É uma das obras do controverso cineasta e que venceu o grande prémio da crítica no festival de cinema de Veneza.
João César Monteiro teve uma carreira cinematográfica ímpar no nosso país. Sempre fez o que lhe deu na real gana. Era considerado um génio e como tal estranhamente teve acesso a todo tipo de financiamento público para os seus projectos em detrimento de outros cineastas portugueses. Uma parceria público-privada lusa que terminou da melhor maneira possível com o celebre “ branca de neve” que tanta tinta fez correr e que envergonhou o Ministério da Cultura. Foi bem feito! Não se pede a um louco acabado de sair de uma casa de repouso para realizar mais uma tortura cinematográfica. Aos mais iluminados deste mundo, caso não saibam, há que dar por vezes tempo, espaço e serenidade para se lembrarem de algo mais construtivo e não é que fosse alguma vez este o caso de João César Monteiro. Muito pelo contrário. Posto isto, falemos de uma das obras do já falecido cineasta, o segundo de uma trilogia, “a comédia de deus”, que não aprecio verdadeiramente. Embora, tenha visto esta longuíssima-metragem com muitas reservas, esta obra, em particular, provoca-me sempre uma certo desconcerto tenho que admiti-lo. Pondo esse aspecto de parte, Monteiro, é sem sombra de dúvida, o mais conceptualista dos realizadores portugueses. Definir a sua cinematografia é tarefa ingrata, para melhor compreenderem cito-o de maneira a evitar potenciais mal entendidos: “resta-me reconhecer a solidão moral de uma prática cinematográfica cavada na dupla recusa de ser uma espécie de carro de aluguer da classe exploradora e, o que é mais grave, de trocar essa profunda exigência por toda e qualquer forma de demagogia neo- fadista que transporte e venda a miserável ilusão de servir, por abusiva procuração, interesses que não são os seus”. Perceberam? Voltando ao filme, este em particular, tem uma premissa curiosa, um homem, João de Deus, colecciona pelos púbicos femininos, que guarda num caderno denominado de livro de pensamentos. Um processo que “colheita” que envolve um banho em leite de vaca às incautas vítimas, funcionárias da mesma sorvetária onde trabalha chamada de “paraíso do gelado” (nome muito apropriado), que depois coa no final. Mas, há um dia em que algo corre mal e os resultados desse encontro será no mínimo desastroso para a sua insignificante existência. Mais não digo, vejam com os seus próprios olhos. Bom cinema!