sistema de encaixe tornou-se mais sofisticado e participei, o ano passado, na minha primeira feira internacional de “life style” em Tóquio.
Qual foi o feedback?
MCS: Foi muito bom. Os japoneses apreciam muito o conceito de gadget e a "cut furniture" resultou muito, mas na verdade o mobiliário não funciona muito para eles, porque eles usam muito poucas peças. Foi interessante o contacto, porque verifiquei que como posso alterar o conceito para torna-lo mais interessante para o Japão, que é um mercado que gostava de abordar. Este ano participei na feira ambiente de Frankfurt com as duas colecções e correu muito bem. Funcionou como catalisador para novos projectos e foi bom nesse sentido. Estou muito interessada em desenvolver outras linhas de produto e a feira é muito frequentada por distribuidores com marca própria e fabricantes que me propuseram desenvolver linhas que resultam da experiência que ganhei com o meu mobiliário.
Mas, estas a vender a “cut furniture” ao nível nacional?
MCS: Sim, tenho um único posto de venda neste momento que se chama, “baseado no conceito store”, que fica no Príncipe Real, em Lisboa.
Mas, a cut tem um posicionamento diferente das malas, em termos de público.
MCS: Sim, eu dizia a brincar que a “confeitaria da mala” estava a concorrer com os chineses, porque elas sempre se posicionaram pelo preço. A “cut furniture” não. Há uma série de variáveis neste conceito, como sejam o material e mesmo a complexidade do processo de fabrico que faz com que o público-alvo seja médio alto, pessoas urbanas, com gosto pelo design.
É uma mobília para espaços mais exíguos?
MCS: Sim, o banco, por exemplo, pode ser montado rapidamente quando aparece mais uma pessoa para jantar. Montámos tudo em segundos. Elas são todas desmontáveis, são planas, dá para montar e desmontar as peças as vezes que quisermos, sem ferramenta nenhuma. A mobiliário que levo para as feiras é sempre o mesmo e ainda não sofreu qualquer fadiga no encaixe.
As peças que crias são inspiradas na ilha, nas tuas origens, ou não?
MCS: A minha inspiração vem do facto de ser nómada, os estudantes são assim. Passava uns meses em Lisboa, depois na páscoa e no verão ia para casa e num quarto alugado nunca te sentes em casa e também queria levar a mobília comigo e foi mais esse factor de me sentir nómada que me levou a criar estas peças, ser ilhéu é ser nómada, mas não me influenciou directamente.