
Nove mulheres. Nove artistas. Nove madeirenses juntas numa exposição, no centro cultural Anjos Teixeira, no Funchal, que visa realçar o papel importante que desempenham na evolução das sociedades e como dinamizadoras culturais, com o intuito de assinalar o dia internacional da mulher.
O que procurou abordar nestes dois trabalhos para esta exposição?
Alice Sousa: Com o título “em frente” sugere os nossos passos na vida. Tem várias explorações de materiais, mas a principal ideia é de que nos nossos reveses temos de estimular-nos. O outro trabalho reflecte uma natureza interiorizada, embora use elementos concretos. É uma das viagens culturais que fiz ao longo da vida, visitei o atelier do Cézanne onde estava um gato tigrado ao sabor das caricias das pessoas que passavam e lembrei-me que a minha avó, também tinha uma gata que fazia às vezes de cão. Esperava-nos no princípio da estrada, porque sabia que vínhamos à caminho de casa. Uma amiga minha, a Flor Campino que foi minha colega na escola e vive no Porto escreveu um poema que me era dirigido e ao meu irmão e que inseri nesta pintura. Sou feita de recordações e isso reflecte-se na minha obra.
Acha que é importante realizar este tipo de iniciativas, ainda faz sentido?
Irene Lucília: Acho que sim. É um pretexto para mostrar a arte que se faz na Madeira. Portanto, independentemente de ser a semana da mulher, este tipo de eventos sempre tem o seu lugar. Por um lado, os artistas manifestam-se e levam essa partilha até as pessoas. Por outro lado, estando a mulher subjacente a esta ideia, eu penso que alguns destes trabalhos têm essa relação direta com a temática. É uma preocupação de todas as artistas terem escolhido trabalhos que fossem mais próximos com esta efeméride.
Graça Berimbau: Escolhi estes dois quadros no sentido de comemorar o dia internacional da mulher. Eu já os tinha feito anteriormente, são retratos de mulheres artistas, que vivem e trabalham na ilha. É um projecto de pintura que tenho vindo a desenvolver há dois anos. Estes quadros já integraram uma exposição recentemente intitulado linha de partida. Achei que fazia sentido mostra-los, até porque são os retratos de duas artistas que também integram esta mostra, nomeadamente a Alice Sousa e a Teresa Jardim.

Teresa Jardim: O trabalho que trouxe para esta exposição não aborda a temática da mulher especificamente. Encontra-se de uma forma indireta, tem a ver com o trabalho que venho produzindo. Neste caso em concreto é acrílico sobre tela, onde a composição tem muitos padrões e alguns elementos que aplico provém do meu imaginário, o que penso e o que sinto. É uma interioridade que esta ali presente.
Viver numa ilha influencia essa temática?
TJ: Tudo influencia a nossa experiência quotidiana. O ar que respiramos, as pessoas que conhecemos e a profissão que temos. Tudo que somos é confluência, ou resultado, ou intersecta de tudo o que vivemos. O facto de viver numa ilha, que é opção minha, penso que também existe nas minhas obras. Há uma predominância de cores que creio que não existiriam se vivesse em outros locais. As minhas zonas de eleição são sempre junto ao mar, onde também avisto a montanha, onde tenho a noção de pequenez territorial e geográfica, porque não é uma ilha muito grande. Umas vezes estamos perto das pessoas, outras mais longe. As vezes também estamos perto das coisas que acontecem no mundo e noutras ocasiões estamos afastadas. Tudo isso influência e não tem nada de negativo. Devo retirar desta relação com a ilha, desta envolvência algo que seja importante para o meu quotidiano. Mesmo quando as coisas não correm bem, procuro sempre algo de positivo.