Tens de facto colhido um enorme sucesso nos festivais e já ganhastes prémios. Isso surpreendeu-te?
BN: Com franqueza não (risos). O filme tem nove prémios, no total de 36 festivais onde foi apresentado. Quando cheguei ao fim do filme, estava satisfeito. Tem muitas limitações técnicas, e sabia que com pouco mais tempo e dinheiro, teria nas mãos o filme que queria mas tivemos os problemas decorrentes de qualquer produção com falta de meios. Mesmo assim, do ponto de vista narrativo e estético, estava bastante satisfeito com o resultado. Quando isso acontece, não esperava nada, mas estava optimista, porque o sou por natureza. Trabalhei muito até o acabar. Escrevi-o num dia, filmei-o num dia e meio mas depois demorei um ano e meio para acabá-lo.
Editar e adicionar a música?
BN: Sim, e diálogos adicionais, efeitos especiais, correcção de cor, etc. Isso levou muito tempo, mas significou que tive tempo para amadurecer a minha relação com o filme. Ainda sou muito crítico quando o vejo mas atendendo às circunstâncias que tivemos, fiquei satisfeito. Estava optimista e o sentimento cresceu quando o filme foi seleccionado para o London Film Festival. Foi a primeira vez que o exibi e logo numa sala com mil pessoas. Correu tão bem, que pensei: bom, o que queria passar passou. Depois os júris dos festivais podem gostar mais ou menos. É um filme muito simples, de alguma forma clássico, não tem grandes inovações, ou melhor, podia ter sido feito há dez, ou vinte anos atrás. É uma história contada de uma forma linear. Há festivais que não estão interessados nisso, querem temas mais actuais, politicamente relevantes ou querem filmes que tenham uma proposta estética mais arrojada, e isso eu percebo. Bom, mas começou bem, foi convidado para outros festivais, nomeadamente nos EUA, e esses foram um trampolim. Quando o filme foi escolhido para o festival de Tóquio senti que a escala era maior ainda, porque pelos vistos funcionava fora de um mercado anglófono.
Teria sido possível fazer este filme em Portugal?
BN: Penso que sim, estou seguro que sim. Mas em Londres há uma espécie de energia, muita gente a fazer coisas novas e essa atmosfera ajuda e motiva. Essa é a talvez a diferença entre cá e Londres. Espero fazer mais filmes, aqui ou na China e hei-de os fazer onde houver financiamento.
Vamos agora falar de outra faceta tua, o teu trabalho com dois grandes cineastas portugueses, José Fonseca e Costa e Manuel de Oliveira. Qual é a diferença mais marcantes, em termos de método, entre os dois?
BN: Para além do estilo e da mensagem dos seus filmes, no “fazer”, a grande diferença entre Fonseca e Costa e o Oliveira é que o primeiro investe mais no trabalho com os actores do que o segundo, Isto não significa que o trabalho de um seja melhor do que outro, são diferentes. É também verdade que trabalhei para eles numa fase bastante inicial da minha carreira e tinha tudo para aprender. Vindo de um curso de História, aprendi muito com ambos mas não seria capaz de dizer que os meus objectivos como realizador sejam de alguma forma uma reflexão daquilo que aprendi com eles.
Quais foram os filmes em que participastes com o Fonseca e Costa e Oliveira respectivamente?
BN: O “Fascínio” foi uma adaptação de um romance de um escritor brasileiro, (Tabajara Ruas) e com o Oliveira, trabalhei no “V Império”, um filme sobre Dom Sebastião. Aprendi observando atentamente a técnica de ambos mas a verdade é que são estilos muito diferentes e não consigo, nem conseguirei nunca dizer como influenciaram a minha forma de fazer cinema. Eu falei muito com o Manuel sobre o tempo e o movimento dentro do objecto cinematográfico e talez por isso só mexa a câmara, faça um novo ângulo, quando exista um motivo muito forte. Mas este é um aspecto que pode vir a mudar. Por agora, não me identifico com uma linguagem com muitos ângulos de câmara, mas bom…depende muito do que estás a fazer e o que quero fazer agora tem um tempo relativamente lento e uns planos que não são forçosamente dinâmicos. O meu plano tem que enaltecer aquilo que a minha personagem está a fazer. Eu sinto necessidade de ter um controle muito grande sobre o filme, e a partir do momento em que ponho a câmara ali, só porque faz um plano “bonito” abre-se um precedente perigoso. Gosto de um cinema espartano, com pouca gordura., enxuto, esta lá aquilo que tem que estar, sem flores, não sei se me faço entender. Eu gostaria de conseguir fazer filmes com essa simplicidade.
Quais são as tuas referencias cinematográficas?
BN: Muitas. Se tiver mesmo de dizer algumas, o Malik, o Bergman, o Billy Wilder, o Kurosawa, todo realizadores porque quem nutro um enorme respeito, mas não há de maneira nenhuma um ou dois que sejam mais importantes.
Falámos destes projectos mas sei que tens outros em andamento.
BN: Este projecto abriu-me muitas portas, o que me permitiu escrever um guião para uma longa-metragem que quero fazer e entretanto surgiu um convite para realizar uma curta-metragem na Madeira. Correndo tudo bem venho cá filmar no próximo ano, enquanto o outro projecto está em preparação.
Qual é o tema que vais abordar desta vez?
BN: Não te posso dizer ou então teria que te matar e a entrevista não saía (risos). Mas posso adiantar que o mar volta a ser muito importante. Não será sobre o tecido social actual da ilha, porque não estou interessado em fazer um filme sobre isso, mas vai usar o drama da nossa paisagem e mais não digo. A longa-metragem passa-se numa pequena cidade escocesa perto do mar (outra vez!) onde também existem uns campos de golfe -não é tão diferente assim da Madeira- e é um ritual de passagem de quatro adolescentes na última semana de verão, antes de começarem a faculdade, ou a trabalhar. É um guião original de um escritor escocês, com quem estou agora a trabalhar.