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A vida segundo teresa

Escrito por 

Reconhecemos-lhe a tonalidade cálida da voz que espalha suavemente pelas ondas hertzianas a décadas. Conhecemos-lhe todos os contornos do rosto quando entrava com um sorriso aberto pela nossa casa adentro, através da caixa que mudou o mundo, mas afinal Teresa Mizon não se resume à comunicadora inata. É uma autêntica titã capaz de mudar o rumo da sua existência aos cinquenta e um anos, sem medos, sempre de coração aberto e com uma paixão inabalável pela vida…e pela macrobiótica.

Sempre estiveste ligada à área de comunicação social, mas de repente decidistes mudar de rumo. Porquê?
Teresa Mizon: A vida é feita de ciclos. Há muitos anos tinha deixado uma carreira na gestão hoteleira, que me tinha levado a muitos sítios do mundo, abandonei-a quando vim para a Madeira. Iniciei uma nova etapa na comunicação social, aconteceu na mesa de um café a conversar, alguém que me perguntou se não queria falar para a rádio. Adorei todos os anos em que me dediquei à televisão e à rádio, embora não tivesse abandonado totalmente esta última. Fiz o melhor que pude. Apaixonei-me. Mas, havia sempre um bichinho dentro de mim que estava ligada as medicinas alternativas, ao orientalismo e à alimentação. Desde a minha adolescência que sonhava um pouco ter a minha vida ligada a estas áreas. Claro, que estar na comunicação foi fantástico, não parámos e vivi intensamente esse período da minha vida profissional, mas cheguei a uma certa idade em que pensei que era altura de mudar e seguir o meu sonho de adolescência e decidi seguir a macrobiótica à seria.

Mas, foi uma vontade desde sempre?
TM: Foi sempre uma área que me interessou desde os dezoito anos. O orientalismo, o taoismo, o budismo e as filosofias orientais. Houve uma altura em que foi vegetariana, sempre tive muito cuidado com a alimentação, mas enfim como a maioria, acabava por não se alimentar adequadamente quando não se conhece as bases de todas as coisas. Não comia carne, “embebeda-me” em doces e lacticínios que é algo que os vegetarianos fazem muito. Assim, há dez anos resolvi, mesmo antes de tirar o curso, ligar-me a macrobiótica sem ser institucionalmente. Eu sabia no fundo que estava próxima da mudança, já tinha vivido muita coisa, com muito stress e velocidade. A comunicação requer muito de nós, estamos sempre a faze-lo e quando chegou a altura em que já não podia ouvir mais telefones, não me apetecia estar “consciente”, mudei e hoje em dia gosto de estar com as pessoas. Tenho agora uma vida que me permite conhecer muita gente nova. Estou aberta a outras coisas, quando estava ligada à comunicação social havia uma serie de workshops e palestras aqui e no estrangeiro que gostaria de ter feito e não fiz, porque estava muito presa a produção televisiva, que é uma actividade estimulante. E chegou a altura de fazer tudo isto.

Como é que se chega aos cinquenta e se decide mudar?
TM: Como sabes como orientalista que sou, essa é a fase da vida em que nos tornámos mais sábias. Sabemos muita coisa, acumulámos muita informação ao longo da vida e temos a certeza de onde queremos ir. A palavra menopausa por exemplo, não existe no extremo-oriente, inclusive no Japão. Essa época da nossa vida que no Ocidente esta conotada com coisas terríveis, como doenças, depressões e uma serie de calamidades, no oriente não existe. Uma mulher que siga os seus ciclos naturalmente, que se cuide, que se ame e tenha amor-próprio como hábitos da sua vida vai chegar a esta idade e dizer a si própria: Eu tenho este sonho, ou ainda quero fazer isto e é agora ou nunca. Eu devo dizer que prescindi financeiramente de imenso, agora tudo é mais difícil nesse campo. Estou felicíssima e é essa mensagem que deixo as mulheres com mais de quarenta anos.

Mas, as tuas amizades mais íntimas não te “preveniram contra a loucura” que estavas prestes a fazer?
TM: Toda a gente! Mas, eu desde miúda que ouço que as decisões que tomo são sempre uma loucura! (risos). Quando larguei a faculdade onde estive inscrita em arquitectura e cheguei à casa a dizer o meu pai que queria fazer hotelaria, ele na altura achou que estava absolutamente doida. Obrigou-me a fazer cursos de francês e secretariado preocupado com o meu futuro. A partir daí fiz sempre o que quis. Tive cargos de chefia no Sheraton do Porto, já na área de hotelaria, que larguei para fazer rádio. Estudei e fiz todas as formações possíveis e era também efectiva na RTP quando decidi despedir-me, porque a minha filosofia de vida era incompatível com a deles. Na altura, até me ofereceram promoções. Eu só sei que faço as coisas por paixão, por gosto e não por frete. As grandes empresas têm filosofias e comportamentos com os quais não consigo identificar-me. Fui então para a TSF, fiz parte do projecto inicial aqui na Região, foi algo que me deu imenso gozo. Assim, como abri uma loja de decoração e artesanato regional que também me deu imensa felicidade e voltei depois para RTP como freelancer há já quinze anos. Quero ser livre e esse é um dos meus valores mais importantes da minha vida. No entanto, temos de ter grandes doses de auto-disciplina e de responsabilidade e por isso, estou habituada que me chamem de “maluca”. No entanto, nunca me arrependi de nada.

Agora, nesta tua nova fase profissional, tu não te limitas a dar aulas de culinária, também há todo um estilo de vida envolvente.
TM: Exactamente. Aliás, as aulas de culinária que dou são um acrescento à minha actividade macrobiótica. É uma filosofia de vida que se dedica ao princípio de que no universo somos regidos por duas forças opostas, mas complementares. Os cristãos chamam-lhe o céu e a terra, os orientais denominam de ying e yang que abrangem todo os fenómenos da natureza. Se conhecermos exactamente em que grau, de que forma nos afectam e aos nossos alimentos, ou seja em tudo, vamos criar uma melhor harmonia com aquilo que comemos. Não é uma dieta, é saber o que os alimentos podem fazer por nós em termos de equilíbrio e prevenção da doença. Existe nesta filosofia de vida uma forte componente terapêutica. Cada vez mais existem estudos que corroboram os benefícios de um estilo de vida macrobiótico, que tem benefícios comprovados em vários tipos de cancros do sistema digestivo, ou em doenças como a diabetes, a glicemia e o colesterol. Enfim, todos estes aspectos podem sofrer uma melhoria.

Em que diferem concretamente dos vegetarianos, porque há sempre uma certa confusão entre estes dois tipos de alimentação.
TM: A pirâmide de alimentação macrobiótica baseia-se nos cerealíferos. Biologicamente somos constituídos á custa dos cereais, devido a nossa alimentação e dos nossos intestinos. Os herbívoros, por exemplo, tem um intestino muito curto quando comparado com o dos carnívoros. Nós estamos a meio caminho. A seguir vêm os vegetais e as leguminosas e não consumimos lacticínios, nem carne. Vamos buscar alguns nutrientes as algas e como eu digo está baseado nessa filosofia. Eu olho para ti faço um diagnóstico e vejo que a tua condição necessita de alimentos mais yang, para balançar a tua condição mais ying. Esse conhecimento dessas energias, dessas forças que comandam o universo, é o que aprendemos. No vegetarianismo se pedires um pacote de batatas fritas e pudim flan estás a cumprir as regras, mas estás desequilibrado na tua alimentação. Não se rege por um conceito filosófico. Os nossos mestres dizem algo muito acertado, filosofia sem prática não vale nada, prática sem filosofia é muito perigosa. Por isso, nós temos base de sustentação. O mais curioso é que a organização mundial de saúde mudou a pirâmide alimentar para uma que é muito parecida com a nossa. Na base tem os cereais, claro que não são os integrais, tem os refinados, com mais massas e pão. Nós utilizámos os cereais menos refinados possíveis tendo em conta à época do ano dos alimentos, enfim há uma serie de condicionantes. Na macrobiótica nada é proibido a não ser a ignorância, dizem os mestres. Ou seja, posso comer uma pizza, ou um doce e sei o que isso vai fazer ao meu organismo e como me vai fazer sentir emocionalmente.

Tu fazes também uma espécie de consulta.
TM: Sim, fiz uma formação em consultadoria, que me permite usar várias ferramentas para ser consultora macrobiótica. Dou uma orientação alimentar e de estilo de vida individual. Cada consulta leva duas horas, tendo em conta a postura emocional de cada pessoa e conforme o caso vamos orienta-la. Posso dizer a alguém que: precisas de sair e ir dançar. A outra pessoa posso sugerir: necessita escrever. Enfim, mil e uma coisas. Numa consulta macrobiótica nos ouvimos as pessoas, os seus ritmos e sob a luz deste estilo de vida, vamos aconselha-la para poder ganhar saúde e sentir-se melhor com ela própria. As aulas de culinárias são um anexo ás consultas, porque não posso pedir as pessoas que mudem a alimentação sem ensinar-lhe que os pratos afinal são saborosos e que lhes vão fazer bem.

Como é que tem sido o acolhimento do conceito tão inovador numa ilha?
TM: Tem sido fantástico e por isso acho que neste escalão etário dos quarenta e cinquenta anos é muito melhor ainda, porque nos dá a sabedoria de uma vida. Eu acabo por ir buscar o que aprendi na gestão hoteleira e na área da comunicação. Algumas dessas ferramentas tem-me ajudado a divulgar o melhor possível este conceito de vida e graças a esses aspectos tenho tido pessoas fantásticas nas aulas, tenho de enorme satisfação de saber que existem famílias que se converteram à macrobiótica, porque as mudanças são nítidas. Bastam duas semanas e notam logo a diferença. As pessoas já me conhecem desde casa. Comecei a dar aulas de culinária na minha residência e tive de sair, porque os grupos estão sempre a aumentar, às vezes tenho mesmo que dizer as pessoas que não há lugar. Gosto de fazer desse momento, um espaço de saúde, de alegria e partilha, mas também para gostarem de cozinha.

Para todas as idades?
TM: Todas as idades. Já tive uma jovem com quinze anos e uma pessoa com setenta e três nas minhas aulas. Abrange todos os escalões etários, todas as profissões e até homens. Tenho em média um formando do sexo masculino por aula, o que é sempre muito bom. Gosto que as pessoas saiam mais felizes daquela lição e que percebam que o nosso bem-estar não se deve apenas a nossa alimentação, mas a atitude que pomos nas coisas e o que transmitimos aos outros, por isso faço isto com a maior das paixões, porque acredito e evidencio isso e me dá forças para a tal “loucura” de mudar de vida outra vez. (risos)
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