É um filme de Joaquim Leitão que aborda as diferenças culturais, através do olhar de um jovem. Uma história de amor e esperança que convenceu cerca de quarenta e um mil espectadores.
A história de Lourenço, a personagem principal, começa com o seu quotidiano. Igual ao de muitos miúdos com uma vida privilegiada. Colégios privados, os gadgets da berra, a roupa da moda e a miúda a combinar. Até que um dia tudo muda e ele passa para o outro lado do espelho. E é como se de um pesadelo se trata-se, ele perde tudo, mesmo tudo e passa a viver no mundo dos outros. Dos menos privilegiados, daqueles que se vêem, mas prefere-se ignorar, com outra pele, outra cultura e ele mesmo passa a ser mais um. E é neste reprocessamento que ele aprende coisas novas sobre o valor da amizade, sobre a música e sobre o racismo.Lourenço vive o seu primeiro amor. Lourenço descobre a diferença. Lourenço vê o mundo sob outro prisma. Lourenço ajuda o pai.
A mensagem de Joaquim Leitão neste filme é clara, ao meu ver, é sobre a tolerância. Tem um quê de musical que o torna ainda mais interessante. Mas, o mais pujante deste filme é a história. Vemos a mudança pelo olhar de um jovem e a forma como tem de lidar com ela. Assistimos as várias fases do luto. O guião do Tino Navarro e do Manuel de Arouca é muito interessante, porque não é fácil escrever sobre a nossa juventude, há sempre um distanciamento e as memórias remetem-nos a um universo quase paralelo, nem sempre real. Temos uma tendência natural para recordar o que nos fez feliz e obliterar o pior. O filme tem um pouco desse perfume da juventude, mas com um banho de realidade. Gosto dele pela aparente simplicidade com que aborda questões mais complexas, sem o drama excessivo e pesado da vida na periferia da cidade. O núcleo de jovens actores compõe o ramalhete de um trabalho muito bem feito.