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O narrador do ambiente

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O artista madeirense Nuno Henrique foi assistente de produção da galeria Porta 33, local onde desenvolveu os seus trabalhos narrativos sobre a floresta indígena da ilha da Madeira e Porto Santo. Uma práctica artistíca que relaciona vários tipos de materiais, nomeadamente o papel, com monumentos dedicados à natureza. Um representação do real que poderá ser apreciada, numa próxima exposição, no dia 21 de Junho, em Guimarães, no laboratório das artes.

Pelo que me é dado a entender a tua carreira artística começa com uma bolsa da porta 33?
Nuno Henrique: Sim, comecei a fazer um estágio na porta 33, porque tinha ganho um prémio na Casa das Mudas. No final participei numa exposição colectiva comissariada pelo Alexandre Melo e comecei a desenvolver um trabalho durante dois anos, os quarenta calcos.


Qual é a ideia subjacente aos quarenta calcos?
NH: Criar um monumento às espécies botânicas da Madeira. Na altura estava na ilha, havia muitas caminhadas, muitos passeios e sempre tive uma relação com a botânica, através de um tio meu. Decidi propor um monumento dessa floresta. Fiz uma selecção de espécies e trabalhei com a ajuda de alguns biológicos.


Na tua segunda exposição existem duas dinâmicas. Uma delas é a arqueologia. O que te fascinou neste tema?
NH: O ponto de partida dessa ideia tinha a ver com as nomenclaturas em latim dessas espécies. É fascinante por ser uma língua morta, de certa maneira há sempre um lado encantatório. Depois interessava-me criar um monumento. Fiz uma investigação em torno das inscrições e encontrei esta técnica da arqueologia que me permite realizar negativos de inscrições. Então no primeiro momento crio uma arqueologia ficcionada, com a noção de monumentos em si, mas é um registo desses monumentos que não existem.


Outra das componentes da tua obra é a ilha. Ela tem peso. Resulta do facto de ser ilhéu, se assim não fosses não estaria sequer incluída no teu trabalho?
NH: Sim, poderia ter sido outra pessoa. Seria diferente.

Ela influência sempre a tua visão artística?
NH: Sim, é algo que esta sempre presente. É indissociável.


Outra das componentes do teu trabalho é a cor. É importante em termos do teu processo artístico?
NH: Sim, a cor tem sempre uma relação com o referente com o qual estou a trabalhar. São as espécies botânicas, tem a ver com as cores das flores, das folhas. Normalmente, a cor não é vista do ponto de vista naturalista. Tem a ver com outros materiais no espaço do atelier com o qual estou a trabalhar e que vão criando uma unificação entre as cores.
Há uma instalação que é um livro. A ideia surge através da estratificação geográfica de um dos ilhéus do Porto Santo.
NH: Isso está relacionado com o trabalho que tenho estado a desenvolver em torno da espécie dos dragoeiros. Este último trabalho foi desenvolvido a partir da descrição do processo do Gaspar Frutuoso. Eu também faço uma descrição do dragoeiro da ilha do Porto Santo a quando da colonização dos portugueses. Ele descreve o ilhéu dos dragoeiros, que hoje em dia chama-se o ilhéu de cima, que fica junto ao porto de abrigo. No âmbito desse trabalho fiz uma visita a esse território que faz parte do parque natural da Madeira e depois quando estava a trabalhar essa experiência no atelier comecei a desenvolver um pequeno livro topográfico do ilhéu. À medida que construía esse modelo com várias curvas de níveis sempre em papel surgiu a ideia de fazer o livro, é como se fosse um negativo do ilhéu. As cores são evocativas dos antigos dragoeiros.


Estas a desenvolver um novo projecto artístico relacionado com a ilha, ou a natureza?
NH: Sim, o trabalho sempre tem uma relação com o mundo natural. Tem-se desenvolvido bastante em torno de narrativas de espécies botânicas. Estou a desenvolver alguns trabalhos com o dragoeiro, outras estão relacionadas com a minha residência, em Nova Iorque com a bolsa da Gulbenkian. Novamente existe uma ilha, que é Manhattan, como é que se vai materializar esse trabalho ainda não sei.


Achas que há uma dicotomia na tua obra, por um lado, é muito artístico, mas existe sempre uma componente muito científica na tua obra.
NH: Existe alguns dados que são trazidos de outras disciplinas, mas não concordo que seja um trabalho científico. Do ponto vista do que a ciência produz, nada tem a ver com o trabalho que faço. O meu trabalho é artístico. Enquanto ciência não tem consistência nenhuma. Eu utilizo dados botânicos, não é ciência. É só usar o referente, como podia só usar cor. Na arte contemporânea existe muitas coisas que vêm de outras áreas. Ou maneiras diferentes de fazer arte.


Então utilizas esses dados e os reinterpretas?
NH: Sim, reapresento-os.


Como então definirias a tua pequena obra?
NH: Como arte.


Só?
NH: E já chega! (risos).

 

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