
Pedro Vasconcelos é instructor de mergulho e um fotógrafo apaixonado pelos fundos marinhos. As suas imagens procuram dar a conhecer os vários olhares da fauna que povoam os mares do arquipélago da Madeira e do mundo.
Como é que começou esta tua paixão pela fotografia subaquática?
Pedro Vasconcelos: Começou pelo mergulho. Faço esta actividade há cerca de vinte anos. Sou da Madeira e desde sempre sou um apaixonado pelo mar. Comecei a observar o fundo marinho quando era jovem com óculos de mergulho, fazia snorkling, depois evolui e tornei-me instructor de mergulho. Alguns dos meus amigos a quem eu ensinei a mergulhar tinham máquinas fotográficas, depois de ver o que produziam entusiasmei-me e comecei a investir. Comecei com máquinas pequenas, foi evoluindo e a paixão foi crescendo. Sou instrutor de mergulho para poder ensinar as pessoas a observarem o fundo, o que tem de melhor e em segurança. A imagem é também uma forma de mostrar as pessoas o que vejo, para quem não mergulha poder observar uma paixão que tenho e o que vejo nos fundos marinhos.
Fazes mergulho no mar em torno ao arquipélago, mas já efectuastes outros em várias partes do mundo. Actualmente mergulhas pelo prazer da actividade, ou já é mais por causa da fotografia?
PV: Pelos dois motivos. Hoje em dia mais pela imagem. Aliás, se não tiver a dar formação, não me imagino sem uma máquina de fotografar lá no fundo. Há certas coisas debaixo de água que só se vê uma vez, ou que são muito raras de observar, como um encontro com a baleia, ou organismos muitos pequenos com cinco milímetros que não se vê todos os dias e claro, captar esses momentos é fundamental.
Quais são os cuidados que deves ter quando pretendes captar imagens desses pequenos organismos marinhos?
PV: Para já temos de ir muito atentos e muito devagar, obviamente, temos que controlar o ar que estamos a respirar, porque o tempo lá em baixo é limitado, tanto pode ser 10 minutos, como pode ser uma hora, mas temos de controlar tudo bem, porque para observar animais tão pequenos é necessário muito cuidado. Num mergulho normal os mergulhadores veem o local no geral, eu, por outro lado, observo organismos confinados a uma área com 2 metros quadrados e fico a fotografa-los nessa mesma meia hora. Os ouriços há muitos na Madeira, toda a gente os vê, provavelmente muitos mergulhadores já os observaram, contudo nunca viram um pequeno camarão que existe nos próprios ouriços com apenas 1 cm. Temos que olhar os fundos com olhos de ver e aproximar-nos muito. Depois quando queremos fotografar temos que levar connosco lentes especiais, duplicadores e temos de estar muito quietos. É necessário um treino subaquático para fotografar esses animais, nunca estamos verdadeiramente parados, a água tem sempre algum movimento e não é fácil.
Então antes de algum mergulho fotográfico tens de ter em consideração os fatores meteorológicos, o movimento das correntes é isso?
PV: Temos de ter todos esses movimentos em consideração, depois de ter a segurança garantida, muitas vezes há surpresas, as condições da água não são as que esperávamos e temos de mudar as lentes. Para fazer este tipo de imagens a água tem de estar límpida, para poder apanhar mais azul e menos suspensão de partículas, mas lá está muitas vezes não mergulhámos com as melhores condições climatéricas, caso tal aconteça, mudámos de macro para micro, fotografo pequenos animais já que a visibilidade não influência tanto.
Em relação aos animais de grande porte, quais são os cuidados que deves ter, em termos de captação de imagem?
PV: No meio marinho, seja com que animar for, mas principalmente com os de grande porte temos de respeita-los. Temos que observar muito bem os seus comportamentos, nomeadamente, quando são mamíferos, golfinhos, ou focas, principalmente se tiverem crias, são muitos protectores, o mesmo se aplica aos humanos, nós também protegemos os nossos filhos. Logo, se estamos a interferir num espaço que é deles temos que ter alguma atenção. Se há crias devemos dar espaço, devemos manter o nosso rumo e não interferir com a área deles e tudo corre bem. Nestes vinte anos nunca sofri nenhum ataque de tubarão ou de nenhum outro animal marinho. Desde que os respeitemos os animais tomam a iniciativa de aproximar-se, porque são naturalmente curiosos, devemos permitir que venham até nós e é a forma mais fácil de nos aproximarmos.
Tiveste algum mergulho que te marcou particularmente, precisamente por causa dessa conexão com os animais?
PV: Já tive vários. É muito difícil apontar apenas um mergulho. Mergulhei com milhões de sardinhas, aquelas imagens que se vê nos documentários, são autênticas bolas gigantes e marcaram-me os mergulhos com os tubarões, as jamantas, os nossos lobos-marinhos e as focas em geral. São animais graciosíssimos debaixo de água e isso é muito importante.
Já tiveste algum encontro mais desagradável com algum tubarão? De facto existem várias espécies nas ilhas e não se conhece nenhum ataque desde o tempo da colonização, mas mesmo assim, já apanhaste algum susto?
PV: Existem de facto várias espécies de tubarão na Madeira, já estive em contacto com essas duas espécies na água e são peixes que fogem mais rápido de nós do que inverso. Até agora consegui fotografar vários tipos de tubarões fora do arquipélago, os locais nunca consegui.
Quais são essas espécies que tentaste fotografar?
PV: O tubarão martelo e a caneja, que é o seu nome comum. Existem na ilha muito próximo da costa, há dois verões atrás, numa das nossas praias do Funchal andavam 3 exemplares no fundo, apenas a dez metros de profundidade e nunca ninguém os avistou. Não fazem mal. Os ataques de tubarão que acontecem, por norma, porque estes predadores confundem as pessoas com as focas, que são presas que estes animais caçam. Os mergulhadores estão ao mesmo nível do que eles, a nossa respiração, as bolhas de oxigénio, é como se fossem uma agressão sonora. Por isso, assustam-se e não há motivos de preocupação.
O que procuras nas imagens subaquáticas em torno da ilha?
PV: Procuro sempre encontrar olhares diferentes. Mesmo mergulhando no mesmo sítio, há sempre interacções diferentes com os vários animais e por mais que se mergulhe passasse a conhecer um determinado ambiente do que propriamente o fundo do mar. Podemos até mergulhar 10 vezes no mesmo sítio e a 11º encontrámos algo que nunca tínhamos visto antes, ou apareceu e antes não se via, desde uma alga a animais que estão escondidos na areia, ou que só aparecem durante a noite e logo vê-se muita coisa que se desconhece à partida. Os meros, por exemplo, já os fotografei de todos os ângulos possíveis e imagináveis e por isso não os procuro, embora dão sempre uma imagem muito bonita. Tento sempre fotografar coisas diferentes, faço até as mesmas imagens com outras lentes para mostrar um outro olhar, de forma a captar um momento diferente do fundo marinho.
Existe algum mergulho de fundo que gostarias ainda de fazer?
PV: Há vários também, gostava de mergulhar nas Galápagos e na outra costa do Pacífico, a Indonésia e as Filipinas.
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