
É um trabalho em parceria a partir da letra A de Paul Valéry concebida pelos artistas António Barros e António Dantas. É o acto de escrever um livro numa linguagem e num formato diferente do que é comum. É o domínio do vizualismo com características morfológicas diferentes. É um entendimento da escrita na sua profunda actividade e visualidade. O espaço simboliza um livro, cada artigo revela a particularidade da identidade que é a Madeira e as suas características muito particulares no domínio da resiliência, da capacidade de inovar e recomeçar a cada momento, perante as adversidades que a natureza vai formulando. Começa com a palavra: “Ao princípio será o sono, animal profundamente adormecido. Morna e tranquila massa misteriosamente isolada, arca fechada e cheia de vida que transportas para o dia a minha história e o meu possível. Ignoras-me e conservas-me. És a minha permanência inexprimível. O teu tesouro é o meu segredo. Silencio, meu silêncio. Ausência, minha ausência...".
Que são estas electrografias?
António Barros: Só os trabalhos do António Dantas são electrografias. Os meus artigos afirmam-se em "obgestos", peças recentes,criadas a partir de 2010. É sobre a tragédia que ocorreu na Madeira e traduz-se o texto da obra "al(a)ma" . As gravatas (inscritas em insulae) são um elemento iconográfico que tenho explorado ao longo do meu percurso de poesia experimental. Também possuo outros elementos do traje, da roupa e dos contributos que são trabalhados para o revestimento da pessoa. A poesia afirma-se através desses elementos de comunicação.
A cor faz parte desta visão?
AB: Trabalho estas duas não cores(branco-somatório de todas as cores versus ausência de cor) que exploro dentro de um território de identidade. O meu trabalho é fundamentalmente, assim, como do António Dantas, dentro da relação preto e branco.
Daí a ínsula, porquê?
AB: É uma ilha, em termos originários e dentro da cultura romana são as vivências mais populares. É um elogio às minhas raízes e uma reflexão aos lugares de vivenciação que acabam sempre por existir na ínsula, que é uma ilha dentro do arquipélago e a Madeira é uma delas. Eu vivo em Coimbra que acaba por ser ter uma estrutura de insula, ela pode estar rodeada de mar, mas também pode estar circundada por terra. É um conceito.
É um processo interior?
AB: Toda a narrativa artística é um processo interior independentemente da narrativa que explora.

A narrativa deste livro é a ilha.
António Dantas: Sim, fundamentalmente este espaço é o lugar- livro. Tanto o António Barros como eu somos artistas visuais, somos importantes nessa área.
Então há capítulos?
AD: Não se podem chamar de capítulos, são um texto que introduzimos. A leitura é a interpretação que as pessoas podem fazer, deixámos a mensagem em aberto, como os textos e a poesia também tem. A ilha está presente. Nós somos ambos da Madeira.
É o seu autorretrato?
AD: Digamos que é um personagem. Isto é um processo narrativo performativo, é uma imagem com uma sequência, com uma determinada escala. É um trabalho único, aberto a interpretação, através da gestualidade, já que eu e o António Barros estamos também ligados a performance. São sobreposições que tiram partido das cores, o preto, o branco e os cinzas que podem surgir através das sombras, ou justaposições do meu trabalho. Esta identidade permitiu que pudéssemos fazer esta exposição em conjunto. É um trabalho muito coerente nessa área, nessa expressão em que o preto e branco é muito forte. Para além dessa vertente experimental, há um fio condutor em que ilha aparece, há o texto, o livro que no fundo é o lugar, o sentido desta exposição. Partimos de um texto do Paul Valéry, que é o Alfabeto, que é a letra A, que é a primeira. Temos ambos o nome começado pela letra A, mas o meu texto reflecte às minhas preocupações. Cada artista tem a sua linguagem e a sua independência.