NH: Sim, é algo que esta sempre presente. É indissociável.
Outra das componentes do teu trabalho é a cor. É importante em termos do teu processo artístico?
NH: Sim, a cor tem sempre uma relação com o referente com o qual estou a trabalhar. São as espécies botânicas, tem a ver com as cores das flores, das folhas. Normalmente, a cor não é vista do ponto de vista naturalista. Tem a ver com outros materiais no espaço do atelier com o qual estou a trabalhar e que vão criando uma unificação entre as cores.
Há uma instalação que é um livro. A ideia surge através da estratificação geográfica de um dos ilhéus do Porto Santo.
NH: Isso está relacionado com o trabalho que tenho estado a desenvolver em torno da espécie dos dragoeiros. Este último trabalho foi desenvolvido a partir da descrição do processo do Gaspar Frutuoso. Eu também faço uma descrição do dragoeiro da ilha do Porto Santo a quando da colonização dos portugueses. Ele descreve o ilhéu dos dragoeiros, que hoje em dia chama-se o ilhéu de cima, que fica junto ao porto de abrigo. No âmbito desse trabalho fiz uma visita a esse território que faz parte do parque natural da Madeira e depois quando estava a trabalhar essa experiência no atelier comecei a desenvolver um pequeno livro topográfico do ilhéu. À medida que construía esse modelo com várias curvas de níveis sempre em papel surgiu a ideia de fazer o livro, é como se fosse um negativo do ilhéu. As cores são evocativas dos antigos dragoeiros.
Estas a desenvolver um novo projecto artístico relacionado com a ilha, ou a natureza?
NH: Sim, o trabalho sempre tem uma relação com o mundo natural. Tem-se desenvolvido bastante em torno de narrativas de espécies botânicas. Estou a desenvolver alguns trabalhos com o dragoeiro, outras estão relacionadas com a minha residência, em Nova Iorque com a bolsa da Gulbenkian. Novamente existe uma ilha, que é Manhattan, como é que se vai materializar esse trabalho ainda não sei.
Achas que há uma dicotomia na tua obra, por um lado, é muito artístico, mas existe sempre uma componente muito científica na tua obra.
NH: Existe alguns dados que são trazidos de outras disciplinas, mas não concordo que seja um trabalho científico. Do ponto vista do que a ciência produz, nada tem a ver com o trabalho que faço. O meu trabalho é artístico. Enquanto ciência não tem consistência nenhuma. Eu utilizo dados botânicos, não é ciência. É só usar o referente, como podia só usar cor. Na arte contemporânea existe muitas coisas que vêm de outras áreas. Ou maneiras diferentes de fazer arte.
Então utilizas esses dados e os reinterpretas?
NH: Sim, reapresento-os.
Como então definirias a tua pequena obra?
NH: Como arte.
Só?
NH: E já chega! (risos).





