Sentes-te mais vulnerável?
FS: Sim, é mais pessoal.
Mas, eu já vi um autorretrato pintado por ti.
FS: Tenho mais do que um até. Os autorretratos podem ser mais do que aquilo que imagino, mas até, em outros trabalhos em que a representação não sou eu própria dizem muito de mim.
Fala-me então do quadro da boneca.
FS: Este trabalho tem por base uma imagem que vi na internet. Um coleccionar colocou à venda uma boneca e por isso despiu-a para mostrar que o corpo estava intacto, há fotos das costas para ver a marca no pescoço. O ver aquelas imagens remeteu-me para a pedofilia, porque é uma boneca, com ar de criança, que tem colocado um colar de pérolas que normalmente é usado por mulheres adultas e ainda esta despida até a cintura. Tudo isso causa-me tal impacto, que decidi pinta-la. Ao expor esta obra pretendo retira-la do contexto em que a tinha visto e apesar de à primeira vista a tela parecer muito querida, fofinha, porque é uma boneca, ao longo do tempo é maquiavélica. Já várias pessoas me pediram para vender o quadro e coloca-lo no quarto de uma criança e eu nunca permiti. Aquilo não se coaduna em lado nenhum, nem numa sala. É terrível dizer isto sobre a pintura, é mau marketing, mas é verdade.
Então porque o expusestes?
FS: Deve ser exposto. Não deve é estar numa sala familiar, nem ser visto por crianças.
E a tua ultima criação, uma instalação, qual é o seu contexto?
FS: A peça que esta na galeria da Mouraria é uma lona pintada com dois metros que foi trabalhada tridimensionalmente. Vai ter uma forma e chama-se ”nhec-nhec”. Este termo surge de uma anedota que me contavam na infância. Acho interessante essa ideia de algo que se esta a tentar agarrar, mas não sabe o quê é. Decidi colocar ganchos, afiados, como os que existem no talho e de certa forma apanhei esse “nhec-nhec”. Tudo isto está dentro do foro artístico, que é estarmos à procura de algo que ainda ninguém viu, não se sabe se existe, mas há uma certeza: é de que vamos encontra-lo.
Qual é o percurso que pretendes fazer como artista plástica? Para além da tua actividade nos Mad e outros grupos culturais.
FS: A única que vejo e pretendo é estar a criar. Independentemente de ser muito complicado ou não de viver da actividade artística. É uma prioridade e não o vejo como algo que possa parar, vai sempre ter continuidade. Não importa que arranje outra forma de sustento. Qualquer coisa serve. Eu vou sempre fazer este trabalho.