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Anda e fala...de mim

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O Walk&Talk é um projecto que recupera edifícios antigos, através de confrontos artísticos que embelezam a cidade Ponta Delgada em São Miguel, nos Açores. Tudo começou quando dois jovens encontraram-se e de um devaneio chegou a mudança das fachadas. Este ano a sua segunda edição promete, mas antes venha conhece-los.

Como é que vocês se juntaram para idealizar este projecto? Já se conheciam anteriormente? Dê onde surgiu a ideia e a vossa parceria?
Jesse James: Apesar de ambos sermos Açorianos, só nos conhecemos na Faculdade, no Continente. E só entramos neste projecto, muito depois de terminar as nossas licenciaturas.
A ideia surgiu de um devaneio. No sentido em queríamos criar um projecto com mensagem, que gerasse confronto suficiente para se afirmar como um momento importante na nossa vida e nas das pessoas que entrariam em contacto com esse “evento”.  
Diana Sousa: O facto de termos ido viver para outros espaços ajudou a gerar confrontos com novas ideias e conceitos e, uma das coisas foi a arte urbana e forma como ela intervêm no espaço.  
Fomos entrando cada vez mais no universo street art e do conceito de arte pública, desde a expressão ao movimento, a procurar artistas e a avaliar estilos, conteúdos, projectos... acabou por se tornar numa pesquisa constante. Gerou-se um fascínio pela arte publica e especialmente pela forma ocasional e descomplexada com que ela comunica com o deambulante.

Criaram este evento porquê? Acham que pelo facto de residir numa ilha estão isolados em relação aos restantes movimentos artísticos, daí a necessidade do intercâmbio de linguagens estéticas?
JJ: Depois da pesquisa, vem a vontade de partilhar, e daí o conceito/movimento walk&talk. Como açorianos, fez todo o sentido desenvolver o projeto num local que vive sobre a sua insularidade. Queríamos provar que é possível descentralizar a cultura e que este género de acontecimentos adquire outro valor quando desenvolvidos num espaço com carências a esse nível.
O contexto geográfico e o próprio conceito de “açorianidade” de Vitorino Nemésio, reflectem-se na mentalidade e nos padrões culturais extremamente ricos mas, por vezes, pouco receptivos à mudança. E isso fica patente na experiência artísticas que tende a ser bipolar: popular/elitista. Faltava um meio-termo, algo que conseguisse criar curiosidade em vários públicos. E a arte pública tem essa vantagem porque é grátis e acessível a todos: é democrático.
A sensação de pertença também é maior, pelo que a curiosidade e a vontade de interpretação são intensificadas. As pessoas quando não são obrigadas a determinada situação usufruem muito mais dela, daí a insistência em criar um “museu” ao ar livre onde as pessoas são confrontadas com intervenções artísticas de uma forma ocasional.
Ponta Delgada como a maior cidade açoriana, por ter mais massa critica e paredes a necessitar de Intervenções, foi o palco escolhido para acolher o museu ao livre.
DS: Ao convidar os artistas um dos pontos essenciais era a diversidade do line-up, em termos de linguagem gráfica, contextos artísticos, proveniência dos artistas, e a velha dicotomia notoriedade versus novos talentos, (açorianos, nacionais e internacionais, ou mundividência). Tendo em conta esses factores, fomos escolhendo os artistas que mais gostávamos.
A contrapartida era participar no walk&talk com base em contribuição e mobilização, transformando isto em algo de todos. E aos poucos fomos reunindo os 30 artistas. Tendo o line-up definido, distribuímos os diferentes géneros de intervenção por toda a cidade, aos quais o público poderia se relacionar de uma forma muito própria, consoante os seus gostos.
E apesar de algum conservadorismo, foi um desafio vencido ao convencermos entidades e indivíduos a juntarem-se ao “movimento pelo fim das paredes brancas e o povo mudo”.

Uma das premissas do vosso movimento artístico é efectuar intervenções nas paredes de edifícios abandonados. E quando não houver mais espaços exteriores, o que pretendem fazer murais?

JJ: Nada na vida é estanque, e nós somos muito adeptos da mudança. É como diz o sábio Raul Seixas, “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. O mesmo se aplica ao walk&talk como festival de arte publica: tem que mudar e adaptar-se aos paradigmas sociais. Os muros são apenas um dos suportes que se podem usar, e nesse sentido há muitos espaços e meios a utilizar nas próximas edições. E isso acontece já este ano.

Foi difícil obter o apoio do público e das autoridades?

JJ: Não, porque havia o factor curiosidade. Claro que não foi fácil convencer o público e as entidades institucionais em apoiar um projecto que prometia encher a cidade de arte, mas insistimos e fundamentamos muito bem o projecto em termos de missão, objectivos, relevância e sustentabilidade. O apoio da Direcção Regional da Juventude (Governo dos Açores) foi sem dúvida determinante. Foi a primeira entidade estatal a demonstrar interesse pelo walk&talk e pelos objectivos que defendíamos, acabando por nos apoiar a 100%. Isso foi muito importante para ganharmos credibilidade junto de outras instituições como a Câmara Municipal de Ponta Delgada, Direcção Regional do Turismo e várias entidades privadas que também se juntaram ao movimento e tiveram um papel essencial. Sem elas seria impossível levar a cabo o festival, dada toda a logística que envolve o walk&talk.
DS: Há também outras associações que se juntaram à Anda&Fala interpretação cultural, na organização e promoção do festival, género cultura em rede. A Associação Cultural Corredor disponibilizou-nos espaços de trabalho e filmou o documentário do Festival. A Cooperativa Descalças adicionou actividades paralelas ao walk&talk com várias performances artísticas e exposições ao longo das 2 semanas e a Solidariedarte com intervenções sócio-culturais com os artistas do Festival.Contudo, a receptividade da população local foi o mais surpreendente. Antes de começar o walk&talk, apesar dos bons indícios que estávamos a ter e da aparente curiosidade das pessoas e da média, era uma incógnita a reacção da sociedade micaelense à introdução de arte no espaço público. A verdade é que a meio do festival já tínhamos pessoas a oferecerem paredes para os artistas pintarem! Gerou-se uma conversa muito saudável à volta da arte urbana, dos artistas preferidos, das intervenções pela cidade, da exposição colectiva na academia das artes... a população local estava curiosa e acompanhava o trabalho dos artistas. Todos os dias havia novidades, porque ora uma parede ficava concluída, outra estava a começar, e estávamos nós a correr de um lado para o outro.

A designação walk& talk aparece em que contexto?

JJ: O walk&talk expressa uma ideia de acção, mas essencialmente de continuidade e evolução, onde a deslocação física e mental que resulta numa interacção com o espaço, incitando-nos a desenvolver uma atitude e postura pró-activa na sociedade. A designação é exemplificativa dos objectivos e missão do movimento enquanto promotor de cultura no espaço público e defensor de uma estrutura baseada em mobilização social e contribuição individual.

Este evento pretende prolongar-se por outras ilhas dos Açores?
JJ: Neste segunda edição vamos nos deslocar a outras localidades da Ilha de São Miguel, sejam elas urbanas ou rurais. Museu ao ar livre é em todos os espaços. No futuro é sem dúvida uma possibilidade que estamos a ponderar. Mas uma coisa de cada vez.

Um das particulares do Anda&Fala é uma aposta nos jovens artistas açorianos, como é que os inserem neste projeto?

DS: O trabalho de curadoria é elaborado e fundamentado pela Direcção Criativa do W&T constituída por 3 elementos da organização, e outras pessoas convidadas. Sendo um dos objectivos, promover a interação entre a cultura local com expressões artísticas contemporâneas é essencial incluirmos artistas açorianos no cartaz do festival, até porque existem projectos locais muito interessantes e que merecem o nosso apoio e divulgação. Para além disso a troca de experiências e processos criativos é algo fundamental e só fortalece o festival em termos conceptuais e interventivos.

O que podemos esperar da programação de 2012?

JJ: Este ano vamos assumir o nosso papel enquanto plataforma artística capaz de estabelecer uma relação de proximidade entre artistas, promotores culturais, entidades institucionais, espaços e o público.
O objectivo é impulsionar parcerias e redes de suporte entre os vários agentes culturais numa lógica de desenvolvimento de criação artística, sustentável e autónoma, com potencialidades de gerar novas oportunidades económico-sociais e capaz de incrementar novas formas de pensamento, interpretação e dinamização. Em termos de programação, voltamos a ter a exposição colectiva com várias actividades paralelas e as intervenções artísticas no espaço público, que este ano vão saltar um pouco da parede, e invadir novos espaços e suportes alternativos. E não esquecer as que serão promovidas por outras associações culturais que contribuem para a plataforma artística walk&talk. Já temos datas definidas e já estamos a preparar tudo. Dentro em breve teremos mais notícias para partilhar!
http://walktalkazores.org/

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