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O amor é lindo...e dá ideias

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Os imperfeitos surgiram um dia espontaneamente e transformaram-se num fenómeno de popularidade. São bonecos que ganham as características das pessoas que os possuem, uma inovação do atelier inelo de dois jovens designers portugueses que apostam na diferença aliada a uma certa artesanalidade.

Como é que a dupla inelo começou? Já que é a junção dos vossos nomes.
Inês Freitas: Somos namorados e os dois designers. Ele trabalhava num atelier e eu noutro. Mas, decidimos juntar-nos num só.

Juntaram-se porque tinhas ideias e conceitos muito similares é isso?
IF: Sim.
Gonçalo Martins: Em termos de design gráfico tínhamos um gosto idêntico.

Conheceram-se na faculdade é isso?
GM: Não, temos ainda uma pequena diferença de idade.
IF: Eu ainda estudava quando o conheci. Ele já era designer. Foi através da fotografia que nos conhecemos, por gostar do trabalho um do outro.
GM: Tínhamos ambos uma mini galeria no site "olhares" e começámos a comentar as imagens um do outro. E acabámos por conhecer-nos. (risos)
IF: Como apreciávamos o mesmo tipo de fotos, houve um dia em que tinha que fazer um trabalho fora de horas e ele ajudou e aí chegámos a conclusão que os dois fazíamos uma excelente equipa. Funcionávamos bastante bem.

Então como é que aparecem os imperfeitos?
IF: Foi a partir de projectos que inventávamos, não era para ninguém em especial. Surgiram dessa brincadeira. Eu sempre gostei de costura. E uma vez o Gonçalo fez um boneco gráfico e lembrei-me de passa-lo para o real, os dois vimos que o resultado era engraçado e as pessoas começaram a comentar, porque não os comercializávamos.
GM: Ao princípio foi só uma ideia que estávamos a extravasar em casa e depois começámos a encara-la do ponto de vista comercial. A nossa ideia nunca foi criar um negócio em torno disso.
IF: Depois as pessoas começaram a pedir um boneco e daí à personalização foi um passo, porque fazer um igual para todos pode-se comprar numa loja. Queríamos fazer algo mais original e fora do normal e o que começámos a fazer é que quando recebíamos uma encomenda personalizamos à imagem da pessoa.

 


Tem agora vários imperfeitos. Mas, são objectos únicos ou fazem colecções?
G: Ao princípio pensámos em fazer um ou dois de cada. Um número limitado. Depois o que aconteceu é que começámos a ter mais pedidos personalizados. O que acontece? Como colocámos no boneco as características da pessoa acaba por ser único e fica assim.
IF: Até porque nós não comprámos tecido, reaproveitámos diversos materiais.
GM: O que faz com que nunca fiquem iguais.
IF: Por isso, começámos a verificar que não iam resultar em colecções. As pessoas acabam por nunca ter aquele boneco, porque já não teríamos esse mesmo tecido e acaba por ser outro. Nunca seria igual. Temos clientes que no site nos pedem como o que vêm, mas temos de dizer-lhes que o modelo pode ser esse, mas não será o mesmo.
GM: sim, mas a grande maioria, 95% pedem os personalizados.
IF: sim é raríssimo pedirem o mesmo modelo. Neste momento nem temos stock. O que nos pedem fazemos.

 

Então como é que personalizam o imperfeito? Como é que captam a essência das pessoas? O que perguntam, ou pedem, são fotos?
GM: No princípio como era só uma ideia que fomos testando. Foi mais tentativa e erro. Pedíamos as pessoas para mandarem um pequeno texto sobre elas onde diziam: sou louro, sou baixo, sou criativo e depois todas estas características tornam-se complicadas de passar para o boneco. Depois numa segunda fase, pedíamos na mesma isso as pessoas, as suas características, mas depois acrescentámos a fotografia e isso é a base do trabalho. O que nos ajuda mesmo.
IF: Depois agradecemos que a pessoa fale um pouco sobre a sua personalidade, que tipo de roupa usa, para que o boneco fique o mais próximo possível.
Quando o imperfeito é para oferecer e não para a pessoa que encomenda, como é que o processo é posto em marcha?
IF: A maior parte é para oferecer. É raro pedirem para elas próprias. Normalmente para alguém que faz anos, ou são namorados. Até porque nós somos muito à favor do amor (risos). Tenho uma campanha para casais. Temos encomendas famílias.
GM: Às vezes pedem um imperfeito maior, mas onde estão todos os elementos que querem transmitir.

Quem são essas pessoas imperfeitas? Conseguem identificar já esse público?
IF: Eu sinceramente, não.
GM: Não, porque temos um pouco de tudo. Ao princípio pensámos que as pessoas da nossa área iam aderir mais, mas verificámos que temos pedidos de jovens, pessoas mais velhas de diferentes áreas. É sempre variável.
IF: O que nos surpreendeu, pensamos ao principio que só as pessoas da nossa área perceberiam o trabalho que isto dá, mas não. Os clientes interessam-se muito e querem oferecer um boneco personalizado.

Quanto tempo demora para fazer um imperfeito?
IF: Demora cerca de 4 a 5 dias, mas aplica-se o mesmo tempo quando são dois bonecos, porque o processo acaba por ser juntar. As pessoas fornecem a informação, nos criámos o imperfeito digitalmente e depois escolhemos os tecidos numa caixa de retalho que temos ao nosso dispor. As pessoas também nos vão dando e reaproveitámos tudo, depois escolhemos o que se adequa com o que a pessoa nos enviou e depois passámos a costura.
Mostram o desenho antes a pessoa ou só apresentam a versão final do vosso imperfeito ao cliente?
GM: Não mostrámos antes, porque gostámos do efeito surpresa.
IF: Até porque nunca sai igual ao desenho, é apenas uma visão. Geralmente não querem ver, às vezes pedem para ver o desenho quando a encomenda é uma família e para não serem surpreendidos pela negativa.

Quando as pessoas fazem a encomenda dos bonecos escolhem-nos por serem imperfeitos? Porque não são bonitinhos, tem um ar inacabado.
GM: Acho que existem dois motivos. Um deles é esse mesmo, o de se identificarem com o conceito de seres imperfeitos. O outro é por serem personalizados. Peças únicas.
Vocês têm uma série de imperfeitos para venda. Agora já pensaram o que podem extrapolar a partir daqui?
IF: Estamos sempre a magicar. Mas, o tempo não ajuda.
GM: Temos imensas ideias e parcerias com outras pessoas.
IF: Gostávamos de fazer um imperfeito em tamanho real. E depois não temos os nossos próprios imperfeitos, o que não faz sentido (risos). Ideias não faltam. Gostámos do conceito de juntar o design com o artesanato. Quando desenvolvemos projectos de design com os nossos clientes e pensámos sempre em desenvolver a manualidade de um trabalho. Apreciámos esse factor bastante e os imperfeitos são o resultado perfeito dessa junção.

Como é que dois jovens designers que fundaram um atelier próprio encaram o futuro em Portugal?
IF: Sinceramente, no nosso caso foi bastante natural. Temos os nossos trabalhos em paralelo. Isto acaba por ser um hobby para os dois. Agora é a sério, no meu caso é a tempo inteiro, o Gonçalo ainda vai estando no atelier. Lá esta é muito engraçado, contudo existe um facto determinante, neste momento temos muito trabalho, mas nunca se sabe... convém um de nós estar num outro lado, neste caso é o Gonçalo.
GM: Não pensámos muito nisso.
IF: Não colocamos muito peso nessa decisão.
GM: Não fazemos planos em médio e longo prazo. Vamos andando todos os dias. De um ano a esta parte temos tido sempre trabalho com os imperfeitos e não nos podemos queixar. Claro, que a situação do país é bastante má e podia estar melhor.
IF: Isso preocupa-nos.
GM: Mas, não podemos queixar-nos como outras pessoas de nossa área, que nunca tiveram sequer uma primeira oportunidade. É uma mais-valia, porque começámos com isto antes da crise e assim conseguimos angariar alguns clientes.

Os imperfeitos é só ao nível nacional ou já deram o salto para o estrangeiro?
IF: Ainda não fizemos nada por dar esse salto.
GM: Temos encomendas do estrangeiro.
IF: Já tivemos pedidos individuais, mas não mandámos encomendas para fora.
GM: Traçámos um objectivo, começámos por Portugal e pela nossa língua.
IF: Somos só os dois e gostámos que seja aqui em casa.
GM: Gostamos da ideia de pequeno e caseiro, porque ao expandi-lo torna-se maior e perde-se.
IF: Passa tudo pelas nossas mãos.
GM: É mais controlável, mesmo em termos do momento de crise que vivemos.

Quais são os objectivos do inelo?
GM: O objectivo principal é manter os clientes que já temos e ir alargando essa lista.
IF: Sempre os dois.
GM: Projectos inovadores e aliciantes, porque há sempre aqueles mais normais e um pouco mais chatos e temos tido trabalhos com uma componente muito interessante.
IF: Acontece já algo engraçado é que as pessoas vêm ter connosco, porque identificam-se com a nossa imagem. À partida fazemos o que gostámos e o cliente confia em nós. Até agora esta a correr tudo muito bem.

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