
Guida Ferraz é uma artista plástica que olha para sua obra como um percurso de depuração. Busca a simplicidade, através de uma outra linguagem, patente na sua interpretação artística. De procura pela verdade. Pelas águas do tempo ela enceta uma viagem, uma certa busca numa solidão errante até chegar a quem está do outro lado… até ti. Uma mostra patente na Galeria dos Prazeres.
Qual é a ideia subjacente desta exposição?
Guida Ferraz: Normalmente na minha obra uso a técnica mista. Estive parada durante algum tempo, mas antes usava mais óleo sobre a madeira e outros materiais. Colocava peças de vários objectos. Desta vez deu-me vontade de trabalhar o desenho. Aqui a técnica mista é usada na colagem com o papel vegetal e isso dá-me a hipótese de brincar com as transparências. O ocultar e deixar transparecer, mas não ver completamente. Acho que existem potencialidades.
As andorinhas?
GF: As andorinhas têm a ver com um percurso, uma certa procura. Todos os trabalhos estão baseados num soneto do Pablo Neruda, numa frase desse texto que diz: que solidão errante até chegar a ti. No fundo dá uma ideia de um percurso, de estar à procura de qualquer coisa.
É um percurso solitário?
GF: Sim, no fundo é uma busca pela verdade. Dum lugar no mundo, própria do estar, do amor no sentido geral. De estar bem consigo mesma e foi esse percurso que quis mostrar, através de uma outra linguagem. Daí as andorinhas, que também tem muito a ver com a minha infância. Nasci em África e lembro-me de as ter perto de casa, nos beirais. É uma ave que acho bonita e está ligada a ideia de natureza. Existe uma procura de uma certa simplicidade. Uma necessidade de caminhar para uma paz, deixar para atrás tudo o que é mais supérfulo.
África está sempre subjacente na sua obra?
GF: Directamente não. Surgiu por um acaso. Foi até um sítio onde havia andorinhas e a memória veio aquela recordação, mas aqui tento depurar e cada vez mais. Como uma necessidade de eu própria ir-me depurando.
Sente uma necessidade de contar uma história através das suas obras?
GF: Se calhar no fundo não é como contar uma história com princípio, meio e fim. É mais uma necessidade de ir depurando, de ir simplificando, até chegar a uma simplicidade.
Muitas das peças que elaborou são novas interpretações de quadros famosos, o que procurava com esses exercícios artísticos?
GF: Acho que no fundo procurei algo de muito gritante. Apesar de estar a “pegar” obras de outros artistas, é uma forma de expressão muito minha. Mas, nem sei às vezes, porque o faço.