Das quatro curtas-metragens que produziste, podes dizer-me qual é a tua preferida e porquê?
LC: Tenho um sentimento de orgulho muito grande por "Azeitona", que teve um propósito muito honesto, um trajecto muito interessante, coleccionando muitos prémios em festivais, e que continua a conquistar espectadores após todos estes anos, foi feito em 2008, a sua própria concretização foi extremamente difícil em termos de tempo, contratempos surgidos e orçamento disponível; logo por isso é um sentimento incrível de missão cumprida que deixa muito orgulho. Tenho uma enorme nostalgia por "Horizonte", que foi o primeiro. Tínhamos uma equipa maravilhosa, que gostaria que me acompanhasse em qualquer outra produção que eu possa vir a fazer no futuro. A experiência de rodagem desse filme foi muito enriquecedora, em termos de aprendizagem pessoal e de fortalecimento de laços de amizade. "Coisa Hindu" foi um exercício de fim-de-semana muito divertido. Guardo boas memórias. Mas continuo a ter a opinião que "Chasin’ The Bird" foi a curta-metragem mais valiosa, do ponto de vista de recurso da linguagem cinematográfica, e mais madura que fizemos. De todas as nossas curtas, essa é a que explora mais a função visual de realização, o uso da câmara com subtexto, a construção artística de um ambiente, de um tom, a narrativa codificada que exige uma interacção mais esforçada do espectador, a conjugação de vários elementos semióticos que dão outra profundidade ao filme. Não é um filme tão eficaz como o "Azeitona", na relação com o público em geral, mas é um filme que considero muito valioso. É uma interessante guloseima para cinéfilos, se é que posso dizer algo deste género. Posso também considerar que se "Azeitona" está mais directamente ligado ao meu coração, "Chasin’ The Bird" está mais próximo da minha mente, enquanto ser criativo.
Em que medida os prémios atribuídos em festivais podem catapultar uma possível carreira como realizador?
LC: São fundamentais. Porque permitem difusão, reconhecimento e vão ajudando a construir aquilo que um chamo de “pedigree” do autor. Quanto maior prestígio tiver o festival, mais possibilidades de lançamento de carreira se proporcionam. Porque o sistema de financiamento público de apoio ao cinema funciona muito com base no CV do proponente, logo é fundamental nessa perspectiva de carreira de produção, na Europa, que é totalmente dependente dos fundos de apoio estatais, ou nacionais, que o proponente vá “amealhando” prémios importantes. Felizmente à criação Portuguesa tem estado em óptima forma nesse aspecto tem havido muito reconhecimento internacional do cinema Português e em especial dos novos autores Portugueses, o que proporciona o vislumbre de um futuro risonho na afirmação do novo cinema Português pelo mundo.
Como olhas para o futuro do cinema tendo em conta o aparecimento da internet?
LC: É cada vez mais difícil conseguir fazer chegar um filme às salas de cinema, que são cada vez mais dominadas pelas grandes franquias internacionais, mas em paradigma é cada vez mais fácil de fazer filmes. Em termos técnicos e de equipamento cinematográfico disponível no mercado é hoje muito mais fácil de ter acesso a meios profissionais que permitam fazer coisas interessantes, embora o equipamento não seja tudo, ajuda a aproximar o trabalho em termos estéticos e estilísticos do que é standard no mercado e existe uma panóplia gigante de distribuidores digitais. A indústria de exibição e de distribuição cinematográfica mudou radicalmente nos últimos 10 anos, hoje começa a ser mais importante colocar um filme nas plataformas digitais de video-on-demand do que nas salas o Netflix, por exemplo, tem ganho uma projecção mundial incrível e isso também permite que, ao mesmo tempo, seja mais fácil cada filme encontrar o seu público independentemente do nicho a que se dirija. Há muitos distribuidores digitais, cada qual para o seu tipo de público, e a internet permite que um autor consiga comunicar de forma global. Em relação ao futuro do cinema, não sei o que dizer, ou pensar. Espero que as salas nunca deixem de existir, eu acho que a experiência social de ir ao cinema vai começar a encaminhar-se cada vez mais no sentido de filmes-experiência em 3D ou 4D, com inúmeros recursos disponíveis para estimular os 5 sentidos humanos, mas espero que os circuitos alternativos de filmes de autor não desapareçam, já que a tendência de diminuição de público para esse tipo de cinema é preocupante. Sei que a internet aproximou o mundo. De certa forma, democratizou o acesso à arte. Mas temo que seja cada vez mais difícil a arte se auto-sustentar com a evolução dos processos. Como não sei o que esperar da humanidade, logo não sei o que esperar do futuro.