É uma reflexão colectiva sobre os efeitos nefastos dos incêndios que assolaram a ilha, sob a forma de exposição, na Travessa João Caetano, nº14, no Funchal. Artistas plásticos, voluntários e membros do grupo “Madeira em transição” criaram, a partir de objectos ardidos, instalações artísticas e pequenos oásis de plantas que visam não só estimular o pensamento crítico, mas reaproximar-nos a um conceito de vida sustentável e da importância do verde, essencial para a nossa existência.
Em que âmbito surge a reconexão?
Maurília Cró: Foi a convergência de vários acontecimentos que a “Madeira em transição” tem vindo a desenvolver. Já tínhamos definido em Julho que, uma das nossas actividades é o ciclo de cinema, iriámos ver “respigador-respigadora”. É um filme que traça a vida das pessoas que vivem do lixo, das sobras nas grandes cidades e no campo e depois tivemos os incêndios que assolaram a ilha. Achámos que devíamos ir até o terreno limpar toda uma zona e havia também uma vontade minha antiga de fazer uma instalação. Tudo se encaixou.
Então como é que tudo se conjugou?
MC: Começámos a fazer a limpeza das casas e dos terrenos, deparámo-nos com os objectos, já tínhamos a projecção do filme marcada para dia 10 de Agosto, começámos então a traze-los para o espaço, convidámos os artistas plásticos, os amigos e estivemos a trabalhar neste projecto há vinte e um dias.
De que forma surgem estas instalações?
MC: A partir dos restos dos materiais das casas dos terrenos afectados pelos incêndios em Santa Cruz. Trabalhámos lado-a-lado com o propósito de encontrar beleza e nobreza nestes objectos ardidos que sobraram após os incêndios, de promover uma ‘reconexão’ com a natureza. O Trinidade Vieira usou cinza para elaborar os desenhos em tecido e a Andreia Nóbrega utilizou este lixo para criar peças. Em simultâneo foi realizado um registo fotográfico de todo esse processo por mim, pelo Paulo Coelho e pelo José Zyberchema.
Não são apenas os objectos que vemos em redor.
MC: Exactamente. Achámos que faria muito sentido trazer um pouco da recuperação que se faz. Reconexão surge da necessidade religar, reaproximar à natureza ao outro. É um processo que culminou com esta exposição que foi muito bom para todos. Tivemos alturas difíceis, porque havia diversas opiniões, era necessário gerir tudo isso, mas acabou por ser muito bom.