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Batalha das conchas

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É uma série de documentários com sete episódios sobre uma espécie shelldweller do Lago Tanganyika.

Trata-se de peixes pouco comuns. Os neolamprologus multifasciatus (nome científico) são os menores ciclídeos do mundo. São conhecidos por exibir os comportamentos mais complexos entre todos os peixes e, esta espécie em particular, está um passo à frente, rivalizando com os grandes mamíferos sociais.
Sendo tão pequenos permitiu-lhes habitar nas vastas camas de conchas do Lago Tanganyika, onde formam grandes colônias e é a maneira como vivem em comunidade que os torna tão especiais. Eu achei incrível que nunca ninguém tenha contado esta história. Com tantos documentários sobre a natureza sobre todos os assuntos concebíveis, um cineasta jamais parou por um momento para ouvir o que estes peixes têm para dizer. Este projeto foi um show de um homem (e 6 peixes), com todos os perigos e vantagens que um filme totalmente feito por apenas uma pessoa normalmente tem. Embora eu seja responsável por tudo, inclusive pela filmagem, edição, pós-produção, música e escrita, este foi principalmente um grande trabalho de edição, que devo confessar que não sinto falta. Passar por mais de 1200 horas de filmagens de peixes dentro de um aquário não é algo que poderia facilmente "saltar" novamente sozinho. A narração está a cargo de Pemba, cuja voz pertence a Sílvia Vasconcelos, é o primeiro peixe a chegar ao conjunto.

Qual é o objectivo desta curta-metragem em vários capítulos?
Alfredo Reis Deus: O objectivo mais nobre da minha curta-metragem era chamar à atenção a falta de empatia a tudo o que nos rodeia. Vamos imaginar que a minha cadela, salvo seja, esta em sofrimento. Uma coisa é ela estar ao pé de mim e outra coisa é se ela estiver de 100 metros, 200 metros e até 500 metros de distância. Também sentimos essas diferenças consoante o animal, temos mais empatia por um ser vivo maior do por um mais pequeno. E desde que o mundo é mundo e que existe vida na terra a dor é sentida de forma semelhante. O que pretendia com este trabalho é que as pessoas conseguissem encarar animais mais pequenos com a capacidade de ter sentimentos muito próximos dos seres humanos e este foi apenas o primeiro filme. Pemba é um animal solitário, mas depois chega mais gente, não é bem aqueles que queria, mas sofre as consequências disso. Em termos de divulgação, só se alguém da indústria farmacêutica ver um potencial narcoléptico disto, porque com certeza este filme ajuda nas alturas em que se tem problemas de insónia. Queria transformar isto numa trilogia, é um drama clássico, aquele céu tem em si as sementes do inferno, até porque se trata de um ambiente com espaço limitado, queria fazer uma segunda sequência para continuar a série que teria como espaço a cidade e haveria problemas de sobrepopulação. A terceira parte seria levar a Pemba e os amigos de volta para a terra dos seus antepassados, o lago Tanganyika, em África, ou seja, viver o sonho que é algo perigosíssimo, porque isso tem a capacidade enorme de se transformar em pesadelo. Então vou explorar essa questão e se seriam comidos ou não. A ideia é essa.


É um retrato da solidão?
ARD: É. Na realidade existe um peixe a falar sozinho, quando na realidade há muita gente a falar por ele. Por um lado, eu que olhava para a Pemba e tentava perceber o que sentia. Por outro lado, eram também coisas que queria dizer e estava a dize-las através do peixe de vez em quando. Noutras alturas ainda, a parte mais brilhante da série, o peixe tinha conversas comigo e dirigia-se a mim, que controlar aquilo tudo, com conversas que às vezes temos com Deus, porque Ele sempre esta a olhar para tudo o que fazemos e controla as nossas vidas. Então, eles começaram a dirigir-se a mim dessa mesma forma. No final o peixe perdoa-me.


Escolheste o espaço aquário propositadamente porque transmite calma?
ARD: Não, para dizer a verdade gostaria de ter filmado inclusive no lago e até é a minha intenção é filmar em Tanganyika em África. Mas, para já aquilo pareceu-me surreal, o ambiente dos peixes e por detrás um cenário meio humano, meio natural e usar tudo para fazer uma série de paralelismos entre o que acontece na vida deles e o que acontece na vida dos que estão cá fora. Existe no fundo aquele mar imenso em frente e eles presos, mas na realidade não é uma prisão, porque os peixes também no espaço natural vivem num espaço do tamanho da mão e então ao longo da série joga-se com essas ideias.

É que se aconselha ter um aquário para diminuir o stress.
ARD: É verdade. Ali o que aconteceu é que cheguei a pensar num filme sem narração. Meti-lhe uma música de relaxamento e relaxava-me sem estar ninguém a falar, com todas aquelas imagens muito bonitas, pacificas, o mar ao fundo, aqueles montinhos de areia, as flores, os passarinhos e isso fazia-me bem nesse aspecto.


Depois há aqueles que acharam o filme extremamente chato.

ARD: E é (risos). Podemos vê-lo de muitas formas.


Decidistes apenas olhar para aquele microcosmos em tempo real e por isso não te preocupaste muito com o tempo?
ARD: Eu não me preocupei com o tempo por uma razão, normalmente trabalho com filmes encomendados, onde não tenho muita liberdade por assim dizer. Nesta situação é um filme que decidi fazer por minha conta e risco e então fiz o que não se deve fazer e na realidade não gosto que os outros façam o que é cinema de autor. Aquele cinema que uma pessoa faz o que quer e não quer saber se as pessoas gostam ou não gostam. Queria ter essa experiência uma vez na vida e na verdade algumas pessoas acham o filme chato e com razão. Por isso é que digo que a possibilidade disto ser distribuído é através da indústria farmacêutica, para pessoas com dificuldade de dormir à noite, seria um sucesso garantido. Por outro lado, a história que esta a ser contada é inacreditável que seja contada por animais, no total há 7 capítulos.


E a escolha do título?
ARD: Não era esse o título inicial, era para chamar-se "fish brother", porque era uma espécie de "big brother", com concorrentes que entram e saem ordeiramente, todos metidos num espaço confinado que faz aumentar as emoções só que com peixes. Por outro lado, pode-se chamar de "fish brother" porque dava a entender que as emoções que estavam a sentir eram muito parecidas as que temos ao longo da vida, ciúmes, amor, ódio, vingança e estava tudo lá. Esta é uma novela e nem vos passa pela cabeça o que vem a seguir.

http://www.youtube.com/watch?v=uMUgGbM6D20

 

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