Que materiais são utilizados?
RV: Mais tecidos e mediante o que tem em mente. Muitas vezes o que acontece é que as pessoas não sabem muito bem o que querem, eu então faço mais ao meu gosto, ou aquilo que acho que vão gostar. Por norma, apreciam imenso. Nunca tive queixas. Depois também surgem encomendas dentro do género que coloco no portfolio, é mais fácil quando faço algo para mim e mostro. De qualquer forma, eu tenho o papel de encadernação, os laços, as peles, etc. Eu gosto de fazer tudo, mas prefiro os clássicos, o livro tradicional em pele com os cordões, os nervos, é a minha opção preferida.
Os livros miniaturas são os teus preferidos, são acessórios de moda.
RV: São mesmo livros, abrem e podem-se escrever neles. São cortados, cosidos e montados à mão.
Mas, são os que te dão mais trabalho.
RV: Sim, é verdade. (risos) Eu gosto da ideia de se poder usar e depois não é qualquer pessoa que usa no dia-a-dia um livro destes. Às vezes também faço agendas com capas do século XVII, a minha é assim, em pele.
Alguma vez tiveste um pedido muito invulgar?
RV: Sim, uma capa para Imac em forma de livro. Os materiais que usei são os que se usam na encadernação, a pele, o tecido de algodão, o enchimento artificial.
Existe algum destes trabalhos que te tenham marcado?
RV: Há trabalhos que vão ficando, que são feitos aos poucos. Houve um que gostei muito de fazer e, claro, quando acabo volta para o cliente, que foi um restauro de um livro de teologia do século XVIII, porque quando uma peça tem qualidade, feito em pele, muito bem encadernado de origem, tudo isso tem outro valor, outro encanto. Depois fiz uma caixa para o acondicionar, que é algo que também se faz em restauro, ajuda a proteger do pó, da luz, dos insectos e até da fricção ao tirar da prateleira. Como também se tratava de um livro com algum valor sentimental para o dono, fiz uma caixa rígida com a decoração idêntica ao original, com o dourado do título.
Vamos falar desta vertente da restauração, quem é te procura e o que por norma te pedem para restaurar?
RV: Chega um pouco de tudo, de todas as dimensões, feitios e temas. Particularmente recebo muitos livros dedicados a viagens à Madeira, porque cá muita gente coleciona esse tipo de publicações, nem que seja um livro com apenas um parágrafo, um capítulo, ou todo dedicado à ilha. Recebo os religiosos, os missais e também dicionários.
És mais procurada por instituições ou são mais privados?
RV: São pessoas com colecções, ou que nem sequer se consideram colecionadores, apenas possuem livros antigos em casa. Também restauro livros de 1950, depende do estado em que estiver. Para mim estes são recentes em comparação com os outros. Recebo muitas coisas, mas sempre de privados. Alguns deles, uma minoria, são bibliófilos, que tem uma grande colecção em casa e como possuem livros maravilhosos acabam por se tornar clientes fieis e dão-me trabalhos todos os dias.
Em média, quantos livros consegues restaurar, por exemplo, num mês?
RV: Depende muito. No último mês consegui restaurar sete livros, mas é muito boa média, porque os problemas eram mais ao nível do exterior, da lombada, da capa, nada assim por aí além. Se falámos de um livro com graves problemas no interior, é algo para um mês inteiro.
Que tipo de problemas?
RV: O caruncho, a formiga-branca, a humidade também. As manchas de água e lama, mas nem sempre se conseguem restaurar. Esse tipo de manchas acaba por criar uma série de microrganismos no papel e há tratamentos, mas existe livros que já não tem "cura". Cá nunca tive um "caso" desses, tudo tem sido recuperável.
Páginas com ilustrações consegues recuperar?
RV: É assim, eu recupero o papel, não consigo recuperar a composição por falta de informação na origem. Se obtiver essa informação, porque possuo uma cópia do livro, ou vejo uma imagem na internet, consigo repô-la. Se for texto é complicado, o que por norma um restaurador faz é recuperar o papel e no lugar fica uma mancha branca onde não tem nada. A recuperação nesses casos ajuda a manusear o livro, sem isso não era possível.