Agora, nesta tua nova fase profissional, tu não te limitas a dar aulas de culinária, também há todo um estilo de vida envolvente.
TM: Exactamente. Aliás, as aulas de culinária que dou são um acrescento à minha actividade macrobiótica. É uma filosofia de vida que se dedica ao princípio de que no universo somos regidos por duas forças opostas, mas complementares. Os cristãos chamam-lhe o céu e a terra, os orientais denominam de ying e yang que abrangem todo os fenómenos da natureza. Se conhecermos exactamente em que grau, de que forma nos afectam e aos nossos alimentos, ou seja em tudo, vamos criar uma melhor harmonia com aquilo que comemos. Não é uma dieta, é saber o que os alimentos podem fazer por nós em termos de equilíbrio e prevenção da doença. Existe nesta filosofia de vida uma forte componente terapêutica. Cada vez mais existem estudos que corroboram os benefícios de um estilo de vida macrobiótico, que tem benefícios comprovados em vários tipos de cancros do sistema digestivo, ou em doenças como a diabetes, a glicemia e o colesterol. Enfim, todos estes aspectos podem sofrer uma melhoria.
Em que diferem concretamente dos vegetarianos, porque há sempre uma certa confusão entre estes dois tipos de alimentação.
TM: A pirâmide de alimentação macrobiótica baseia-se nos cerealíferos. Biologicamente somos constituídos á custa dos cereais, devido a nossa alimentação e dos nossos intestinos. Os herbívoros, por exemplo, tem um intestino muito curto quando comparado com o dos carnívoros. Nós estamos a meio caminho. A seguir vêm os vegetais e as leguminosas e não consumimos lacticínios, nem carne. Vamos buscar alguns nutrientes as algas e como eu digo está baseado nessa filosofia. Eu olho para ti faço um diagnóstico e vejo que a tua condição necessita de alimentos mais yang, para balançar a tua condição mais ying. Esse conhecimento dessas energias, dessas forças que comandam o universo, é o que aprendemos. No vegetarianismo se pedires um pacote de batatas fritas e pudim flan estás a cumprir as regras, mas estás desequilibrado na tua alimentação. Não se rege por um conceito filosófico. Os nossos mestres dizem algo muito acertado, filosofia sem prática não vale nada, prática sem filosofia é muito perigosa. Por isso, nós temos base de sustentação. O mais curioso é que a organização mundial de saúde mudou a pirâmide alimentar para uma que é muito parecida com a nossa. Na base tem os cereais, claro que não são os integrais, tem os refinados, com mais massas e pão. Nós utilizámos os cereais menos refinados possíveis tendo em conta à época do ano dos alimentos, enfim há uma serie de condicionantes. Na macrobiótica nada é proibido a não ser a ignorância, dizem os mestres. Ou seja, posso comer uma pizza, ou um doce e sei o que isso vai fazer ao meu organismo e como me vai fazer sentir emocionalmente.
Tu fazes também uma espécie de consulta.
TM: Sim, fiz uma formação em consultadoria, que me permite usar várias ferramentas para ser consultora macrobiótica. Dou uma orientação alimentar e de estilo de vida individual. Cada consulta leva duas horas, tendo em conta a postura emocional de cada pessoa e conforme o caso vamos orienta-la. Posso dizer a alguém que: precisas de sair e ir dançar. A outra pessoa posso sugerir: necessita escrever. Enfim, mil e uma coisas. Numa consulta macrobiótica nos ouvimos as pessoas, os seus ritmos e sob a luz deste estilo de vida, vamos aconselha-la para poder ganhar saúde e sentir-se melhor com ela própria. As aulas de culinárias são um anexo ás consultas, porque não posso pedir as pessoas que mudem a alimentação sem ensinar-lhe que os pratos afinal são saborosos e que lhes vão fazer bem.
Como é que tem sido o acolhimento do conceito tão inovador numa ilha?
TM: Tem sido fantástico e por isso acho que neste escalão etário dos quarenta e cinquenta anos é muito melhor ainda, porque nos dá a sabedoria de uma vida. Eu acabo por ir buscar o que aprendi na gestão hoteleira e na área da comunicação. Algumas dessas ferramentas tem-me ajudado a divulgar o melhor possível este conceito de vida e graças a esses aspectos tenho tido pessoas fantásticas nas aulas, tenho de enorme satisfação de saber que existem famílias que se converteram à macrobiótica, porque as mudanças são nítidas. Bastam duas semanas e notam logo a diferença. As pessoas já me conhecem desde casa. Comecei a dar aulas de culinária na minha residência e tive de sair, porque os grupos estão sempre a aumentar, às vezes tenho mesmo que dizer as pessoas que não há lugar. Gosto de fazer desse momento, um espaço de saúde, de alegria e partilha, mas também para gostarem de cozinha.
Para todas as idades?
TM: Todas as idades. Já tive uma jovem com quinze anos e uma pessoa com setenta e três nas minhas aulas. Abrange todos os escalões etários, todas as profissões e até homens. Tenho em média um formando do sexo masculino por aula, o que é sempre muito bom. Gosto que as pessoas saiam mais felizes daquela lição e que percebam que o nosso bem-estar não se deve apenas a nossa alimentação, mas a atitude que pomos nas coisas e o que transmitimos aos outros, por isso faço isto com a maior das paixões, porque acredito e evidencio isso e me dá forças para a tal “loucura” de mudar de vida outra vez. (risos)
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