Os desenhos do Bruno é um projecto que surgiu por necessidade, mas que resulta de uma paixão pelo cartoon de Bruno Prates. Uma iniciativa que não se limita as caricaturas, mas que se estende aos mais jovens, através de um projecto no pré-escolar que pretende promover a criatividade, através desta forma de arte e no futuro uma academia do desenho para todos.
O que te levou a este projecto do Bruno e das suas caricaturas?
Bruno Prates: Este projecto de certa forma começa na infância, quando o meu pai me incentivava a desenhar num caderno o tio patinhas, ou o zé carioca, era assim que passávamos o tempo. Depois comecei a criar os meus próprios bonecos com a cabeça de um desenho animado, os pés e braços de outros, porque achava que era mais importante do que copiar os originais. Como treinava muito, comecei a ouvir que até desenhava bem e em 1997 experimentei enviar para um jornal de Alcobaça uns desenhos em tom mais crítico, a chamada tira humorística, o director gostou, publicou e aí começou à minha experiência em termos de imprensa. Por outro lado, também tinha o hábito de fazer desenhos para oferecer aos meus amigos, ou familiares numa festa de casamento, ou de aniversário e as pessoas começaram a encorajar-me a cobrar pelos desenhos, mas não o fazia, porque sou professor de educação visual e tecnológica desde 2003, se a minha profissão fosse desenhar cobrava dinheiro, mas eu faço isto por prazer. Em 2013 o Ministério de Educação entendeu que já não havia a necessidade de ter dois docentes por sala e passou apenas a ter um e muitos de nós professores dessa área ficámos desempregados e eu tive de arranjar uma alternativa à escola e das muitas coisas que podia fazer lembrei-me que as caricaturas era a única que dominava e comecei a publicar os meus trabalhos nas redes sociais e a receber encomendas.
Tu tens um personagem principal nas tuas caricaturas ou são apenas resultado das fotos que te enviam?
BP: São dois conceitos diferentes, eu tenho o cartoon por encomenda, em que as pessoas enviam a fotografia e eu faço o desenho e depois tenho a tira humorística para imprensa que faço desde sempre onde tenho uma personagem principal que é o Zé Povinho, é um desenho que nos representa a todos inspirado em Bordalo Pinheiro e essa sim é a minha personagem habitual.
Quando desenhas o cartoon por encomenda para além da foto, tu pedes um resumo da personalidade da pessoa que vais caricaturar ou nem por isso?
BP: Por norma peço a fotografia e um tema em que queiram ver a pessoa representada. Se for algo muito elaborado aumenta o preço, é consoante a complexidade do trabalho. Regra geral as pessoas dizem-me os gostos musicais dos visados para eu desenhar algo que tenha a ver com a música, ou se apreciam os computadores para ter um elemento associado à informática, ou as novas tecnológias. Por exemplo, há crianças que sonham ser astronautas, eu desenha-os dessa forma. Existem características que questiono ao cliente, se for apenas uma caricatura eu faço-a no estilo cómico e divertido que me caracteriza, se for uma empresa a fazer um pedido aí sim peço o “retrato” das várias personalidades, ou pessoas a representar. As caricaturas para as empresas é um projecto mais recente e menos consistente, nesse caso faço um cartoon baseado no que os colegas de trabalho reparam na pessoa visada, qual a ideia que tem dele.
Quais são as pessoas que te pedem cartoons? Já tens ideia de um cliente-alvo?
BP: Sim, já. Os desenhos do Bruno existem desde 2013 e nestes 3 anos de existência já consigo fazer essa classificação, maioritariamente são mulheres, entre uma faixa etária entre os 25 e 45 anos são as que me contratam, porquê? Não sei bem, elas pedem-me muitas caricaturas de crianças, dos maridos ou dos namorados para oferecer. Os homens são mais recatados ou desconfiados, também pedem, mas é mais ao nível empresarial. Nota-se isso particularmente no dia do pai, quando se aproxima da data tenho muitas encomendas, quando é o dia da mãe, quase não tenho pedidos.
Desvenda um pouco o que pretendes a longo-prazo que sejam os “desenhos do Bruno”?
BP: Como sou professor e dou formação tenho um projecto com o pré-escolar que tem como objectivo o desenvolvimento da criatividade a partir do cartoon. Este é um trabalho que pretendo desenvolver com as idades mais precoces e que já existe. Comecei o ano passado a apresentar a ideia e este ano já consegui implementá-lo em parceria com à Câmara Municipal das Caldas da Rainha. Outro dos objectivos é ir até as escolas abordar esta temática da caricatura, de explicar como dá para viver do desenho, depende da maneira como trabalhámos. A médio e longo-prazo que é para isso que estou a trabalhar, pretendo ajudar a criar uma academia do desenho na vertente cartoon e não tanto a expressão plástica, isto porque eu tenho muitas solicitações de workshops para adultos e por vezes não é fácil porque não tenho disponibilidade para tudo. Gostaria de disponibilizar uma academia onde se pudesse desenvolver este tipo de competências no desenho.
Já tiveste algum pedido de uma caricatura um tanto quanto estranha ou inusual?
BP: Tenho uma ou outra cliente que me pede para favorecer determinadas partes do corpo, falo dos genitais e essas situações deixa-me um tanto quanto embaraçado, embora seja tudo via internet e eu tenho manter ao máximo um certo distanciamento e respeito que é para não haver confusões. Depois tenho clientes muito bonitas e tento passar a mensagem que provavelmente vai ser difícil transpor isso para o desenho, porque é uma caricatura divertida.
Então é sempre dessa forma que são feitas as encomendas? Via internet? Nunca te encontras fisicamente com a pessoa para fazer um cartoon?
BP: Não, há poucas situações dessas, porque a caricatura é muito simplificada. É um desenho rápido, que não carece de uma análise in loco, através da fotografia consigo fazer o desenho, embora haja clientes que tenham essa ideia, mas eu explico sempre o processo, que é simples porque permite-me trabalhar a hora que eu quiser, vou gerindo o meu tempo de forma eficiente e consigo trabalhar desta forma.
Quanto tempo em média demoras para fazer uma caricatura?
BP: Primeiro, leio tudo o que as pessoas escrevem sobre a pessoa, desenho logo a caricatura numa folha a lápis, digitalizo, a seguir faço o vector no computador e pinto, no final mando aplicar em t-shirt, ou em canecas, ou molduras, mas também faço pinturas em paredes, por média demoro duas horas quando é uma pessoa. Continuo a desenhar a lápis para não perder essa hábito do desenho, gosto de desenhar e também porque a parte da digitalização é a mais aborrecida do trabalho. Passo o cartoon para o vector para se tornar mais fácil à sua aplicação noutros materiais. Quando faço o desenho envio uma prova para o cliente aprovar, se for aprovado de imediato fica tudo resolvido em duas horas, mas se não responder logo, ou for necessário alterar alguma coisa, que acontece algumas vezes, um trabalho pode demorar mais tempo. Existe também esta questão, a pessoa envia-me uma fotografia de que gostam muito e não uma mais fiel das suas feições, eu desenho a partir dessa imagem, depois a pessoa diz que não se parece com ela, porquê? Para aí o desenho é meu e +e a minha visão daquela pessoa, não reproduzo apenas o que elas querem, embora nem toda a gente seja fácil reproduzir.
O que torna uma pessoa mais difícil de desenhar que outras?
BP: É ser o mais normal possível. Se não tiver uma característica física que o realce como o nariz, os dentes, as orelhas, os olhos ou o cabelo, torna-se mais difícil porque é um rosto comum e tens de andar à procura de algo para não ficar igual a fotografia.(risos).