É um filme de Nelson Camacho e Filipa Gracês. Uma comédia que estabelece um paralelo entre a escrita poética de Fernando Pessoa e a realidade actual da ilha da Madeira.
Como é surge ideia para o argumento das ilhas afortunadas?
Nelson Camacho: Começa com um convite irrecusável, sabia que tinha apenas só dois meses para executá-lo, aceitei o desafio, por outro lado, nunca tinha feito uma curta-metragem com guião, que foi outro dos obstáculos a ultrapassar em termos das minhas experiências com vídeo. Tudo começa com a Filipa Garcês que é a pessoa que me acompanha de perto neste projecto, ela é co-autora do script e começámos a conversar o que poderíamos filmar em tão pouco tempo, nas horas vagas, nos fins de semanas e folgas. Eu gosto muito de Fernando Pessoa, em particular as ilhas afortunadas e tendo em conta que a Filipa, como actriz, já tinha tido algumas experiências com esta e outras personagens, comecámos a pensar numa história que passasse pela Madeira, que fosse ficção e pudesse provocar o riso dos madeirenses, na nossa perspectiva. Tudo começa assim, com muito trabalho criativo, a Filipa incansável na parte dos dialógos e lutámos imenso para criar algo com lógica, de 15 a 20 minutos, que era outro desafio imenso, porque uma curta-metragem livre teria sido concerteza mais pequena, só por uma questão de tempo, já que tivemos apenas dois meses. Assim, sendo deitámos mãos à obra.
Vamos falar do argumento, há uma ponte entre a poesia de Fernando Pessoa e as restantes personagens , qual foi o teu maior desafio em termos de escrita?
Filipa Garcês: Essencialmente foi tentar escrever algo actual e que enquadra-se a realidade madeirense, a partir do poema desenvolvemos as personagens e a história.
Outras das curiosidades deste filme é todas as personagens masculinas são representadas por uma mulher.
FG: Exactamente, foi muito complicado desdobrar-me em várias personagens, ainda por cima masculinas, fui um duplo desafio tendo em conta, na minha opinião, de se tratar de uma comédia que é uma ideia que ainda esta associada ao homem, posso dizer até que nesse sentido foi triplo o esforço e vendo o feedback do público achámos que foi bastante positivo.
NC: Gostava de acrescentar que também foi um desafio para a Filipa muito grande, a partir do momento em que quero colocar as personagens em contacto umas com as outras, porque é algo extremamente difícil contabilizar o tempo necessário de resposta para bater certo no trabalho de edição. Claro que há sempre truques que se podem utilizar, mas não deixa de ser meticuloso tendo em conta os diálogos longos e acreditem que tivemos de repetir muitas vezes (risos).
Qual das personagens é a que gostaram mais?
NC: Gosto imenso do polícia intolerante, cruel, diz algumas verdades, é incisivo e acho que é fantástico.
FG: Gostei mais do Sergei, o ucraniano, porque representa a fragilidade dos emigrantes em termos de barreiras linguísticas, o não compreender o que os locais dizem, os hábitos são diferentes.
NC: Se calhar também há uma certa timidez.
FG: É uma personagem que é-me bastante querida.