Os compradores possuem um conhecimento profundo dos artistas?
RF: As pessoas que gostam de ir coleccionando essas obras de arte, tendo em conta as suas preferências, ou a lógica da sua colecção, ou até mesmo adquirem uma obra porque lhes diz algo tendo em simultâneo a vantagem de ser um bom investimento, é um público que diria muito variado. Não há uma única tendência nas artes plásticas.
Os artistas em Portugal queixam-se que é muito difícil singrar neste meio, partilhas de esta opinião?
RF: Sim e por vários factores. O galerismo em Portugal é uma tradição com poucas décadas. Enquanto no estrangeiro, as galerias de arte já existiam a muito tempo. No nosso país, se repararmos bem, com a excepção de um ou outro espaço que já surgiu a mais de 40 anos, o caso da Alvarez, na cidade do Porto e a galeria 111, em Lisboa, o boom do aparecimento destes espaços verificou-se sobretudo a partir da década de oitenta. Muitas entretanto fecharam e outras abriram nos anos noventa, no século passado, mas é um mercado recente.
Achas que isso deve-se também ao facto de não haver tradicionalmente compradores para essa mesma arte?
RF: Se repararmos bem, alguns investidores, coleccionadores de arte e pessoas que gostam de fluir por estes meios e que acabam por apostar em arte, rondam os 45 anos até os 65 anos, por exemplo, a grande maioria. Já começam a aparecer potencias compradores mais novos, nomeadamente casais, que antes não apareciam no tempo dos nossos pais ou avós. É habitual jovens pares adquirem uma peça, ou uma fotografia contemporânea. Não há só o lado comercial da colecção como investimento, ou do sucesso do artista a, b ou c, às vezes pode ser uma questão de moda. Acabo por ficar um pouco decepcionado com o mercado nacional de arte, por ser muito especulativo, não há uma linha vigente, é feito de altos e baixos, não há regras bem definidas e cotações adequadas. Anda tudo ao sabor das tendências como já referi. Nota-se que é um país em que os galeristas estão de costas virados uns para os outros. Não há uma união. Este é o aspecto negativo, por outro lado, é um privilegio conseguir trabalhar neste mundo nos dias que correm, acaba por ter as suas compensações.
A pouco referistes o tipo de público que visita a galeria da Mouraria, mas não me dissestes qual é o balanço que fazes destes dez anos?
FR: Em termos de percurso, costumo dizer que, um espaço não é uma galeria sem fazer dez anos de existência. Atingindo uma década já se pode considerar como tal, porque tem muitas exposições organizadas, promovidas e divulgadas. Há muitos artistas difundidos e muito boas colecções de arte que ajudámos a construir. Apesar de ser uma galeria privada, que não tem qualquer tipo de apoio, ou subsidio, é um espaço que não está só interessado em apostar nos valores mais seguros, ou em modismos, há uma vontade em apostar nos novos artistas. Em 2006, criámos o Project room, a nossa sala de projectos, que é um conceito que não se vê nas galerias de artes e que foi um passo importante na filosofia e percurso da galeria. É claro, que existem factores externos que impedem a Mouraria de participar, porque é inviável nesta fase, nas feiras de arte contemporâneas. Trata-se de um tipo de investimento que implica muita base financeira e tem de ficar em stand-by neste momento. Mesmo assim, pegando no lema de vai para fora cá dentro e divulgar a prata de casa, há muito trabalho que tem sido feito que não se restringe ao espaço físico da galeria, as suas paredes. Promovemos outro tipo de eventos, refiro-me as parcerias que estabelecemos com diversas entidades, como sejam clínicas, com simpósios e algumas bibliotecas escolares, em que levámos uma pequena colectiva de artistas seleccionados, porque achámos que apesar do espaço de venda habitual ser dentro da galeria, como montra exterior devemos ir ao encontro das pessoas precisamente com arte e com as propostas plásticas dos artistas residentes.