Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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A cristalina

Escrito por 

Ana Moreia possui já um curriculum extenso em termos de representação, apesar de jovem. É uma das poucas actrizes que consegue trabalhar em permanência no cinema português. Um palmarés invejável que inclui alguns das personagens mais emblemáticos da cinematografia nacional e ainda, alguns prémios internacionais.


Com uma carreira extensa no cinema, que começastes desde muito jovem, como encaras à evolução da cinematografia portuguesa desde essa altura até os dias de hoje?
Ana Moreira: É um cinema muito rico, com muita história. Temos óptimos realizadores como o João Botelho, o Manuel de Oliveira, a Teresa Vilaverde e o Jorge Caniça que contribuem todos para este universo que é o cinema português, apesar de vivermos uma crise em tudo o que seja relacionado com a cultura, o cinema é de facto uma forma de arte para se practicar. No entanto, há todo um sangue novo com cineastas novos como o José Salavisa, o Rodrigo Areias, ou o Jorge Quintela que são jovens promessas do cinema português e que vejo como um grande futuro pela frente.

Já trabalhastes para realizadores masculinos e femininos, notas algumas diferença ao trabalhar com eles e elas?
AM: Não.

Dos papéis que estivestes ao longo da tua carreira, quais foram os que te apresentaram um maior desafio em termos de representação? Na corte do Norte representastes mais do que um personagem, mas em Transe, por outro lado, tivestes de aprender uma língua. Qual delas te exigiu mais?
AM: À sua maneira todos os papéis são diferentes e desafiantes, assim como trabalhar com diferentes realizadores traz toda uma nova práctica de representação, porque todos exigem coisas diferentes para os personagens que criaram. Algumas personagens são fisicamente e psicologicamente mais desgastantes até porque a própria rodagem é diferente. Quando estas fora do teu país, da tua casa, ausente do teu quotidiano entregastes mais profundamente á personagem, porque não tens as referências do teu dia-a-dia e vives tudo mais intensamente. Se calhar com a Teresa Vilaverde, ela sempre escreve personagens femininas muito fortes e tive com ela talvez assim momentos marcantes e bons ao nível da representação. Com o Botelho, com "a corte do norte", tive a sorte de embarcarmos nesta aventura dele acreditar que no mesmo filme eu era capaz de fazer cerca de seis mulheres com temperamentos e de épocas diferentes. Foi todo um trabalho de actor e teve de haver uma confiança muito grande entre mim e o realizador para acreditar-se no trabalho e ser-se generosa.

Como consegues descascar-te dessas personagens? É um processo difícil?
AM: Não, é difícil. Essa coisa de levar-se o personagem para casa e ficar a sofrer, não, não. Isso para mim não funciona assim, não há regras da maneira como deve ou não funcionar, o que acontece é que de alguma maneira a personagem no dia acaba, as cenas que tínhamos para fazer estão cumpridas, no dia seguinte haverá mais, quando muito a personagem fica adormecida, latente debaixo da pele e quando preciso vou busca-la outra vez, mas procuro não sofrer, o cinema deve ser algo bom.


Tens alguns projectos cinematográficos neste momento?
AM: Neste momento tenho o novo filme do Miguel Gomes que já arrancou, chama-se "as mil e uma noites". No mês passado terminei de filmar com o João botelho, "os Maias" e ainda este mês vim de filmar no recife um projecto brasileiro de um realizador que se chama Daniel Aragão.


São personagens muito dispares entre si?
AM: São, o filme dos Maias é época e clássico. O filme do João Aragão é contemporâneo, absolutamente moderno e actual. O Miguel Gomes vai ser outra vez um universo de ficção, documentário e fantasia. Vai ser outra aventura até porque a rodagem vai decorrer durante um ano.


Fora de Portugal?
AM: Não é tudo sobre Portugal.
A tua personagem é que tipo de mulher?
AM: Ainda não sei porque não há guião. O Miguel é tudo na hora, é tudo pelo improviso.


Isso preocupa-te como actriz o facto de teres apenas uma sipnose, ou nem sequer ter um guião, ou por outro lado, ter um texto extremamente elaborado?
AM: Não me preocupa. Isso faz parte do trabalho saberes-te encaixar na metodologia de cada realizador. Há cineastas que preferem trabalhar com algumas guias e é isso o guião, porque tudo muda ao longo da rodagem e até o próprio realizador pensa em algo num dia e de repente pode querer mudar o mesmo plano, a ideia, ou o diálogo. Isto é que é bonito no cinema, é estar sempre a transformar-te mesmo no presente. Não é algo que chegas ao plateaux, abres o guião e dizes: agora vamos filmar cena oito, numero 3 e tu ficas aí. Não, podes-te transformar no momento, porque as pessoas com quem trabalhas dão-te outros estados, outras referências, de repente esta sol e depois esta chuva e dá-te vontade de fazer as coisas diferentes, ou acordaste com outra ideia na cabeça e isso é que é bonito.

 

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