Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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O caminheiro fotógrafo

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Duarte Belo já percorreu milhares de quilómetros com o intuito de captar Portugal. É um fotográfo que possui um portefólio com mais de um milhão de imagens, desde o Minho mais profundo, ao Alentejo mais esquecido até as ilhas perdidas no meio Atlântico, que visa mostrar o que ainda há por descobrir de extraordinário no nosso país.

Como definirias a tua fotografia?
Duarte Belo: A minha fotografia é sobretudo de paisagens e de arquitectura. Tem mais uma vertente documental do que artística, se bem que a fotografia não deixa de ser interpretação.

É a fotografia ainda um mistério ou não?
DB: Eu penso que sim, isso vai ser sempre porque é o próprio mistério da vida que a fotografia nos relata, nos mostra.

A escolha dos temas que fotografas recai sobretudo nas paisagens e na arquictetura por causa da tua formação em arquitectura? E não falo apenas da fotografia de monumentos, na nas tuas imagens há uma busca pelas linhas e pelo enquandramento.
DB: É sem dúvida nenhuma. Eu já fazia fotografia antes de fazer arquitectura e depois com o estudo aprofundei muito mais a minha sensibilidade para a questão das formas e da paisagem.

Então como é que te diferencias? Como olhas para um monumento para seres diferente de outros fotográfos?
MB: Isso se calhar não sou a melhor pessoa para responder, mas acho que todos os fotográfos procuram pontos de vista inovadores, da forma como se fotografa um plano, como procurar situações de luminosidade que sejam pouco habituais, à noite, com uma luz artificial, ou com diversas formas que mostrem a singularidade do monumento e a nossa forma de interpretar.

 

 

 

Tu também trazes essa mesma bagagem para as paisagens?
MB: Sim sem dúvida nenhuma. Procuro mais as paisagens sobre Portugal, tento mostrar a sua grande diversidade e situações de povoamento urbano que existem. Acho que são extraordinárias e que acho que muito poucos fotográfos dão atenção a isso.

Qual dos projectos que encetaste, aliás, tens muitas temáticas sobre Portugal, qual foi o que deu mais prazer?
DB: Eles todos dão-me bastante prazer, depois acabam por se tornar penosos porque nunca mais acabam, que foi o caso de "Portugal património", que saiu em 10 volumes no círculo de leitores, mas talvez me deu o mais prazer e talvez por ser o primeiro e muito por ser um grande volta à Portugal, foi o "sabor da terra". Foi um projecto todo a preto e branco e em película, com trabalho de campo entre 1995 e 1997 e deu-me um enorme gozo, porque foi a descoberta de um país, tinha muitos lugares que não conhecia. Depois no "Portugal património" voltei a dar uma grande volta, ainda maior, foram 4 anos de trabalho de campo e continuei com a sensação que o nosso país é imenso e com muito que descobrir. Se quando acabei o "sabor da terra" achei que conhecia Portugal, então quando terminei "Portugal património" dúvidei que o conhecesse, a sua diversidade é muito grande.

Quando pensas na fotografia ela surge naturalmente? Sei que fazes muitas caminhadas e nesses percursos encontras logo esses olhares? Ou és mais meticuloso? E procuras primeiro esses pontos antes de fotografar?
MB: Não, eu vou a caminhar e a fotografar ao mesmo tempo, não sou de estar numa determinada situação e ficar à espera de luz, ou usar o tripé para um determinado tipo de imagem. Para mim a fotografia tem um caractér documental muito vincado, que é diferente da pintura em que a pessoa fica à frente do seu cavalete. Eu gosto mais da fotografia em movimento, ir fotografando ao longo de um percurso, eu chego a fazer mais de 1500 imagens num dia. Não tenho um local fixo, mas fotografo várias coisas que me chamam à atenção.

Consideraste um profissional da fotografia ou um fotográfo artista?
DB: As duas coisas não são incompatíveis, mas eu considero-me mais um documentalista do que um artista. Se bem que, em determinados nível é difícil separar essas duas vertentes de olhar fotográfico, porque há muitas vezes o documetalismo na fotografia que tem um caractér muito forte e depois há outras vertentes, mais à margem, de fotografia contemporânea que explora outros ramos, mas eu considero-me herdeiro da longa tradição da fotografia e acho que a documental e artística se contaminam mutuamente apartir de um certo ponto.

Então o que ainda falta por descobrir na fotografia documental que é onde te gostas de inserir?
DB: Eu acho que fotografia documental, nesta era digital, tem ainda muito para dar. Antes na fotografia analógica, nós tínhamos muito que pensar antes de tirar uma foto, agora temos mais possibilidades sem essa preocupação que tinha com a película. Cada fotografia que tirava no passado tinha um certo custo e agora sente-se muito menos, obviamente que se continua a ter um custo, mas é menor. Depois há uma série de dispositivos novos, os telemóveis, por exemplo, que nos permitem fazer fotografia e em situações que nunca nos passaria pela cabeça e tudo é mais acessível. O mundo hoje em dia é mais fotografável que há 10 anos, o grande desafio da fotografia é mostrar coisas novas que nunca tenham sido vistas, de forma diferente, tanto da condição humana, como das próprias paisagens que tem pouca intervenção humana.

Agora estas debruçado num novo trabalho?
MB: Tenho um projecto é o "horizonte Portugal" e que visa disponibilizar online o meu arquivo de fotografias que tem cerca de um milhão de imagens. Não irei publicar por datas, mas uma parte muito significativa por onde passei. Eu, por exemplo, estive em quase todas as 4 mil freguesias que havia antes desta reforma administrativa, no fundo tinha fotografado mais de 10 mil lugares, ou aldeias, vilas e cidades.

Então no meio de tantas fotografias qual é o critério de escolha?
DB: O critério muitas vezes é geográfico, tenho de tomar notas quando ando em trabalho de campo, isso é fundamental, porque são muitas coisas e depois tenho de ter um arquivo muito bem organizado para saber onde esta a fotografia e esta tudo datado. Depois em função do que me é pedido numa determinada região sobre a qual estou a trabalhar, vou pesquisar no meu arquivo esses lugares.

Pretendes disponibilizar esses trabalhos online porque há muito pouco sobre este assunto?
DB: Eu acho que é uma mais-valia para o conhecimento do nosso país. Eu tenho firme convicção e não tenho dúvidas sobre isso, que muitos poucos portugueses conhecem bem o seu território e tenho feito várias apresentações e palestras e a reacção das pessoas é de espanto, como é que existem estes lugares em Portugal e nós ainda não conhecemos? Acho que o nosso país, neste momento de crise em que vivemos, tem um enorme potencial, ou pode vir a ter, sobre a paisagem, a arquitectura dos lugares e o seu valor em termos turísticos e culturais tem especialmente um grande potencial económico e a classe política em Portugal não a valoriza minimamente, há outros países que estão mais desenvolvidos sob esse ponto de vista.

Quando pretendes ter isso tudo online?
DB: Existe já online o horizonteportugal.org, que é ainda uma manifestação de intenções que espero muito em breve estar completo de lugares bastante alargado. Vamos ver se consigo, estou a trabalhar com dois informáticos nesse sentido.

Existe alguma parte de Portugal, por mais pequena que seja, que não foi alvo dos teus olhares?
DB: Isso há, eu tenho uma lista de lugares a fotografar, onde escrevo apontamentos. São lugares muitos pequenos, mas que são extremamente interessantes, alguns foram alterados pela passagem do tempo, como é óbvio. Isto nunca para este trabalho sobre Portugal.

Mas, descobres essas localidades como? Numa pesquisa vais descobrindo sítios novos, ou vais a mapas, ou alguém te sugere um local?
DB: É isso tudo, muitas vezes é um amigo que diz para ir até um determinado sítio, outras vezes nas minhas pesquisas na internet encontro fotografias de lugares que não conheço, outras ainda, não consigo localizar o lugar, não sei bem onde se localizam e consigo através da internet dar com eles, depois faço as pesquisas bibliográficas, por vezes, em livros de geologia que é algo improvável para encontrar lugares, mas encontram-se referências geográficas muito interessantes, sobre rochas e solos que valem a pena visitar.

http://duartebelo.com/
http://www.horizonteportugal.org/

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