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Diana, a mercadoria humana

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Helena Freitas aceitou o desafio de compor uma personagem perdida nas malhas do tráfego. Um trabalho de fundo sobre um tema polémico que não nos deixa indiferentes. Uma peça de teatro sobre seres humanos não tão diferentes, nem tão distantes de nós. Uma actriz que luta pela diferença na sua arte.

Quem é o teu personagem?

Helena Freitas: Meu personagem é a Diana que foi apanhada numa rede de tráfego. Portanto foi vendida pelo primo, a peça retrata o tráfego de seres humanos. Ela veio para Portugal e foi vendida pelo primo para um amigo que depois a prende num quarto e tira-lhe o passaporte, e só quando ela fizer vinte mil euros em serviço é que irá reaver supostamente o documento de identificação de volta.

Quais são os desafios para ti no que se refere a esta personagem?

A proposta deste trabalho e da autora deste texto original era que fosse num espaço convencional, mas o encenador Ricardo Correia, como trabalha com espaços não convencionais decidiu apresentar a peça num armazém. É um desafio não só para encenação, como também para a personagem. Neste tipo de ambientes, consegue-se estar num espaço muito frio, húmido, o estar presa em situação precária, que é o acontece com elas, estarem presas em quartos.

Nós, em Coimbra a seguir a peça, fazíamos um debate em que vinham pessoas do SEF (serviço de estrangeiros e fronteiras), para começar outra vez a haver o debate sobre esta questão em Portugal. E esta peça foi para isso. É um assunto que não se ouve falar muito, mas existe. Portugal é um dos pontos de pesagem e de estadia de tráfego de mulheres.

Como surgiu esta oportunidade?

Eu e o Ricardo estávamos a trabalhar numa outra peça, em Coimbra, e surgiu a oportunidade de fazer esta peça juntos através do convite da “saúde em português” com este tema de tráfego de seres humanos. O Ricardo decidiu abordar o texto de Lucy Kirkwood, deu-me para ler, apaixonei-me logo pelo papel, é um texto bem escrito, é um novo tipo de dramaturgia e foi assim que decidi aceitar o trabalho. E começamos os ensaios em Janeiro, e pesquisa sobre este tema.

Trabalhas então essencialmente como actriz?

Sim e dou aulas de expressão dramática a professores do ensino primário.

Como vês o teatro no panorama nacional?

É uma pergunta complicada. Eu acho que estão a surgir encenadores mais novos, cujas propostas são a escrita em cena. A nova dramaturgia que é feita no palco enquanto está a acontecer. Em que os actores fazem pequenas improvisações a partir de um tema, e que eles próprios e são os criadores desse movimento, trazer a dramaturgia para a cena. Esta também a surgir o actor enquanto criador no verdadeiro sentido da palavra. Ou seja, um actor com pensamento próprio que faz o seu trabalho e não está à espera que o encenador diga alguma coisa.

E o público português adere?

Sim, mas depende das zonas. Em Lisboa há público, mas não é muito. Vai ao que este habituado a ver sempre. E às vezes é um público ligado ao teatro. E existe as pessoas mais velhas que vão ver os espectáculos por causa do teatro de revista, que é uma tradição portuguesa que temos que manter.Não há muito público.

Mesmo quando se trata de peças com actores já conhecidos na televisão?

Sim, essas enchem. É sempre um chamativo, e aparecem nos cartazes. O marketing teatral se é que se lhe pode chamar assim, está direccionado para isso. Quando há musicais estão nos centros comerciais para aliciar as pessoas a irem ver esse tipo de teatro.

O que falta para haver mais público? Achas que falta uma mentalidade para os eventos culturais, porque também é educação?

Eu não gostaria de dizer frase feitas e afirmações já ditas deste ano e do ano passado, porque sempre que se fala na nova dramaturgia e no teatro, de ver e não de ouvir. Mas, nós vamos para ouvir e não para ver, porque é uma grande chatice, porque nos aborrecemos e já dizia o Peter Brooks, o diabo é o aborrecimento. Muita gente a partir desta pergunta fala sempre em subsídios e eu pessoalmente acho que se pode fazer um bom espectáculo sem grandes apoios. Mas, isso depende de cada companhia, e depende se têm espaço, porque há deles que é necessário manter e para isso é necessário dinheiro. Também é necessário pagar os actores e os criadores, que por sua vez, tem de pagar segurança social e passar recibos verdes todos os meses, infelizmente. Eu não sei se o que têm que mudar é a mentalidade do ponto de vista económico e social. Não se pode falar de um sem o outro. Não basta dizer Ministério da Cultura, não pode ser. Temos o exemplo da Camacha que é um sítio pequeno com poucos apoios e mesmo assim está a produzir um festival em que traz trabalho de teatro de fora e estão de parabéns, há zonas do país com mais dinheiro e em vez de gastar tudo numa só produção poderiam apostar em vários grupos.

http://nacasadaesquina.blogspot.com/

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