
A Ana e a Maria João são uma dupla de criativas que pretende incorporar diferentes tipos de abordagens e materiais nos objectos do seu quotidiano. O seu lema é “reutilizar, reduzir, reusar, renovar e reciclar” peças de mobiliário transformando-as, recuperando-as para ganharem uma nova vida.
O que as levou a apostar na transformação de móveis?
Maria João Pinto: Nós já nos conhecíamos antes de iniciar o projecto. Também já fazíamos isto nas peças de decoração das nossas casas. Muitas delas são decoradas e transformadas por nós. A Ana e eu estamos sem colocação e juntamo-nos para potenciar as nossas capacidades e lembramo-nos disto, coisas que já fazíamos as duas e queríamos por em práctica.
Reparei que apostam em várias temáticas para os móveis. Como é que surge a inspiração, olham para a peça e já sabem o que pretendem alterar, ou não?
Ana Santos Silva: Olhámos para a peça e vemos o que ela está querer dizer. As vezes surgem várias ideias, discutimo-las e decidimos em conjunto qual será a mais adequada para a peça. O Miró é um pintor que a Maria João gosta muito e então decidimos colocar desenhos dele no aparador. Eu gosto muito de Pollock que coloquei na cadeira e nos pés. É só preto e branco, mas são cores que aprecio muito.
MJP: Como somos professoras e sempre pesquisamos muito na área da arte, também estivemos as duas a leccionar expressão plástica tiramos muitas ideias de revistas, online, com os colegas e antes de começar um projecto lançámos ideias, muitas ideias.
ASS: Também pensámos nos vários materiais.
MJP: Usámos também técnicas diferentes, pesquisamos em lojas, com os artesãos e reunimos tudo num pequeno dossier mental e físico (mais pequeno!) e quando começamos tentamos adaptar em cada peça a imagem que nos surge. É o resultado dessa reunião de ideias. Nós sempre começamos as peças juntas.
Como é que conseguem os móveis? São as pessoas que trazem até o atelier para serem alterados, ou vocês vão à procura de peças antigas?
MJP: As duas. Alguns móveis estavam para ir para o lixo. Outras as pessoas estavam cansadas delas e trouxeram-nas para fazermos o que quiséssemos com elas.
ASS: Também fizemos uma espécie de angariação junto das nossas famílias, nos nossos sótãos. (risos)
MJP: Há peças que as pessoas trazem para serem alteradas, porque estão cansadas delas e nós também fazemos isso.
Mas, personalizam ao gosto do cliente ou também há uma troca de ideias com as pessoas?
MJP: Os que estão em exibição são ao nosso gosto. Mas, se a pessoa quiser transformar uma peça que tenha em casa, fazemo-lo ao gosto da pessoa. Se deixarem nos lançamos ideias até chegarmos a um consenso.
ASS: Vamos fazendo pequenas reuniões, porque quando nos chegam as pessoas com a peça, nos transmitimos as ideias que visualizamos para aquele móvel e também para eles perceberem o que gostariam de ver. As vezes querem as fotografias dos filhos, ou dizem-nos que gostam de um determinado pintor, ou ainda trazem o recorte de uma revista e nós tentámos adaptar as ideias do cliente e as nossas.
Vocês são responsáveis por todas as etapas do restauro?
ASS: Sim, até a carpintaria.
MJP: Já tivemos peças completamente partidas, outras tivemos que as desmontar para voltar a montar porque abanavam.
Qual foi a peça de mobiliário que deu mais trabalho?
ASS: A primeira cómoda que já não esta cá deu muito trabalho.
MJP: Era muito antiga e tinha umas gavetas muito complicadas de fechar. Como foi a primeira peça de mobiliário a pintura não estava a resultar bem, depois ocorreu um erro, tivemos de desfazer para voltar a fazer.
ASS: Esta foi especial porque acabou por ser a primeira conjugação de ideias. Correu muito bem, não tivemos nenhum conflito, temos sempre a mais ou menos a mesma visão para a peça de mobiliário e que há sempre um final feliz. Foi a primeira. Não há amor como o primeiro. (risos)
Quanto tempo demora todo o processo?
MJP: Limpar, secar e envernizar são cerca de três a quatro dias.
ASS: Nós iniciámos vários projectos ao mesmo tempo por causa do processo de secagem. Vamos alternando. Estamos neste momento a reorganizar tudo desde que abrimos a loja, porque no princípio era uma chuva de ideias e concretização. Era como a Maria João dizia, estávamos com fome de fazer coisas.
Qual o tipo de pessoas que procura os vossos serviços?
MJP: São os mais idosos.
ASS: Nós ao princípio achámos que seria um público mais jovem que aderia a este tipo de conceito, mas não. Temos pessoas que aparecem só para dar palpites, ou por curiosidade. Aparecem também para obter ideias, porque não sabem o que fazer a alguns dos móveis de casa. Até crianças entram na loja atraídas pelos brilhantes, ou pelos padrões mais coloridos.
Virar do avesso porquê?
MJP: Porque mudámos tudo do que era originalmente.
ASS: O nome demorou algum tempo, até pensámos nas “tralhas da minha avó”. A ideia surgiu quando a Ana estava a coser e lembrei-me da minha avó que dizia que se devia virar as golas das camisas para ficarem como novas e daí surgiu o nome "virar do avesso".
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