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Filipe, o sonhador acordado

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É um jovem artista da banda desenhada que conseguiu atingir todos os objectivos profissionais que se propôs na vida. Um sonho que só foi possível pela persistência e tenacidade com que sempre “correu” atrás deles.

Como começastes a “desenhar” a tua vocação?

Filipe Andrade: Sendo lugar-comum a todos os artistas sempre que tinha algum tempo disponível desenhava em algum lado. E a minha mãe levava papéis e caneta quando ia a uma consulta comigo como forma de entreter. Eu, também andava sempre a procura de um papel e de uma caneta. Depois aos dez anos os meus pais tinham observado que eu tinha aptidão e tendência pelo gosto e pela forma. Depois matricularam-me numa academia de desenho. Mais tarde conseguimos achar um sítio que era um ateliê de uma professora de belas artes que preparava alunos para a entrada na faculdade. Entrei nessa “academia” e formei-me lá enquanto artista. A banda desenhada, entra já ai, porque ela pertencia a um grupo de artistas que organizou um workshop de BD na altura leccionado pelo António Valjean. Ela me informou que haveria uma formação em banda desenhada, eu decidi ingressar no curso, tinha 11 ou 12 anos na altura e, fiquei “maluco” com o que vi na altura. Vi pela primeira BD dos EUA com toda aquela cor e isso teve uma grande influência. Ai decidi que era isto que queria fazer na vida. E o resto foi um conjunto de felizes coincidências

Quando fizestes a tua estreia como artista de BD?

A primeira grande publicação que tive foi o BRK pela Asa. Começou pelo BB jornal e saiu na Asa em 2009, comecei em 2006.

Porque esse hiato?

Por uma serie de factores, tínhamos assinado com a editora pedra no charco, eu e o Felipe Pina e acabou por diversos factores de que não vale a pena falar, o projecto acabou por ser repescado em 2009 já com a chancela da Asa.

O que teve de especial esse projecto para ti?

Foi uma lição de como fazer, de que fazer e também do que não fazer. Uma forma de me adaptar a cumprir prazos, compromissos comerciais. Eu comecei a BD ainda era bastante novo tinha 18 anos e tinha pouca experiência com trabalhos em empresas e coisas desse género. Eu estava a estudar também e acabou por ser um ensinamento a todos os níveis, essencialmente social para com o mercado de ilustração e de banda desenhada.

Qual é a tua perspectiva do mercado nacional para jovens como tu? Há público para ler?

A primeira questão a fazer é o público. É uma questão que todos nós nos devemos colocar, se há público? E a minha conclusão é que não existe. E a outra questão é, porque não há público de BD em Portugal? Não há público porque não há divulgação, se ela não existe, as pessoas não gostam porque não conhecem. Ou melhor, as pessoas não sabem se gostam ou não gostam, porque não conhecem. Há muita gente que me diz que até lerem a minha BD só conheciam o Timtim. Isto não pode ser, isto implica que as pessoas lêem banda desenhada publicada a anos atrás, até chegaram a minha. Há um gap gigante e temos que parar para pensar, por isso é importante todo o tipo de iniciativas de proximidade e passa por aí. E pela divulgação dos artistas. E voltando a questão inicial, existe uma panóplia imensa de bons artistas em Portugal e a prova disso é que quando vão lá para fora, conseguem ser publicados e ter sucesso. E não estou a falar de mim sequer, existe uma falha gigante em Portugal, uma dúvida enorme que é em relação ao desconhecido, do que é novo. Não é exclusivo da BD, nem da arte. É geral, em Portugal gosta-se de apostar no que está estabelecido, mais do que em algo novo. Não corremos riscos e tudo o que é artístico, principalmente a BD que mexe já com o mercado envolve um certo risco. Portanto, em conclusão diria que existe muito boa qualidade em Portugal, mas existe uma falha em divulgação. As editoras incluídas, câmaras e até os próprios autores. Há também o público a que se destina, não estamos a saber conquista-lo e é um trabalho de todos nós.

Como surgiu a aventura americana?

Começou em 2007 quando contactado por um amigo, viu num periódico que vinha para Portugal uma pessoa ligada a Marvel para ver portfolios e achei aquilo muito estranho, achei que era impossível, como é que uma pessoa da Marvel podia vir até ao nosso país e eu não saber. Já estava ligado ao BRK e a um meio onde as pessoas tinham acesso a esse tipo de informação. Fiz uma série de contactos telefónicos, algumas pessoas sabiam, outras não. Falei com a pessoa que efectivamente o trouxe cá, o João Lebre, aliás uma das pessoas. E organizei em meia hora um portfólio e levei-o lá, ainda nem sabia falar inglês nem nada, isto em 2007. Foi a primeira vez que mostrei o meu trabalho a alguém de fora. Em Janeiro de 2008 voltei a mostrar, em 2009 voltei a fazer o mesmo, houve uma proximidade com o responsável que fazia a procura de novos talentos para a Marvel ao nível internacional e o que acabou por acontecer foi ter ido estudar para os EUA já falando inglês. Acabei na Amadora falar novamente com ele de uma forma diferente e deu-se ai a primeira oportunidade que era com ele a acreditar em que eu conseguia fazer o que eles pretendiam.

Foi o sonho?

O primeiro sonho que tive era o de fazer aquilo que gosto de fazer. Depois descobri que era banda desenhada. E aí nessa área o que gostava mesmo de fazer? Trabalhar para a Marvel. Foi uma sucessão de sonhos.

Mas dos heróis da Marvel qual era o teu preferido quando eras pequeno?

Nunca tive um preferido. Ás vezes é um apontamento, mas não tenho um perfil. Tenho uma primeira fileira dos que mais gosto, o Wolverine, gosto do Cyclops, dos X-men, do homem-aranha, gosto muito de vilões e do Duende Verde. Gosto de alguns heróis, até porque eu quando era novo não apanhei muito as BD, havia uma falha, vi muitos desenhados animados da Disney e muita coisa da Marvel na televisão.

Como é trabalhar na Marvel?

É stressante, muito stressante. É algo de muita responsabilidade porque há muito dinheiro envolvido. E depois é gratificante porque, para além de fazer algo de que gostamos, estamos a ser pagos para isso. Estamos a ser reconhecidos. Há uma divulgação enorme que é para isso que estamos a trabalhar, para fazer o fazer chegar ao grande público.

O público americano é mais atento a BD. Houve sempre esta grande tradição dos heróis da banda desenhada. Já chegastes a ir a algumas daquelas convenções que organizam?

É ultra-consumidor. Já foi até três. Fui até San Diego em 2009 ainda a procura do talent hunter. Depois já estive como artista lá em Nova Iorque em 2010 e há duas semanas foi a Miami e tem sido um crescendo. Ou seja, em NY ninguém me conhecia e na Florida a última publicação já foi alvo de atenção do público, havia muita gente que conhecia o meu trabalho, uma coisa incrível, como num tão curto espaço de tempo as pessoas já me conheciam. É o mercado, as coisas resultam.

Já conhecestes o Stan Lee?

Já o vi pelo menos. Não o conheci, a pessoa que conheci da Marvel foi com o Joe Cuezada, que é o director executivo e também o presidente da Marvel.

Como é o ambiente de trabalho na Marvel?

Eu trabalho a partir de Portugal, eu envio tudo pelo computador. Mas, já estive nas instalações e é o caos. Explicaram-me como funcionava quando lá estive para fechar um contrato. Então, é um prédio antigo, um open space, na Quinta Avenida com vista para o Empire State Building e depois com um ambiente de escritório ultra-normal, cada um tem o seu espaço, o seu ilhéu. Mas é uma confusão de pessoas, umas cem ou mais, a trabalhar a todo o gás, telefonemas, papeis a voar e muita banda desenhada claro.

Qual é o gostas de desenhar mais?

É um pouco como na questão anterior, não tenho um preferido. Gostava de desenhar o Wolverine. E o Bandit. Fazer mesmo também gostava do Batman, porque tem os melhores vilões. O melhor dos heróis é sempre a parafernália de grandes vilões que os rodeiam. O homem-aranha só é bom porque tem os melhores vilões.

Qual é o que gostavas menos?

O capitão América.

www.filipeandrandeart.blogspot.com

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