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A discreta

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Teresa Madruga é uma das actrizes mais requisitadas pelo cinema português, pelo seu enorme talento e pela naturalidade que confere as personagens que cria para tela, ou não cria, como no caso da Vitória de Tabu.

O que a atraiu na sua personagem no filme Tabu? Foi a sua solidão?
Teresa Madruga: Não foi propriamente mais o personagem em si, foi o projecto do filme. Primeiro, tinha gostado do filme anterior do Miguel Gomes, percebi que não era um cineasta qualquer, tinha um outro tipo de imaginação e como tinha gostado do seu último trabalho, aceitei fazer o papel. Achei estranho o projecto, a Victória também era estranha e tudo isso me levou a aceitar. Não foi exactamente, porque fosse super interessante. Além disso, era um personagem difícil, porque era quase a não acção.


Ela é uma pessoa que interioriza tudo.
TM: Sim, ela existe do ponto de vista de ouvir e imaginar. Como aquela mania de ir ao cinema. Era mais o trabalho em si no total que me atraiu.


O facto de ser filmado a preto e branco surpreendeu-a?
TM: Com aquele cineasta, não. (risos) Só me surpreendeu, no sentido em que sabia que uma pelicula a preto e branco é mais cara. Agora os métodos, não.


Estiveram presentes no festival de cinema de Durban, como é que um filme como o Tabu, sobre um passado colonialista foi recebido?
TM: Há muitos portugueses a residir na África do Sul, principalmente foram esses os mais interessados em ver o filme e gostaram imenso. Mas, falei mais com os emigrantes, eles também são sul-africanos, porque vivem lá desde que nasceram. Muitas vezes, esse passado colonialista toca muita gente que vive cá também, que se lembra daquilo tudo.

Já participou em diversos filmes portugueses, com estes novos cineastas que fazem um tipo de cinema de autor, nota que há um menor preconceito em relação a produção nacional?
TM: Talvez, acho que sim. Não sou realizadora, mas vejo que há muito mais pessoas com coragem. No passado também havia, cada cineasta é diferente em relação aos restantes, cada um tinha as suas ideias, mas agora há mais, muito jovens. Segundo as regras para fazer um filme quanto mais expõem as suas ideias pessoais, mais interessante é o filme. Tem-se visto muitos a fazer isso e não apenas um cinema que é quase publicidade, o chamado cinema comercial.


Qual das personagens que criou em cinema constitui um grande desafio? Que requereu mais de si? Ou pelo menos deixou uma marca, uma recordação?
TM: É difícil de dizer. Normalmente tendo a defender os personagens todos. Podem é haver filmes de que gostei mais, ou outros de que gostei menos.


Então quais foram os que gostou mais de fazer?
TM: A cidade branca e o Tabu. Não quer dizer que não haja outro. Sinto que tenho de defender o meu personagem seja ele qual for e depois o desafio é de conseguir ou não fazer isso. Agora que algum me tivesse marcado, acho que são mais os filmes que os personagens.


Prepara as personagens de forma diferente para o cinema? Do que por exemplo, para o teatro ou até mesmo para as telenovelas?
TM: Tenho sempre o mesmo método de trabalho, depois é uma questão de timings. Acelerar ou desacelerar. Na novela, por exemplo, tem de ser super acelerado, a maneira de trabalhar. Gosto de gravar o texto e ouvi-lo muitas vezes, mesmo sem a preocupação de decorar, só faço isso posteriormente. Gosto de ter a noção das cenas, não só do que digo, mas do que toda a gente diz. Interessa-me mais todo o texto do que apenas o meu, do que acontece. Mas isso, é uma importância que tanto dou no cinema, como no teatro e nas novelas. Existem coisas que faço da mesma maneira em todas, depois é uma questão de pormenor. Há muitos mais ensaios em teatro, neste filme, o Tabu, houve bastantes o que é não é costume e nas novelas não há ensaios.


Então a construção da sua personagem surge perante o que é dito pelos restantes, ou como interagem com ela?
TM: Sim, é assim que costumo perceber o personagem. Não é só aquilo que digo. Claro, que o que os outros dizem é muito importante e também da maneira como respondo ao que os outros me dizem. Nunca vejo só as minhas linhas, as falas. (risos)


Dessas valências todas em termos artístico, qual é a sua preferida?
TM: O cinema é o que mais dá mais prazer fazer.


Então porquê?
TM: Não sei, foi para o conservatório por causa do cinema, não foi pelo teatro, porque nunca tinha visto peça nenhuma.


Então qual é filme da sua vida?
TM: Isso são muitos. Na altura quando era miúda o que passava na televisão eram os musicais, que por azar nunca consegui cantar. (risos)


Então o que a atraia no cinema?
TM: Havia coisas muito diferentes no cinema. Era mais o que via a televisão na altura e já foi há muitos anos. Depois quando comecei a ver filmes, interessei-me pelo Jean-Luc Godard, ou Renoir. Com o tempo houve muitos outros filmes que me foram surpreendendo, surpreendendo e surpreendendo. Dizer este é o que me marcou mais, acho muito difícil. (risos).

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