Mas, em relação aos poetas açorianos não nota nenhuma diferença?
CAM: Do que conheço, não. Há bons e maus como em todo o lado, existem pessoas que escrevem cá, outros com um trabalho já feito, é difícil afirmar algo tão contundente. Se calhar há gente que escreve e nós não conhecemos, recebemos imensas propostas que nos chegam por correio e por email, um pouco por todo o lado e vamos apreciando esses trabalhos, por isso, não posso dizer com muita certeza se há diferenças, existem sim, em termos de quantidades, a região tem 250 mil habitantes e o todo nacional tem 10 milhões.
Os Açorianos leem muito?
CAM: É o mesmo tipo de questão, os dados nacionais não são diferentes dos regionais, embora me pareça pelo contacto que tenho aqui, porque isto de viver numa ilha é só viver apenas numa, no fundo uma pessoa que vive em Lisboa conhece tanto da realidade das nove, como eu das oito restantes, haverá nas ilhas com menos população menos hábitos de leitura. Nas restantes com alguns séculos de vida os níveis de leitura serão superiores. No fundo não será diferente das zonas litorais do continente em relação ao território mais interior afastado dos centros urbanos. Temos um país homogéneo com essas diferenças entre o meio rural e as cidades.
Em termos de gosto dos genéros literários há diferenças?
MAC: O que se nota aqui, como também em algumas regiões do continente é uma maior atractividade pelos autores locais, se for a uma pequena feira do livro que existe por aqui, as pessoas tem tendência para procurar autores ou temáticas açorianas, quer em termos ficcionais, documental ou histórico. Penso que hoje em dia o acesso fácil a internet e a televisão por cabo aproxima as pessoas e tudo o que se vai falando nesses meios é mais ou menos conhecido e o resto fica escondido algures.
Também publica ensaios de teatro ou literatura dramática?
MAC: Até agora só editámos peças de teatro, não uma colecção só dedicada ao tema e não temos ensaios.
Mesmo assim trata-se de uma vertente inusitada para uma editora.
MAC: É verdade em Portugal há uma editora com alguma regularidade a "Cotovia", ou os "Artista Unidos" que é feita em parceria.
Mas, porquê essa escolha?
MAC: Fiz teatro durante muitos anos, escrevi peças, tenho esse gosto particular, é um pouco pessoal digamos assim.
Focou as novas vertentes que pretendem colocar em práctica na editora, para além da revista, reparei que tem cursos de escrita.
MAC: Começámos por querer fazer, mas já não o fazemos, porque aqui não há mercado. Somos uma micro-empresa quase familiar e inicialmente quando constituímos a empresa tínhamos essas vertentes que se pode ver no site e uma delas é a escrita, como temos de pagar alguém para vir do continente, as passagens e a estadia, tudo isso torna complicado ter essas actividades com regularidade, fizemos apenas uma, que correu bem. A "companhia das ilhas" dedica-se a edição de livros, de uns notebook exclusivos com motivos açorianos e fazemos alguns trabalhos pontuais de comunicação e marketing com algumas entidades da região.
Qual é o feedback da página de internet em termos de venda de livros?
MAC: É fraca. A ideia de temos de falar com outras pessoas, só se vende online livros nos sites das grandes empresas tipo porto editora, fnac, etc. Ou bestsellers e livros escolares, porque o mercado nacional é desequilibradíssimo, só se vende o que aparece na televisão, ou nas revistas cor-de-rosa. Mas, conheço pessoas com outras páginas idênticas e que vendem muito pouco.
É um sonho?
MAC: É, estas coisas pequenas acabam sempre por serem o sonho, um pouco utópico.
Mas, é viavél ter uma editora tão pequena num mundo editorial onde as empresas se aglomeram em grupos?
MAC: Não sei se é viável, a única certeza que tenho é que se não fosse porque existem umas 30, 40 pequenas editoras o público ficava sem liberdade de escolha, porque as grandes não editam a maior parte da literatura que se publica neste país, recusam-se simplesmente. Tal como na poesia, ouvem falar dela e fecham a gaveta, portanto é um problema de liberdade. Do ponto de vista estrictamente económico não é viável, não ganhámos, mas também não perdemos dinheiro, mas não é esse o nosso objectivo. O que pretendemos é publicar um livro e vende-lo o mais possível para poder imprimir o próximo. Mas, acho que esta pressão que as pequenas editoras fazem sobre as grandes é saudável.
Qual é o próximo passo, para além da revista?
MAC: O próximo passo é continuar com as colecções pequenas, vamos manter mais ou menos o mesmo ritmo de publicação e vamos lançar mais duas, uma chama-se "terceira margem" de ensaios de natureza, sobre literatura, estética, política, enfim e a outra intitula-se "mundos", genericamente designa-se por literatura de viagem, embora não goste muito desta expressão. Em Março, sairão dois livros e vamos reforçar ainda, a componente açoriana.
Em média quantos livros imprime por edição?
MAC: Em média imprimem-se 300 exemplares, o que para uma editora pequena é bom, quando se trata de poesia e teatro. Mesmo estes números podem não estar correctos estamos sempre a tentar fazer as contas e não é fácil. (risos)