Existe sobrepesca no arquipélago ou não?
MF: O que acontece é fora das nossas águas, da nossa zona económica exclusiva, aparecem barcos asiáticos, da Formosa, ou do Japão, que capturam tubarões, felizmente são raros cá, mas estas embarcações fazem o finning, ou seja, tiram as barbatanas do peixe, porque na Ásia há o consumo de sopa de barbatana.
O mesmo acontece com as raias ou não?
MF: As raias muitas vezes são apanhadas por causa da barbatana caudal que é utilizada para decoração.
Outra das observações que se tem feito na ilha é o maior aparecimento de águas vivas.
MF: Sim, estamos a fazer um trabalho em que pedimos a ajuda para já dos complexos balneares do Funchal. Eles diariamente apontam numa folha de registo a espécie e assinalam a sua abundância na água, já que, existem quatro tipos de medusas na Madeira. No campo das observações pedimos para colocar sempre que possível a temperatura da água do mar e se nesse nicho de alforrecas há poluição visível. Esse trabalho teve início em Julho e é para perdurar ao longo dos anos.
Este estudo surge da constação das pessoas, que embora não haja poluição visível aparecem águas-vivas na mesma no mar?
MF: Esta provado que o aquecimento das águas acarreta o aparecimento de medusas. As duas causas apontadas pelos estudo científicos para o seu aparecimento em maior número, são a sobrepesca que desequilibra toda a cadeia alimentar, por outro lado, o aquecimento das águas do mar. Com mares mais quentes, o que se esta a passar é que as águas-vivas aparecem mais ao longo do ano, enquanto que antes, tínhamos a percepção que só se avistavam no verão. Na páscoa, por exemplo, na ilha do Porto Santo houve dois dias em que não se pode entrar na água tal era a sua quantidade. O registo desses dados é que é importante para nós.
Esses indicadores acabam por demonstrar que o homem afecta directamente os ecossistemas, o que gera um desequilíbrio?
MF: Sim, eu penso que é do conhecimento comum que desequilibrámos o sistema natural, agora, até que ponto fazemos isso? É o que torna a investigação científica muito importante, porque obter estes dados, fazendo o seu registo de uma maneira sistemática, é que permite afirmar com toda a certeza, que as águas-vivas ocorrem em maior número numa determinada epóca do ano, do que anteriomente.
Quais são as consquências do maior aparecimento destas espécies no mar?
MF: Existem duas consequências negativas, uma é o usufruto do mar em si, a maior parte dos residentes e os turistas que nos visitam não gostam de entrar no mar com águas-vivas, porque como é normal, correm o risco de serem queimados. E o segundo motivo é que estas alforrecas alimentam-se das larvas de peixe, quantas mais houver, mais comem e num futuro próximo a consequência mais visível é termos menos peixes nas nossas águas.
Outro dos programas que a estação esta envolvida é o marprof.
MF: Trata-se de um projecto que visa estabelecer as bases para uma exploração sustentável do mar profundo. É o culminar de uma série de projectos de investigação, que vem desde 2003, em que estivemos a estudar os mares da Madeira, entre os 250 e os 2,500 metros de profundidade. Por um lado, para inventariar a biodiversidade nessas profundidades e para descobrir outras espécies que tenham potencial de ser comercializadas. Quais foram esses espécies? A gamba da Madeira, que é um camarão que atinge um certo tamanho, o caranguejo da fundura e andámos a estudar melhor o peixe espada-preto. O culminar do marprof, o seu objecto final, foi um livro de receitas que junta toda a informação sobre estas espécies em profundidade, de como poderá ser pescado, comercializado e utilizado na gastronomia madeirense. No fundo juntámos estes três pilares com 60 receitas originais em conjunto com os chefes das escolas de hotelaria e turismo da Madeira, dos Açores e das Canárias.
Este estudo surge, porque há um certo esgotamento dos stocks piscatórios do arquipélago, ou não?
MF: Estão a diminuir, a ilha sempre viveu de três pescarias essenciais, o atum, o peixe espada-preto e a ruama, que são pequenos peixes. As quotas de pescas, por outro lado, tem diminuído, a UE aperta mais nesse sentido, não se pode pescar. Então a ideia foi arranjar outras espécies que possam constituir alternativa, fala-se muito da defesa da espada-preta, assim quando fosse a época da reprodução desta espécie, nós gostaríamos de proporcionar aos pescadores outras opções. Foi esse o estudo, no caso da gamba da Madeira esta feita a avaliação que entregámos ao secretário regional do ambiente, com as quantidades que se podem pescar e o número limite de embarcações na arte de pesca, para que se possa abrir a época de pescaria de forma sustentável.
A estação marinha do Funchal comemora este ano 15 anos de existência. Existem os dias abertos para o público em geral, mas que outras iniciativas pretendem promover para comemorar esta efeméride?
MF: Durante o ano, na última segunda-feira de cada mês, abrimos as nossas portas para o público em geral e ficámos cheios de visitas. Depois durante o verão, no último sábado de cada mês, temos as noites abertas, que é uma actividade para toda a família, em que há um convidado, uma palestra, documentário, ou uma projecção para os mais mais adultos e os mais pequenos usufruem de actividades educativas em que ficam a conhecer a biologia marinha do arquipélago. Este ano, como comemorámos os 15 anos, vamos proporcionar baptismo de mergulhos, apartir dos 10 anos de idade e aos adultos, uma primeira experiência da parte submersa do mar da Madeira. No dia 27 de Setembro vamos organizar um passeio de caiaque, já que o aniversário é no dia 28, na área em volta da estação, onde se espera que seja o futuro ecoparque marinho do Funchal, é um projecto da Câmara Municipal local, para transformar esta área em paisagem protegida e portanto, para acções de sensibilização para a protecção do mar.