Quantos meses precisas para pintar um dos teus quadros?
AS: Eu não sei. Depende da conceptualização do quadro. Como o vou fazer, como vou construí-lo, quem será a mulher.
Mas, perguntas às pessoas o que eles gostam?
AS: Não, só se for uma encomenda. Os elementos de fundo tem que falar, tem um discurso, uma interação com a figura, acaba sendo o que justifica o fundo. É o grande expoente.
Para a Sina Pedra que procuraste explorar?
AS: Olha, o que a Venezuela é chamado de arte mágico, uma certa infantilidade. É um tipo de arte mais inofensivo, a menos afetado, tem um discurso sério, mas não pesado.
Qual é o lado sério?
AS: Pode ser a vida triste do palhaço, das pessoas que se dedicam ao entretenimento. É também um trabalho triste, que vive de fazer caretas. É uma espécie de indelicadeza da realidade.
Para pintar um retrato necessitas de musas?
AS: Sim, mas é por acaso. Neste caso foi assim, ela é o Portuguesa, é uma mulher muito atraente.
Mas, o teu outro trabalho também tem uma mulher que chama muita atenção.
AS: Mas isso é um outro conceito de realismo urbano. É diferente. Tomei a urbanidade como aspecto próprio da arte, que se parece com os dadaístas que pegavam no ordinário, colocavam-no ao contrário e isso era arte. Este movimento aparece com Marcel Duchamp, após a Segunda Guerra Mundial. A arte queria mudar e se transformar em algo mais conceitual e eles fizeram isso, aproveitaram as coisas e colocaram-nas em outro contexto como se fossem arte e realismo urbano vem de lá, é o ponto de vista do século XX. É uma espécie de que tudo é plástico, são materiais descartáveis, que num dia é usado e no outro é deitado fora.
O urbanismo vem daí, da cidade.
AS: Sim e da vida actual. Nós vemos essas coisas como algo mais romântico, o realismo urbano também é mostrar essa realidade anedótica e tornar nossa vida um pouco romântico e acaba por viver disso. Mas, com um maior realismo e idealização da beleza como tal. E também algo de arte pobre, um movimento do século XX, que utilizava os materiais inservíveis para a arte, madeira podre, jornais velhos, trapos, ou seja, o cenário cheira mal, mas é uma arte adoçada e a minha o que vende é o engano, não é artesanato, mas é como a arte mágica, inofensiva e que também te faz confrontar contigo mesmo. A obra sempre afeta o ser humano e pode haver uma emoção negativa, mas creio que não são muitos.
A luz dos quadro tem a ver com a personalidade.
AS: É a luz natural. Opto sempre ter um único foco, uma direcção e há um escuridão forte, essa realidade o meu caso é fundamental.
Custa-te vender os teus trabalhos?
AS: Eu não posso vendê-los, as pessoas vem isso como uma namorada que tive e isso é algo impessoal, que é o que eles dizem. É muito difícil vender os quadros, porque acham que são muito grandes, ou muito escuros e impessoais. Apresentei algum trabalho na Bienal Internacional da Madeira, na Casa de Luz, mas não mais do que isso.
E fora não se vendem?
AS: Eles vêem-no como algo relacionado comigo. Não é uma paisagem. A arte mágica é boa, porque vende bem na Venezuela. É o mundo de circo, quase surreal, mas eu não sigo esse movimento, em Pedra Sina o fiz, porque eu tinha apenas semanas.
Como te defines como artista?
AS: Eu quero permanecer fiel à minha proposta e à minha realidade que é sempre mostrar a beleza, a verdade.