Lucilina Freitas divide-se entre o ensino e a criação de universos tridimensionais que confundem o observador levando-o a questionar-se perante o objecto de arte. A sua intenção é argumentar e ir para além de visível sem nunca deturpar a essência da sua criação.
O que decidiste criar para esta exposição?
Lucilina Freitas: Decidi criar estes copos de licor, era uma peça que já utilizei diversas vezes, tem a ver com a minha formação de design. Não sou capaz de pegar numa garrafa e colocar elementos figurativos. Sempre gostei de peças mais limpas, mais clean.
Refletem a ilha de alguma forma?
LF: Não, é um conjunto de coisas que tenho cá dentro, que não sei onde vou buscar.
Mas, escolhestes um conjunto de copos que nos remetem para os regionalismos?
LF: Não pretendia seguir os regionalismos. Aproveitei os copos de licor e ofereço na embalagem uma receita de licor tin-tan-tun e de tangerina. É algo que aprecio muito, o toque do vidro, não pretendia pintar em cerâmica, pelo menos por enquanto ainda não. Pertence se calhar a um conjunto de memórias que temos dentro de nós e que deitámos cá para fora sem dar-nos de conta, contudo a intenção não era abordar a ilha e os seus costumes.
Qual é o teu material de eleição?
LF: O meu trabalho tem sempre um pouco das três componentes, pintura, escultura e a instalação. Fiz uma mesa que embora não o pareça é um exercício de pintura. É uma reflexão, é design ou é uma imagem pintada? Nos primeiros trabalhos que idealizei introduzi figuras para um conjunto de móveis. O que fiz? Tirei-os da tela e passei-os para as três dimensões.
O que escolhes primeiro o conceito ou passas de imediato para a instalação?
LF: O conceito. Se me derem um tema, eu desenvolvo a partir daí. Arranjo um fio condutor, um mote, o que se nota se calhar é que as peças acabam por estar relacionadas umas com as outras. Entretanto, não tenho trabalhado muito, tenho duas experiências de exposições individuais. Faço peças de arte isoladas, na maior parte dos casos. Mas, sempre que há uma proposta, eu desenvolvo dentro da minha linguagem, do meu mundo, daquilo que gosto.