Nuno Moreira iniciou uma carreira solo através de um projeto em nome próprio, o NM estúdio, em 2007, que é especializado em Direção de Arte, Fotografia e Livro / CD de Design. Suas referências visuais são diversas e vêm de diferentes áreas de seu interesse pessoal, como o cinema, a música, a pintura ou a arquitetura.
O seu trabalho fotográfico tem como foco o detalhe e textura, trazendo uma atmosfera particular e uma narrativa visual para cada projeto. Actualmente reside em Tóquio, no Japão, onde promove o seu trabalho em torno dos países asiáticos e planeja futuros projetos e exposições.
O que procuras na fotografia?
Nuno Moreira: Eu não faço da minha vida a fotografia. É mais uma forma de expressão, do que tentar agradar alguém ou ter um próposito definido, tem a ver com cada projecto, mas que acabam por estar interligados. Portanto, é uma forma de expressão própria e individual na qual me consigo refugiar para pesquisar algumas questões que me interessam.
Então em que se distingue o teu olhar dos outros fotógrafos que conheces?
NM: Eu não sei se me cabe a mim responder, porque eu obviamente vejo fotografia, mas não é algo que compare com o meu trabalho, provavelmente o que me interessa mais explorar não tem muito a ver com fotografia, mas tem mais a ver com estados emocionais e interiores que algo intrínseco de nós enquanto humanos, não sei se tem muito a ver com fotogradfia em si, ou se tem muito a ver com essa questão de estar a comparar, o que distingue o meu trabalho de outros fotógrafos. É uma pesquisa por algo visual, pelo interior. Este último trabalho que fiz tem a ver com estados, de olhar para o outro, de pessoas, o movimento enquanto viagem, levantar questões primeiro porque gostode observar os outros, sou um observador nato e gosto de perceber não só o que estou a pensar, mas os que outros pensam, é óbvio que são meras possibilidades sobre o que esta a acontecer as pessoas. Mas, foi isso que me levou por exemplo ao ultimo trabalho, embora já esteja a pensar em outro, mas tem sempre uma pesquisa por algo.
Ainda bem que focaste o teu último trabalho, são estados de alma que simbolizam reflexão, como é que abordastes essas diferentes culturas, qual foi a linha comum para todas aquelas imagens?
NM: Primeiro foi surpreendente descobrir que essas imagens já me acompanhavam há tanto tempo. Foi algo que não foi consciente, eu saí à procura de imagens, elas foram aparecendo enquanto viajava por diferentes motivos, quer pessoais, quer em termos profissionais porque trabalho como artista gráfico, foi sempre tirando fotografias, vou-me servindo deste meio para alicerce de outras questões, mas este projecto só avançou depois de ter vindo viver para o Japão e ter organizado os meu arquivos, percebi que havia um género de um padrão, de uma linha visual que tinha a ver com pessoas isoladas num determinado ambiente citadino, ou urbano, ou com pessoas com quem me cruzava, algumas conhecidas, outras desconhecidas e tinha sempre ver com esse momento entre o tempo, de um intervalo, de sonhar acordado, perdida num pensamento ou a sonhar acordado e quando se esta sozinho isso é mais propício de acontecer, porque não somos interrompidos. E eu reparei que tinha muitas imagens que de alguma maneira eu me sentia atraído, porque eu clicava, olhava para elas. Era algo de que não me tinha apercebido, mas que só tem a ver com isso, esse momento individual.
Não achas que isso acontece, porque tu mesmo te inseres nesse tipo de situação? Vivestes em vários países e agora estas no Japão, inserido numa cultura completamente diferente da europeia, é como se estivesses só e isolado, dentro de uma multidão que não te compreende.
NM: De alguma maneira sim, mas principalmente não por uma questão de incompreensão, mas por gostar de viajar sozinho, de ser um momento que tiro para me questionar e resolver em termos pessoais ou de trabalho, no fundo limpar a cabeça, sem dúvida que sim, que estou mais propenso a olhar em meu redor e ver esses espelhos nas outras pessoas e diferentes situações.
Mostraste em várias exposições pelo mundo as imagens do "states of mind" há diferenças entre o olhar de um europeu e de um asiático? Ou nem por isso?
NM: Eu acho que sim, eu reparo que as imagens são muito abertas e ambiguas, porque a pessoa quando esta a olhar para elas a criar uma história, normalmente num contexto de exposição, ou galeria, ou que mostro o meu trabalho de forma pública, ou a pessoas mais chegadas, noto que analizam a imagem e constroem uma história em torno delas que é completamente diferente da cabeça do observador, é uma ficção que criam em voltam da imagem e que é mais interessante do que a realidade. Se há uma diferença? Tem a ver meramente com o observador, não posso dizer que haja padrão por ser ocidental ou asiático, depende com a pessoa naquele momento e não tanto com a cultura.
Vamos falar do "from Russia with love" que é outra reflexão sobre a cultura russa, em particular, os seus símbolos. O que te atraiu nesta temática?
NM: Foi um trabalho diferente, porque foi o primeiro que fiz que foi mais politizado e que não é a intenção destes trabalho artísticos, que normalmente são pessoais. Para além disso, não se trata de um tema que tenha dedicado muito tempo a pensar, mas durante uma viagem pelos países de Leste, estava em Portugal e fiz essa viagem com amigos e o que nos apercebemos é dimensão do país ao nível geográfico, a Rússia é imensa e ao mesmo tempo o seu contexto social tão fechado, diria quase facista e vi imensos paralelismo com a situação que Portugal viveu com o regime da ditadura e durante a viagem fomos questionados pelos próprios russos donde vinhamos e como era o nosso país e havia esse termo de comparação, no fundo essas imagens e esse projecto foi um questionar, quase uma forma irónica de como via a Rússia, foi mais um conceito de instalação, para além de um vídeo de estilo karaoke onde era cantado uma canção da saga James Bond, havia imagens.
Outro dos teus trabalhos fotográficos, que reflecte os estados emocionais foi o "what remains", mas neste caso foste buscar estructuras e paisagens, porquê?
NM: Esse projecto obedece a lógica do que estivemos a falar, mas é um conjunto de imagens mais pequeno e diversifiquei mais para expôr em Almada e que sim, esta muito ligado com este projecto que é o "state of mind" e que de alguma maneira, o que se passa muitas vezes é que temos imagens de pessoas e outras que são só paisagens, ou interiores de espaços. E de certa maneira é engraçado, essa série "what remains" tinha a ver com isso, algo deixado por completar, no caso também tem a ver com o questionar relações humanas, o que é isto de darmos tempo as pessoas? E nos darem tempo? Como é que isso se transpõe para a imagem? Tem um lado mais melancólico talvez de aproximação desse tempo.
Depois fizeste um trabalho conceptual "Caindo depressa de um sonho", com uma artista, como esta surgiu esta parceira? E o que te atraiu neste projecto?
NM: Foi muito interessante fazer em paralelo um projecto com uma pessoa que é-me bastante chegada que é a Carla Fragata, que é fotógrafa e surgiu através de um conversa, nem sempre directa ou relacionadas com o projecto, mas com outro tipo de divagações e depois surgiu essa necessidade de criar um projecto em conjunto e então houve uma troca de ideias e no qual fomos desenvolvendo uma imagem fictícia, críamos uma caracterização, de onde ela vinha, como se sentia e fizemos um mini casting, com duas mulheres e dois homens, que representaram essa personagem que era a Eva e como era um projecto mais conceptual fotografámos mais rapidamente, foi feito em dois dias.
A escolha do preto e branco foi algo instintivo?
NM: Sim, foi instintivo, primeiro porque tem a ver com o meu olhar, quando olho através da máquina, gosto de pensar a preto e branco, gosto do contraste. Mesmo em termos da fotografia em si, com o analógico, ou a fazer a escolha entre um filme a preto e branco, ou a cores a minha escolha é sempre a primeira. Não é algo que me sinto condicionado, é algo mais familiar.
O último trabalho "venha a nós o vosso reino" porque a escolha de caixas de peditórios em concreto?
NM: Na realidade foi algo que veio ao meu encontro, foi confrontado com o assunto de uma forma diria rídicula, estava à espera de uma pessoa, em Alvalade, enquanto esperava decidi entrar na Igreja de Alvalade e reparei nas diferentes caixas de esmolas, eram muitas e decidi fotografa-las e não me recordo quantas, mas serão umas vinte, achei aquilo violento quase para quem esta a visitar o espaço e depois do ponto de vista religioso tão equilibrado. Achei interessante esse projecto e na altura surgiu uma oportunidade de desenvolver um projecto num espaço que gosto muito que é a Canarte, que é uma associação de artes e no fundo pude trabalhar com eles e resolvi pegar nesse trabalho, foi muito específico por causa que tinha a ver com um espaço que iria utilizar e acabei fazendo uma instalação em que utilizei umas mesas de marmóre que cobri com maçãs e coloquei uma caixa onde pedia ao visitante para reformular um desejo e colocá-lo na caixa e no final lia todos os desejos dos visitantes. "venha a nós o vosso reino" é um reflexão sobre a religião e sobre rituais que não nos questionámos no nosso dia-a-dia. Queria estimular um ritual no visitante da exposição, com uma mensagem diferente, mais livre, menos condicionado.
Consideraste um artista conceptualou um mero documentalista do que vês?
NM: Considero-me um conceptualista porque não me imagino a fazer um trabalho sem pensar profundamente nele, vivo com esse projecto e tem de fazer sentido, se não o fizer, se não me continuar a questionar provavelmente nunca chega a acontecer, ou a ser visivel. Têm de ser conceptual, por ser pensado e que tenha alguma coisa para as pessoas olharem e se colocarem algumas questões.