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A fada orgânica

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A “snailorganic” é um conceito sustentável, uma forma de vida ancestral que permite reaproveitar tudo o que a terra nos dá e reciclar o já existente de uma forma eficiente . É um projecto biológico da Sandra Lopes Santos que abrange a gastronomia, a decoração e os utensílios do quotidiano. É uma forma de estar mais ecológica, em harmonia com o que nos rodeia. Sem pressões, sem pressas.

Em que consiste o projecto snailorganic?

Sandra Lopes Santos: É um projecto orgânico, ou seja, começou com as casas de banho ecológicas e depois explora tudo o que a terra nos fornece. Buscar tudo o que os animais nos dão, reutilizar no bom sentido. Não é viver numa barraca, é usar os materiais menos nobres e dar-lhes uma nova roupagem.

É um conceito que aplicas na tua casa, ou também pode ser usada nos outros?

SLS: Na minha casa e em todo o lado. Recentemente alterei a casa de uns amigos belgas, que vivem na Ponta do Pargo, revirei tudo e eles apanharam um susto quando voltaram. O que fiz foi reorganizar tudo no bom sentido, não é que a casa estivesse desarrumada, mas uma pessoa fora desse ambiente consegue ver tudo com mais nitidez. O objectivo foi tornar mais eficiente um gesto quotidiano, por exemplo, eles têm cactos que em termos de rega não era eficaz, adaptei-o de forma a ser mais eficiente.

Mas, a decoração não é a tua única vertente. Também fabricas as tuas próprias bolachas orgânicas, doces, queijos etc. Retiras tudo do teu terreno?

SLS: Sim, a maioria. As bananas-prata não são minhas, mas são certificadas, provém de um amigo produtor na Ponta do Sol. Tiro proveito de tudo o que a ilha oferece. É uma terra maravilhosa. As pessoas, por vezes, não usufruem tudo o que ela tem para oferecer. O tecido madeira é fantástico, por exemplo. Foi tão explorado naquele padrão que é difícil retira-lo desse contexto, mas é interessantíssimo e temos que estar abertos para outro tipo de indumentárias, de aí ter feito uns cintos, acho que alterou e limpou essa imagem. Gosto de misturar e as pessoas tem-me transmitido um bom feedback nesse sentido.

Recentemente mostraste o teu trabalho numa feira. Achas que o público esta muito atento a estes novos conceitos?

SLS: Muito atento. Claro, que umas pessoas podem não aceitar, há sempre um mas, ou um se. Existe sempre uma interrogação. Actualmente, temos mais meios de ser nós próprios, divulgar e termos a certeza daquilo que estamos a afirmar. Há vinte anos atrás, ninguém sabia o que era uma casa de banho seca, mas já o fizemos. O caminho é este, contudo, estou consciente que não é uma trajectória para todos, claro que não. Por outro lado, porque não? O caminho passa por retomar o que sempre fizemos, pescar, caçar, plantar e colher. A sociedade desumanizou-se, eu inclusive, nesta loucura de vida. Quando parei, tentei observar o que estava à minha volta, tentei transmitir aos outros coisas boas, nem que seja agradável à vista. Mesmo que o meu projecto ficasse por aqui, senti que o tinha concretizado.

Como é que uma produtora de televisão, com uma vida associada as inovações tecnológicas, passa para o outro lado?

SLS: Eu continuo a ter as duas. Não largo uma para ter a outra.

Não é uma contradição?

SLS: Não de todo. Há uma complementação. Eu necessito de internet para divulgar o meu projecto. Todas essas tecnologias são vantajosas. Na televisão uma das coisas que aprendemos é a dominar a luz, de onde que vêm. Eu era produtora de locais, ou seja, tinha de saber tudo sobre uma determinada zona. Este tipo de experiencia ajuda-me neste trabalho, como forma de interpretação, porque já sei como tirar proveito de um ambiente. Claro, que não é perfeito, tenho é mais uma ferramenta que posso usar. Utilizo isso no meu quotidiano, levanto-me cedo todos os dias, crio um ritmo de trabalho que quase preciso de prende-lo. Agora estou com uma dificuldade de parar e criar outros objectos. Tudo o que faço é único e original e espero manter essa componente no meu projecto, porque ao tornar-se idêntico alteram o conceito.

Porquê snailorganics?

SLS: Vêm da agricultura que quer dizer em caracol. As hortas são em caracol. O caracol também um símbolo, andar com a casa às costas. Num futuro próximo quero ter uma roulotte, com o meu pão de forma, as bolachas e a comida. Ter os meus tarecos lá dentro, fazer uma cozinha maravilhosa, viva, orgânica e com movimento. É um projecto interessante.

 

Como encaras o snailorganic num futuro próximo?

SLS: Não consigo fazer qualquer tipo de previsão a esse nível. É um dia atrás do outro. Notei que tive uma grande aceitação do publico acima de tudo e isso é muito bom, é uma espécie de prospecção de mercado que estou a acabar de fazer e ajuda a verificar o que funciona ou não, o que é interessante naquela parafernália de coisas que gosto de fazer. As bolachas, por exemplo, na feira, ninguém as comia porque eram muito bonitas (risos). Ao nível da cozinha, tem sido muito bom, eu sou boa cozinheira, meus pais são alentejanos, tenho uma cultura muito grande em termos gastronómicos e adapto tudo isso no meu projecto. Para mim, esse aspecto, nunca foi uma novidade, sempre fiz grandes almoços, jantares e estou perfeitamente á vontade. Faço pão caseiro, queijo de cabra, porque as tenho. Deixo fluir, como o caracol. Mas, a natureza é o fio condutor, a agricultura, os animais e os trabalhos manuais.

Dás formação?

SLS: Ainda, não. Seria um passo. Brevemente. Há muita gente a dar formação. Quero fazer coisas interessantes, para não cair no mesmo que os outros fazem. Não gosto da palavra workshop. Ainda tenho tudo em banho-maria, mas já tive convites para ir ensinar. Há sempre ideias, não inventámos nada. Umas são mais perspicazes, mais inovadoras que outras. Gostava de fazer formações para as crianças, pensei no Maktub, mas tem de ser muito devagar. Ainda bem que tenho o caracol, para ser bem feito e sem pressa.

http://www.facebook.com/SnailOrganic

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