Também não passa muito pelo download ilegal de filmes?
LA: Passa muito por aí, mas que posso fazer?
Então, como é que uma pequena distribuidora pode sobreviver 3 anos?
LA: Olhe para já, onde outras pessoas têm 10 trabalhar, nós somos dois. Fazemos tudo, desde ir aos festivais comprar até fazer caixas de cartão para enviar à Fnac. É um acto voluntarioso, para se estar neste meio tem de haver paixão, ter um pouco menos de exigência pessoal.
Tendo a experiência destes 3 anos e olhando para o panorama actual e como tudo esta interligado, como vê o futuro?
LA: Esta tudo de facto interligado e a internet é um parafenómeno, posso dar a minha opinião pessoal mas conta pouco, estamos num mundo confuso, onde ninguém acredita naquilo que ouve e o cinema de autor desse ponto de vista, comparando com os outros fala das coisas e não do que parecem. Se me disser o que vai acontecer aos mercados financeiros, eu posso dizer o que vai acontecer ao cinema de autor, o mundo esta a discutir uma série de coisas que vão ter de ser recentradas.
Como?
LA: Distinguir o que é essencial do que é acessório. Não sei dizer, porque o cinema reflecte a sociedade e vice-versa. Vivemos num mundo em que ninguém sabe o que vai acontecer para o próximo ano.
Olha para a internet como algo que só o prejudica, mas também há o outro lado.
LA: A divulgação. O problema é muito complicado.
Há filmes que já se conseguem financiar desta forma.
LA: Isso não é verdade. É apenas de um ponto de vista amador. Não é possível ter o cinema que temos, nem as pessoas que temos que são funcionários altamente qualificados a trabalhar sem pagar. É impossível pensar isso. Se pudéssemos tirar vinho da internet, inevitavelmente acabava por não o fazer, porque as pessoas que trabalham nesses meio, para aquele vinho poder existir, se não são pagas pelo seu trabalho, a economia cai pela base. Não podemos acreditar que podemos ter acesso as coisas sem as pagar. As pessoas que vêm cinema à borla e não há outra palavra para isto, é um roubo. O problema é que isto cai em buracos legislativos e hábitos culturais onde ninguém sente que ao tirar de gratuitamente um filme da internet é o mesmo que roubar do supermercado. Obviamente que esse é ponto essencial. Mas, não vai ser possível ter profissionais a trabalhar se as pessoas não são pagas. Eles são pagos quando as pessoas compram os DVDs, ou compram um bilhete no cinema, ou vão a um vídeo clube alugar um filme. Não é possível sustentar o meio se as pessoas acham razoável e justo ver as coisas sem pagar.
Então é mais fácil distribuir um filme premiado em festivais, como é caso do Tabu?
LA: Nós só demos uma ajuda na distribuição em DVD. Os festivais têm esse lado de poder chamar à atenção sobre uma série de filmes. É mais ou menos como tudo na vida, como a marca do iogurte ou do pneu, as pessoas reconhecem o que é evidente e já tem nome. Obviamente que o Tabu já é um nome reconhecido, o problema é como que as pessoas que fazem coisas boas e passam despercebidas chegam a um determinado patamar? E desse ponto de vista, os festivais de cinema, como uma mostra de queijo, ou a festa da cerveja, é um sítio onde uma serie de gente incógnita chega e tem um prémio, que não lhe dá grande notoriedade, nem vida garantida, mas chama á atenção para algo que é especial, pelo menos melhor que o resto e que vale a pena provar. É óbvio para quem está a começar e não tem nome na praça, é para isso que os festivais existem. É preciso frisar isto, a importância do papel das políticas públicas culturais, é por isso que a maioria dos festivais é subsidiada por dinheiros públicos. É para isso que existem, para um público cinéfilo que não tem salas que passem a maior parte destes filmes e aí tem uma oportunidade, mas também é muito bom para quem faz filmes ter um espaço nobre para mostrar o seu trabalho.
Então considera que o trabalho do Instituto de Cinema e Audiovisual (ICA) é essencial neste processo?
LA: É absolutamente essencial. Não é possível nem em Portugal, e não quero discutir as nuances dos filmes independentes americanos que diferem do resto, nem na Inglaterra, em França, ou qualquer parte da Europa e até China é impossível ter um cinema de autor minoritário sem ter apoios públicos nenhuns. É impossível. Para termos cinema que não seja o americano de Hollywood em Portugal tem de ser o ICA. Se esta a fazer tudo bem ou tudo mal estamos a viver momentos de emergência e é preciso deixar que o país assente em qualquer coisa que não se percebe, para depois podermos chegar ao pé do ICA e dar a nossa opinião em como as coisas podem ser melhores. Criticar ou elogiar esta instituição é o reflexo do país, não sabemos o que vamos ouvir amanhã. Fundamental é fazer coisas melhores, mas agora não é o tempo de estarmos aqui a discutir detalhes num período de absoluta emergência nacional.