Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Complexo-universo paralelo

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É a longa metragem mais vista no nosso país. É o trabalho documental dos irmãos Patrocínio de uma realidade paralela no microcosmos social e cultural que é a vida do complexo alemão, uma das maiores favelas do Brasil.

Porquê a escolha deste tema?

Mário Patrocínio: Nós costumamos dizer que fomos escolhidos. Estávamos a morar no Brasil, um dia um amigo ligou-nos para fazer um vídeo clip, num lugar chamado complexo alemão que era ajudar uma pessoa de lá que era o Mc Playboy. Não fazíamos ideia do que era o complexo alemão, o Rio de Janeiro que conhecíamos era o tropical, ou seja, o cartão postal dos turistas. Mas, pronto, entramos em contacto com aquela realidade e o facto de a música falar das coisas boas da favela, o que era o contrário a tudo daquilo que passava cá para fora. Abriram-se muitas portas, pela realidade, pelo tema, e fomo-nos apaixonando e fomos construindo o guião necessário para depois filmar.

Quais foram os preconceitos e estereótipos criados em torno da favela que caíram por terra depois dessa convivência diária?

Pedro Patrocínio: Os estereótipos e preconceitos são criados pela comunicação social, se não fores lá e conheceres, tu acabas por não teres opinião própria. Só podes comentar e falar quando tu estas e vives num lugar.

Mário Patrocínio: As pessoas acabam por se habituar devido as informações em massa que são emitidas pelos telejornais. As pessoas, as situações e aspectos em si desconhecem por completo. Estão a basear as suas opiniões única e exclusivamente na opinião dos outros, ou forma como aquela realidade é retratada. Para sabermos o que uma realidade é e não podemos lá ir, temos que nos informar o melhor possível e ouvir todas as partes. O facto de conhecer uma realidade como a que vivemos no Rio de Janeiro, era não só escutar as pessoas ricas, como quem lá morava. As pessoas ricas de lá e pobres de lá. E assim, acabas por encontrar todo o tipo de pessoas, estereótipos tu vês sempre, a forma como tu olhas é que muda a realidade, a perspectiva. Por isso, é importante que as pessoas não façam julgamentos precipitados em informação que é bombardeada, mas antes sequer de comentar a realidade devem informar-se e sobretudo interagir com as pessoas se isso for possível que são os representantes dessa comunidade.

Ficou alguma coisa por dizer no vosso documentário, que não tivessem tido possibilidade de abordar devido a falta de tempo, ou meios, ou outro?

MP: Um milhão de coisas. O filme é apenas uma opção, é um caminho que tu escolhes, mais do que um filme foi a experiência que ficou nas nossas memórias e no nosso coração e uma e mil histórias por contar, porque tens recursos limitados, tempo limitado e um objectivo concreto.

Quando tempo estiveram lá a filmar?

PP: Vinte dias a filmar.

Só?

MP: Três anos de pesquisa, vivência de ir até lá, comer lá, de ir beber a cervejinha com o tio, ir ao baile funk e aos eventos culturais. Esse convívio foi durante três anos, as filmagens foi só vinte dias porque não tínhamos dinheiro para mais, não tínhamos financiamento institucional, foi feito com o nosso dinheiro e a ajuda dos amigos. Em vinte dias concentramos tudo o que tínhamos aprendido nesses três anos.

Esperavam o sucesso que foi? É a longa-metragem mais vista do ano em Portugal.

MP: Sim, nós esperamos sempre o melhor sucesso possível e fazemos o nosso trabalho, depois os resultados logo se vê. Felizmente o resultado foi bom.

Sim, mas não é usual que o público corra aos cinemas ver um documentário. Ainda mais português, sem qualquer tipo de campanha de marketing associada, foi muito fruto do passa a palavra.

MP: Sim, de facto foi muito resultado boca a boca, porque nós só tínhamos três cópias que é muito pouco, imagina os números que teríamos feito se tivéssemos tido 20 cópias no inicio. Mas, depois também tivemos a ajuda de muitas pessoas dos vários meios de comunicação que nós deram atenção, porque entenderam que o conteúdo é bom e por isso acabaram por se interessar.

Tem algum novo projecto neste momento?

MP: Sim, temos vários projectos e ser finalizados agora na área documental. Mas, o nosso objectivo é apostar na ficção que é a nossa formação. O documentário foi mais auto-didacta.

Mas, cá em Portugal ou no Brasil?

MP: Há projectos a ser filmados cá, mas o de ficção é para ser filmado no Brasil, Portugal e Angola.

Sentem que o documentário é uma arte menor em relação a ficção?

MP: Precisamente ao contrário, porque eles deram origem as grandes mudanças no cinema, quer do ponto de vista estético, seja da forma como se pode filmar. E por isso, não sendo a nossa formação de base,quando começamos a estudar o que era um documentário, a perceber a forma como se cria, percebemos que ao longo da história foram os documentários que foram influenciando a ficção e não o contrário. E isso era algo que não sabia. O documentário é uma área onde existe uma maior área de experimentação do que propriamente a ficção que é cingida pelos guiões. Por isso, não acho que seja a ovelha negra, cada vez acho que ele é mais importante para a sociedade.

Sentem isso da parte do público?

MP: Sim, do português e do mundial. Repara no que acontece com o cinema português.

E fora como nós vêem?

MP: Sabem que Portugal fica no Sul da Europa e pouco mais. Não há uma comunicação concreta e bem-feita para fora, isso não existe. Espero que haja apoio cultural para o cinema, mas um filme é um potencial para levares o teu país lá para fora. Já são feitas algumas coisas nesse âmbito, vai funcionando pouco a pouco. Mas, é necessário perceber que um filme não acaba no momento em que se edita, numa bobine ou num DVD. Há uma parte de Marketing e de comunicação que tem de ser feita e isso ajudaria em muito dar a conhecer o cinema português lá fora. Esta questão não se prende só com o cinema, é também uma questão que se verifica com os nossos produtos e com o nosso capital humano. Temos pessoas de qualidade no nosso país e infelizmente não lhes é dado o devido valor e acabam por abandonar a sua pátria. Isso é triste que assim seja.

Quais são as vossas referências cinematográficas?

PP: É o chamado cinema novo brasileiro, que é um cinema real. Uma das personalidades que mais marcaram o meu percurso é o Valter Carvalho quer na fotografia, quer como realizador.

MP: Foi influenciado pelo cinema brasileiro, o Valter Carvalho é fantástico, mas mais pelo americano e europeu. O Francis Ford Coppola e gosto imenso o Aronovsky. Os três filmes deles são fabulosos.

O trabalhar juntos foi um passo natural?

PP: Foi a vida toda. Acabamos por sempre querer trabalhar juntos.

MP: Sempre foi um passo natural.

Nunca se fartam um do outro?

MP: Fartamos, mas cada um vai para um lado, descansamos e voltamos ao mesmo.

PP: Faz parte do processo! (risos)

http://filmesportugueses.com/complexo-universo-paralelo/

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