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Labirinto de memória

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É uma exposição que mostra a visão única, pessoal e intransmissível de vários artistas plásticos madeirenses sobre os desastres naturais que abalaram à ilha e o impacto individual desses mesmos eventos na sua arte. Uma mostra colectiva, curada por José Zyberchema, que estará patente ao público até dia 17 de Novembro, na sala dos arcos, no edifício da reitoria da universidade da Madeira.

Como interpretou a palavra desastre para esta exposição em relação à sua obra?
Marcos Milewski: O que eu fiz foi um buraco de esgoto, é a representação de uma espécie de fonte dos desejos, em realidade é uma brincadeira, porque durante a inundação, os esgotos rebentaram, não aguentaram as águas que vinham da montanha. Então, pensei que o melhor era uma fonte dos desejos para que tudo possa melhorar. Criei uma fonte de esgoto com uma personagem, usando uma técnica experimental, que transmite uma imagem ligeira.
A tridimensionalidade é outra técnica que explora muito ultimamente.

MM: Sim, interessa-me muito. As sensações que despertam os espaços e as ilusões.

Porquê uma criança? É um símbolo?
MM: Sim, é a inocência, o futuro, o que há de bom.

 

 

 

Como é que um profissional encara estas situações catastróficas quer seja por parte da natureza, como por intervenção humana?
Octávio Passos: A experiência é um pouco complicada como deve de imaginar. Eu como profissional tenho servido de testemunha e é esse o meu papel. As minhas fotos são prova daquilo que acontece no terreno, quer seja por mão do homem, quer seja por causa natural. Tenho uma séria dificuldade em analisar estes incidentes, porque são focos que se iniciam à noite e não podem ter uma causa natural e as pessoas que os provocam deviam ser severamente penalizadas. Obviamente que é muito difícil saber quem inicia os fogos, a polícia judiciária tem um grande trabalho pela frente para tentar descobrir quem são estas pessoas. O meu trabalho é mostrar isso às pessoas, sou fotojornalista e o meu objectivo é mostrar o que acontece na minha terra.

Vamos falar sobre as imagens, fizeste uma sobreposição das fotos, num primeiro momento captaste a tragédia propriamente dita e depois temos o pós- acidente. Fostes a estes locais posteriormente?
OP: Exactamente. Nesta exposição fiz primeiro a fotografia do acontecimento, quando estava tudo a arder, posteriormente ao ver as imagens no computador fiz uma análise do que foi fotografado e tentei voltar ao terreno para as mesmos zonas de forma a obter uma imagem de como ficou esse espaço. O resultado é patente, é muito mau. Eu tento sempre colocar o lado humano na imagem, para demonstrar realmente as perdas, o que se passou.


Porquê decidiste colocar as fotos do incêndio a cores e o pós-fogo a preto e branco?
OP: Isso foi uma decisão também um pouco complicada. Como queria criar uma sequência de imagens, o antes e o depois, para destacar as fotografias decidi que o depois ficaria bem a preto e branco pelo dramatismo e porque sou um apaixonado por este tipo de imagens, o fogo e a acção ficou a cores para destacar os laranjas, os azuis, até porque o cenário é nocturno.

 
Como interpretaste a ideia para esta exposição?
Pedro Berenguer: Em primeiro lugar pensei na questão da casa, na perda do espaço íntimo, protector. Esse foi o ponto de partida. O confronto entre a intempérie e o lar, a grande visualidade da tempestade e depois a casa. Depois há uma série de imagens repetidas que são a imagem da casa, as flores de uma ilha tropical que se vende para fora e depois temos os habitantes, os locais, que perdem a sua habitação.


É uma história que estas a contar?
PB: Sim, através de um conjunto de 11 desenhos, em papel de aguarela, a técnica é a lápis de cor, com pintura acrílica em cima. Há incisões sobre o papel, cortes, costuras, decalques e bordados, porque me interessava trabalhar sobre este material de uma forma mais agressiva do que o habitual.


Porquê o vermelho?
PB: Para já confere-lhe mobilidade, é também uma tonalidade mais intensa, de ferida. O título destes trabalhos é "o lugar onde habita (va) o silêncio" é de uma obra de Rilke, que fala de um local protegido onde o silêncio habita, daí as citações que aparecem inseridas nas obras, e que aqui a intempérie quase que quebra.


O que inspirou a tua obra?
Trindade Vieira: Este trabalho foca essencialmente a erosão, foi inspirado na Rocha do Navio, e não quero colar esse título, porque não quero que as pessoas fiquem condicionadas por isso. É sobretudo uma referência aos ilhéus em torno da ilha e que surgiram por consequência de desastres naturais. Não foram bater de ânimo leve ao mar, é a erosão que existe na costa e não só que os fez surgir, desde o nascimento da ilha foi algo que foi sempre acontecendo. O outro aspecto que realço é a resiliência, é um trabalho sobre a esperança do dia seguinte, depois de uma catástrofe. A natureza já o faz de uma forma fantástica, ela renasce, pouco a pouco vai-se recompondo do caos, como as pessoas.

Fala-me das tonalidades que usastes.
TV: Foi algo muito simples, é acrílico sobre tela, o que usei desta vez é um pincel maior, é mais grosso e único. E faço a mistura de tintas separadamente, não há uma paleta de cores, depois uso uma trincha larga e faço um movimento é contínuo, se repararem faz ondas, no fundo é a costa que sai e vai de encontro ao mar. Onde gastei mais horas de trabalho foi no céu, é a minha referência à resiliência, exactamente o termos de levantar no dia seguinte e ganhar forças para renascer.


Mas, não é só isso que abordas, houve também um trabalho de parceria.
TV: Exactamente, eu convidei uma colega à Andreia Nóbrega, porque o pormenor da vegetação diria que é muito macro, eu não entro em pormenores. Como se trata do norte da ilha, onde há muita floresta, eu pensei que ela seria a pessoa ideal para fazer um complemento ao meu trabalho. Mostrar algo que a minha obra não foca, o pormenor da vegetação, dos arbustos e das veredas. É um trabalho de caneta sobre papel, minucioso e de várias horas.


Andreia Nóbrega: Tudo se iniciou com o Trindade e o tema foi a erosão, o espaço foi alvo de um estudo sobre a observação da natureza, e como após o caos ela renasce. É uma narrativa natural.


Fala-me da técnica que usaste.
AN: Parto de um ponto, o desenho é feito com vários tipos de caneta sobre papel. Vou iniciando a obra, através da observação de memória do espaço. Vou desenhando as plantas típicas, as canas vieiras, as bananeiras, etc.

 

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