
A obra de José Pinho reflecte uma conceptualização de dois binómios, o homem e o meio onde se insere. A humanidade e o planeta. Uma linguagem criativa que alia o conceito aos vários níveis da percepção, as suas várias dimensões e formatos.
Vives nesta ilha há já algum tempo. Esse aspecto tem influência na tua obra?
José Pinho: Não necessariamente. O meu processo conceptual não está ligado muito à ilha. Esta associado à urbanidade em geral, do que propriamente um espaço especifico.
Tens preferência pela cerâmica, o “antípodas” é disso um exemplo.
JP: Quando penso no mundo, tento fazer isso em termos gerais. Esse trabalho tinha um certo sentido etéreo. O facto de as caras parecerem espessas e aparentemente estarem a flutuar tinha a ver com o conceito de um totem dos índios que tinha sido desmembrado. Foi esse o ponto de partida, depois o ponto de chegada é a peça em si. Nunca me prendo a um objecto.
Então partes do conceito e depois é que crias é isso?
JP: Exactamente. O processo de criação e de produção tem uma palavra a dizer no desenvolvimento do conceito. Eu defino à partida, mas não tenho o final completamente definido. Há coisas conforme vais fazendo, sugerem outras e soluções que vão aparecendo melhores daquelas que ao princípio surgem na tua cabeça.
O que te inspira quando abordas um conceito?
JP: Um dos conceitos que mais me inspira permanentemente é a relação do homem com o seu meio. A sua ligação com o espaço e a distância que o homem actual tem em relação ao planeta. Quando tema é o urbano, remeto sempre a uma certa impessoalidade, ao facto de nos isolarmos na teia da cidade, no fundo de vivermos todos juntos e todos muito sozinhos. É sempre esta relação que influência meu ponto de partida. É um pensamento para seja o que for. Nunca estou preso totalmente a um tempo.
Reparei que te moves pelos vários tipos de suportes artísticos. Acaba por ser aleatória essa escolha?
JP: Não é aleatória. Normalmente depende do conceito e da circunstância. O sítio para onde vai. Não tenho um suporte ideal, a minha formação é escultura, mas hoje em dia este conceito artístico saí muito do campo académico em relação ao que era antigamente. Partes facilmente para a instalação, para a pintura para o desenho e para a fotografia. Tento usar o máximo de meios à minha disposição. Tento explorar sempre.
Nesta exposição utilitários que conceito desenvolveste?
JP: Nesta mostra havia uma obrigação que era a utilidade da peça e isso definiu-a em termos da sua tridimensionalidade. Neste momento estou a trabalhar muito em 3D. Tento abordar na escultura o interior e o exterior. A transparência está sempre presente no meu trabalho, tem a ver com as várias camadas de observação. Os vários níveis, aqueles que vês primeiro e aquilo que visualizas quando chegas mais perto. O que esta por detrás. A relação do homem com o seu meio e as várias dimensões da percepção. Não gosto de estar preso a um único conceito.
Ou seja, quando alguém olha para a tua obra, não pretendes que as pessoas a associem a José Pinho?
JP: Eu penso que isso acontece naturalmente. Há muita gente que chegou a esta exposição e disse que a peça tinha muito a ver comigo, porque já conhecem algumas coisas. É o resultado do processo criativo. Não é um objectivo meu, pode acontecer a posteriori. Tu sempre tens uma forma de desenhar, tens uma forma de representar e isso vai acabar por se reflectir nas coisas que fazes, mesmo que seja uma escultura em barro e a seguir um desenho. Ali, existem coisas que são tuas, são gestos que se vão repetir.
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