
“Madeira em transição” é um grupo de pessoas que procura mostrar novas possibilidades, novas formas de construir um mundo melhor, mais sustentável e mais amigo do ambiente. São sobretudo olhares de esperança que pretendem reverter a ideia de uma sociedade cada vez mais desumanizada e menos solidária.
Como é que surge o grupo “Madeira em transição”?
Margarida Sousa: O grupo nasce a partir de uma conferência do Álvaro Fonseca, docente na Universidade Nova de Lisboa, sobre “o renascer da cidadania”, no final toda a gente tinha questões e problemas que pretendiam resolver. Então decidimos marcar um encontro, sob o título “construir um novo mundo” e cada pessoa trouxe para a conversa o que achava que era importante para mudar a nossa sociedade e assim surge o “Madeira em transição”. As pessoas reúnem-se e uma delas sugeriu a criação de uma feira de trocas, outra realizar um ciclo de cinema e outra ainda queria trazer danças tradicionais europeias. O nosso lema é partilhar uma ideia e assim há uma maior probabilidade de acontecer. As pessoas trazem esses projectos e quem se identificar e quiser que aconteça, participa.
Outras das vertentes do grupo são os workshops.
MS: Isso surgiu na feira de trocas, para esse evento em particular convidámos o banco de germoplasma da Universidade da Madeira. Eles trouxeram as suas sementes, nós trouxemos as nossas e houve uma troca. Depois achámos por bem, para além das sementes, haver uma formação onde nos ensinavam como recolher as sementes e explicar o funcionamento do banco, isto porque o grupo está muito ligado a permacultura e tudo o que é ecologia e sustentabilidade. Todos os workshops nessas vertentes interessam-nos. Outro dos projectos que emergiu no âmbito “Madeira voluntária” foi a criação de um viveiro de plantas comunitárias e para isso, já entrei em contacto com a direcção regional de agricultura que nos vai dar formação para podermos implementar esta ideia.
Onde começaram os trabalhos?
Maurília Cró: No Ribeiro Francês, em Santa Cruz. Depois da limpeza, após os incêndios, tivemos a fazer a recuperação da zona, do solo. Uma das coisas que ficou totalmente destruída foi a terra, estava preta, queimada. Foi devastador. Como temos alguns conhecimentos na área da permacultura, que fala essencialmente de cuidar do solo e da terra, achámos por bem pôr em prática o que estávamos a aprender. Estivemos a alinhar troncos por causa da chuva que esta para vir e vamos começar a fazer um viveiro de árvores e de plantas para depois replantar, já que estamos nesta primeira fase que é a preparação do terreno. À partida vamos usar hortícolas e árvores de fruto para começar a replantar.
Conta-me um pouco qual foi a reação das pessoas ao chegarem ao local?
MC: Foi muito interessante. As pessoas receberam-nos de braços abertos. Elas perderam tudo, tinham as casas ardidas, mas estavam preocupadas com o seu jardim, já não o tinham. Queriam flores, orquídeas e sapatinhos. Isto demonstra o valor que as pessoas dão as plantas.
Quantos elementos integram o grupo ao todo?
MS: É difícil quantificar, porque é um grupo muito aberto. Na feira de trocas tivemos 150 pessoas, depende muito de evento para evento. Nas reuniões gerais já tivemos entre 10 á 30 pessoas. É muito variável. O nosso lema é: posso estar aqui hoje, mas amanhã posso não estar. Não temos um organigrama, não há presidentes.
Funcionam como um colectivo?
MS: Sim, vive muito das pessoas. As coisas acontecem, porque alguém se compromete. Aqui todos somos responsáveis e se queremos que um evento se realize, temos de faze-lo acontecer.
Mas, a Madeira em transição não esta sozinha faz parte de um movimento internacional.
MS: Sim. Surgiu em Inglaterra e neste momento está espalhada pelo mundo inteiro. O objectivo é construir comunidades mais resilientes, mais sustentáveis e diminuir a nossa pegada ecológica. Há mesmo um site com todas as transições que existem no mundo e geralmente os agregados resultam de áreas específicas, ou seja, há um grupo para a educação, outro para o ambiente, etc. Nós não temos um lema exclusivo, trabalhámos numa dinâmica mais ambiental, da permacultura e temos algumas coisa na área da educação, mas grupos em termos formais ainda não. Há também uma série de princípios, que promovem entre outras coisas, o respeito pelas pessoas mais velhas, pelo conhecimento que possuem e que procurámos colocar em prática, já que é uma experiencia fantástica. Outro dos objectivos, como referi anteriormente, é tentar diminuir a nossa pegada ecológica e procurar soluções alternativas que sejam sustentáveis e amigas do ambiente.
http://madeiraemtransicao.wordpress.com/