
Os “bolo do caco” nasceram de uma vontade indómita própria da juventude de marcar a diferença. É um grupo de teatro que se distingue pelo equilíbrio entre o intelectual e popular. Pelo belo e o banal. Pelo não conformismo que teima em assolar a sociedade e que pretendem contrariar. Agora, eles têm um espaço fixo, onde você também pode aparecer, o número 116 da rua de Santa Maria, no Funchal.
Fala-me um pouco sobre o grupo de teatro bolo do caco.
Xavier Miguel: O grupo surgiu em 2011. Fizemos uma peça que é “o médico engenhoso” de Molière e que apresentámos um pouco por toda a ilha. Depois fizemos algumas animações, nomeadamente na semana da poesia.
Era necessário mais um grupo de teatro amador na Madeira? Existem já vários. Em que vocês se distinguem?
XM: É verdade, existem alguns. Não que haja imensos. Há grupos que fazem uma peça de teatro e acabam. Eu decidi criar um que seguisse os nossos ideias, que reflecte um teatro popular, mais divertido e dinâmico com conteúdo. De um lado intelectual e o oposto, mais popular. Gosto desse equilíbrio. Temos piadas intelectuais e “parvas”. Gosto dessa mistura, porque há grupos que apenas fazem comédias e outros um teatro mais sério, mas eu queria algo muito próprio, um ao nosso estilo.
Quantos membros integram o bolo do caco?
XM: Somos 10 ao todo, embora não tenhamos uma equipa fixa. Há esses oito a dez elementos que trabalham em todas as peças. Para esta em particular, “rabos-de-peixe, episódios da zona velha”, temos uma equipa de 20 pessoas.
Fala-me um pouco desta peça, o que tem estes textos de particular?
XM: A escolha do texto surgiu com o espaço. A zona velha. É uma área urbana que passou por uma expansão social e económica e em termos culturais ainda não tinha acontecido. Tivemos a “casa dos poetas” que teve duas exposições e esta sempre fechada. O “espaço das artes”, por outro lado, que tem sempre as mesmas coisas e os pintores queixam-se que não vendem os quadros expostos e fora isso, não existe mais nada. E por isso, pensei em aliar o conceito do palco fora do palco, que vai de encontro a ideia do festival on, mas neste caso com teatro. A ideia é criar não uma zona pontual, mas fixa. A casa é do grupo de teatro “bolo do caco” e dos “mad space invaders” e vamos utiliza-la para divulgar trabalhos nossos e de acolhimento. Faltava um espaço cultural nesta zona. Em paralelo, queríamos fazer uma peça sobre esta área antiga da cidade do Funchal, a zona velha. Estive a pesquisar e não havia nada escrito, falei com escritores e quando refundei a casa encontrei o livro de João Carlos Abreu, “Joana, rabo de peixe”, que nem sequer me tinha ocorrido. E fez-se um click. É um livro que retrata personagens e episódios que aconteceram na vida real, por mais espantoso que possa parecer, era verdade. O dia-a-dia das crianças, das mulheres, as prostitutas, dos pescadores e das suas confusões. Dos meninos que mergulhavam na praia para apanhar moedas dos estrangeiros. Peguei nesse texto, porque achei que era bonito e poético. Como no grupo de teatro temos sempre um conteúdo intelectual adaptei-o com um estilo “amanteigado com alho”. É uma peça que oscila muito entre os miúdos que jogam à bola e o casal que esta a pancadaria em plena rua. A bêbeda que grita com a outra mulher embriagada, porque esta roubou-lhe o namorado. É uma peça de equilíbrios.
Porquê “bolo do caco”?
XM: Porque é madeirense. Estou a liga-lo a ilha, é popular. É um grupo com raízes culturais, antigas, tem tradição e história. O “bolo do caco” é um alimento que é saboroso e sacia, a arte e a cultura também alimentam a sociedade e a divertem