Procura sempre apostar materiais como a prata e o plástico?
JS: É assim, eu não considero que tenha uma tendência para um determinado tipo de material. A keybag foi feita em plástico porque não havia a possibilidade de ser em outro material. Há processos mais caros e morosos como foi o caso da prata. Mas, não tenho um esprecto limitado de materiais.
Qual é a imagem que se têm lá fora do design português?
Ao meu ver é boa. Aquilo que costumo partilhar com outros designers é que quando se trata de projectar e criar novos conceitos, e isto acontece em 90% dos casos, muitos projectos estão na gaveta. Ou seja, toda a construção e produção do objecto de design tem pouca receptividade junto das empresas.
Refere-se à nível nacional?
JS: Sim e falo no meu caso, o projecto da keybag foi realizado pelos meus próprios meios, nunca tinha avançado para o fabrico numa empresa. Quando decidi que tinha viabilidade económica, na altura recordo-me perfeitamente que tentei apresentar a ideia a vários empresários e apesar de eles gostarem do conceito tinham medo de arriscar.
Eu fui munido com muitos dados e informação sobre a aceitação do produto no mercado, porque comecei a vender a Keybag a particulares e mesmo assim, ninguém quis pegar no projecto. É muito difícil que eles invistam em design, mesmo tendo um plano de negócios consistente, acaba sempre por ser posto de parte. E não falo só sobre mim, o design português é muito bem visto, o que é que acontece? Há pessoas que criam peças muito interessantes só que para poder adquiri-las, conseguem-se fazer dois ou três protótipos e nunca existe uma linha de produção. Ou então, fazem-se edições limitadas de venda, porque não existe mais nada, isto porque o tecido empresarial português não está virado para a inovação.
Que outros projectos tem em carteira neste momento?
JS:Neste momento, o meu foco principal é continuar a desenvolver o actual projecto. Tenho em mãos uma nova edição da mala de teclas. Abordando sempre a mesma filosofia, ainda há muito trabalho para fazer, chega a um ponto que fica insustentável pensar em novos projectos para já, porque todo o processo ainda depende muito de mim. Há muitas coisas que não delego, por exemplo, os contratos que faço, essa é uma questão em que não cedo de forma a salvaguardar o meu trabalho. E ainda não atingi a rede de lojas que me permita ser sustentável e de alguma forma tenho que retirar tempo para o resto.
Tem algum parceiro empresarial para este novo trabalho?
JS:Não, é sempre por minha conta e risco. Não sei se viu o site? A Keylver é uma mala feita toda em prata. Ela resultou de um projecto em parceria com um cliente empresarial norueguês que pretendia uma mala, mas queria algo completamente diferente, e na altura já tinha essa ideia mas, não a tinha posto em prática devido aos custos. As teclas foram feitas todas de prata, com um ourives e manualmente uma à uma, o que torna o processo caro. E efectivamente, o cliente se enquadrou nessa visão da mala e por isso, foi possível realizar este trabalho.
Alguma vez houve alguma peça de design que lhe suscitou vontade de pensar, “quem me dera que tivesse sido eu a cria-lo”?
JS:Há uma peça do designer Veerner Panton, que é uma cadeira a Panton Chair. Não só pelo aspecto estético, mas pela forma como desenvolveu a técnica para ser feita. É em fibra de vidro e de uma só vez. Para mim é fantástica. Nela esta implícito como funciona o processo de design e como deve ser posto em prática.