Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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O belivar de andresa

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A 11 de Dezembro de 2011, as 11 horas e 1 minuto Andresa Salgado encetou a mudança com o projecto “believe in Portugal” que pretende mudar a forma como encaramos o nosso mundo. Uma onda azul para o planeta azul, que visa através da troca de serviços colmatar dificuldades, estabelecer conexões entre as pessoas e faze-los acreditar que sonhar é mudar a vida para melhor. Um périplo que vai terminar no dia 21 de dezembro de 2012, as 11 horas da noite e 1 minuto. Por isso, ponha-se já a believar e seja mais um nesta onda que vai com certeza inundar o seu universo. Be life, Believe, Be happy!

Como é que te surgiu a ideia de criar o “Believe in Portugal”?

Andresa Salgueiro: Nem sei como é que foi. Foi uma data de sentimentos e a sensação que tinha de mudar de vida. Queria ser uma pessoa mais saudável, mais poupada, mais ecológica e um melhor ser humano. Aliado a isto, eu era voluntária na “terra dos sonhos”, é uma organização que concede sonhos para crianças com doenças terminais e no “banco de tempo”, só que este último fechou e então criei um grupo de trocas para os meus amigos poderem permutar serviços, chama-se “troco 1 hora”. Pouco depois lembrei-me do lema da “terra dos sonhos” que é do Walt Disney, que diz: “se és capaz de sonhar, és capaz de o fazer” e então se sou capaz de sonhar e o meu sonho é mudar o mundo, então vou faze-lo. Aconteceu tudo ao mesmo tempo, o facto de não estar realizada no trabalho, embora tivesse um bom ordenado e um excelente grupo de trabalho era só mais do mesmo e eu queria novidade. Então como vi que o grupo de trocas estava a evoluir, decidi mudar de vida. Despedi-me do trabalho e defini: vou viver do grupo das trocas.

Um dado curioso é que pretende viver com 1,111euros, durante um 1 ano, 11 dias, 11 horas e 1 minuto. Porque esta numerologia?

AS: É outra coisa que não sei bem explicar, mas nessa altura em que decidi mudar de vida aconteceram uma data de coisas engraçadas, nomeadamente, ainda tinha 11 dias de férias para tirar quando decidi demitir-me. Notei que havia uma série de cartazes espalhados com a data 11.11.11 e achei isso fantástico. Os 1,111 euros era o valor do meu ordenado. Então o grande desafio foi viver um ano com este ordenado, depois os restantes números surgiram por brincadeira e foram ficando. Todos os critérios avaliativos que me propus até o final do ano são tudo com o número onze.

Quais são esses objectivos?

AS: É abarcar onze distritos, este é o séptimo que visito, ir as onze feiras por ano, estou agora na sexta e é haver um país “belivador”, como gosto de chamar. Portugal é cada vez mais belivador, mas já temos o interesse da Espanha, da Inglaterra que já tem um grupo de trocas e da Polónia, deste país há um senhor que gostaria de vir até Portugal e ir até as feiras de troca. Eu foi convidada para falar num festival na Holanda. A ideia é que durante este evento eu possa ajudar pessoas a organizar um “believe” também.

Explica-me na práctica como é que vives de trocas? Como chegastes a ilha da Madeira?

AS: A minha vinda á Madeira tem a ver com o “movimento de transição” quis organizar uma feira de trocas e foi um convite deles. Quando as pessoas querem que eu compareça asseguram a deslocação. A vinda foi assegurada por eles, senão teria de ter feito uma troca com a companhia aérea, ao nível da alimentação tem sido engraçado, eles arranjaram um restaurante vegetariano chamado “terra mãe” e então vou lá almoçar lá todos os dias, em troca vou ajudar a proprietária no jardim. Depois ontem, não tinha jantar, então lembraram-se que havia uma organização que distribuía comida aos sem-abrigo e eu já conhecia um dos fundadores do grupo, em Lisboa, então andei a distribuir refeições e no final jantei uma cuvete que sobrou. Hoje vou falar num centro social e eles vão oferecer-me almoço em troca, porque vou trabalhar todo o dia com as pessoas idosas e à noite o jantar ainda não está garantido, mas vou dar uma palestra e gostaria de experimentar por troca as iguarias regionais. A minha ideia era ajudar num arraial, a limpar as mesas, lavar a loiça e assim garantir mais uma refeição. Esta ainda tudo em aberto, geralmente faço tudo isto assim. Na minha casa, eu troco serviços por comida e faço-o em casa e quando saio levo as minhas refeições.

Então nunca gastas dinheiro?

AS: Dos 1,111 euros já gastei 477 euros para pagar água, luz , gás, um selo e o seguro do carro. A partir de agora já não gasto mais dinheiro com as contas domésticas, vou poupar esse montante, porque desde o início do projecto tinha pensado em que alguém fosse viver para minha casa, dormir no meu quarto e eu ficava na sala. Eu pensei em alguém que não pudesse pagar uma renda de casa, que estivesse desempregado e não pudesse gastar muito dinheiro. Então arranjei uma pessoa com essas características, que paga as despesas que é muito menor do que alugar um quarto. Quando vou para fora, cuida da casa e dos meus gatos e acaba por ser uma troca. Ainda não fiz uma troca com a EDP, mas é uma possibilidade para as pessoas poderem dividir as despesas, desde que tenham um quarto. É uma forma de colmatar as dificuldades que atravessam.

A Anje onde entra neste processo?

AS: A Anje só me disponibilizou as instalações, o espaço para fazer o lançamento. Organizei dois eventos, um do meu projecto pessoal e outro do social. Eles acharam engraçado o conceito, mas não estamos a colaborar com eles, até porque é uma associação de jovens empresários, e eu não tenho uma empresa, nem quero ter. Eu quero fazer isto de forma individual, com pessoas como eu digo de coração azul. Não necessito de financiamentos. Com os recursos da sociedade, eu consegui fazer muito mais coisas à troca.

Sentes-te realizada?

AS: Sim, claro. Muito mesmo, não tem nada a ver. É completamente diferente. Eu acho que não vou ficar aqui. Isto é apenas o início. Uma licença sabática e agora sinto que estou a voltar a nascer. É também um ano de aprendizagem, saber como consigo ser mais sustentável, mais ecológica e estão a acontecer muitas coisas e curiosamente não aprendo mais, porque acabo por divulgar este projecto. Já queria ter plantado uma horta em frente do meu prédio. Mas, não tive tempo, porque o movimento esta a crescer de forma alucinante. No primeiro mês, comecei a dar muitas entrevistas e passou muito rápido. Para o ano vou ter outro projecto, outra ideia, outras formas de fazer as coisas e vai ser com certeza diferente.

Quando decidistes embarcar na aventura do “Believe in Portugal” as pessoas não tentaram demover-te? Afinal tinhas um emprego estável, uma casa, numa altura de crise.

AS: As pessoas que me tentaram demover foram as que me eram mais próximas, os meus amigos e o meu pai que estava muito preocupado com o dinheiro e o futuro, a minha mãe é muito religiosa e vê isto como uma forma de ajudar os outros de forma cristã, ou católica, por isso achou muito bem. As pessoas que pensaram mesmo que não estava boa da cabeça foram os meus amigos mais próximos, eu sempre tive ideias loucas e alinhavam em tudo, só que acharam que esta em particular era demais(risos). Diziam-me que não havia necessidade disso, mas eu sentia que era isto que queria. O meu chefe também me disse o mesmo: Andresa, ninguém vive de trocas. E eu disse-lhe na mesma que queria vir embora, ele achava que não estava boa da cabeça, porque gostava muito do trabalho disse-me para descansar, para me acalmar e até sugeriu uma baixa médica(risos). Eu, dizia sempre que não e então acabei mesmo por vir-me embora. As pessoas que não me conheciam tão bem acharam normal esta minha ideia e outros ainda acharam o máximo, diziam que iria mudar à política, que iria criar uma nova religião, até diziam que este projecto era o futuro. Eu fui impulsionada por estas mentes que estão mais abertas dígamos assim, que é possível mudar o mundo. Os meus amigos agora apoiam-me imenso, o meu pai está mais descansado e agora sinto que há essa esperançazinha azul.

Quantas pessoas têm ao todo o projecto?

AS: O grupo tem 14 mil, mas nem metade, fazem trocas. Há pessoas adicionadas que nunca lá estão. Nas feiras, em Lisboa vão uma média de 100 pessoas, noutros distritos vão menos e depois o grupo de Inglaterra esta bem lançado, mas não sei quantos elementos tem. O de Espanha via arrancar em força agora, porque uma amiga minha vai para lá viver. O que interessa não é quantas pessoas tem o movimento, mas sim que existe uma alternativa, quando não se tem dinheiro, para tal basta fazer uma troca. Essa é a verdadeira magia. Eu não peço as pessoas para viverem como eu, obviamente, tenho condições boas e casa própria, mas podem minimizar as suas despesas desta forma, faz toda a diferença. Uma amiga minha trocou explicações de inglês para a filha, por alguém que lhe passasse a roupa a ferro. Ficam todos a ganhar, contactam com outras pessoas e deixámos de dar tanto valor as coisas. É uma troca de competências que cada uma tem. Nunca uma é mais importante do que a outra.

Porque escolhestes a cor azul?

AS: Por várias coincidências, uma porque toda a gente me chamava a menina dos olhos azuis. A minha cor passou a ser o azul. Depois porque comecei todo este projecto no facebook e é azul. Houve ainda uma menina que me entrevistou e disse-me: “tu és um link, tu unes, tu linkas as pessoas”, como já trabalhei em recrutamento, consigo sempre encaminhar as pessoas para os projectos certos. Será supérfluo dizer que os links na internet são azuis, por isso, a cor azul no “believe”. Se quero mudar o mundo, ele é azul. O céu e o mar são azuis. É tudo muito azul.

O título em inglês porquê?

AS: Chama-se “believe in Portugal” e não acreditar, porque logo no início achei que era um projecto que poderia percorrer o mundo, daí o inglês. Não que não acredite em Portugal, muito pelo contrário, o nosso país é que vai ensinar os outros a “belivar” e a tornar o mundo melhor. É necessário internacionalizar. O movimento esta crescer tanto que já adaptaram a palavra para o português, dizem belive, que também é interessante porque quer dizer “sê vida”. Há uma nova linguagem, vamos belivar.

As feiras como funcionam?

AS: Todas elas tem um tema, believe in change, believe in love, believe in life e este mês é believe in dreams, o acreditar nos sonhos, e tudo gira em torno desse tema. As feiras arranjam sempre uma organização para apoiar, na Madeira, é a “pata” que acolhe animais abandonados. Na entrada para a feira pedimos as pessoas que tragam tudo o que esta relacionado com os animais, arroz de trinca, areia, o que as pessoas tenham em casa e não tenham que comprar obviamente. Então tem que entrar um objecto, mas mesmo sem isso, entram na mesma. As feiras, para além das bancas onde as pessoas individuais tem as suas coisas que trocam por outras, há também ateliers de empresas, de reflexologia, ou massagens onde também há trocas, do que seja. Depois há um momento que se chama “speed connecting” que inventei com um amigo meu, que é uma forma de as pessoas se conhecerem entre elas e trocarem de serviços. Elas tem 30 segundos para dizerem o que tem para oferecer e o que pretendem receber, mas ao nível de serviços. E daí surgem conexões, fazendo com que as pessoas vivam quase numa aldeia. Esta dinamica é interessante para isso.

Depois disto o que vais fazer?

AS: O slogan do meu projecto é be life, believe, be happy e então um amigo propos-me continuar com o ser vida, a ideia é recuperar uma casa sem dinheiro, com trocas de serviços, recuperar objectos do lixo e ter uma horta, ser um espaço sustentável em que as pessoas façam trocas. A ideia era gravar esse quotidiano através de uma televisão online, ou um documentário que seria emitido, como uma espécie de “be school” para ensinar as outras cidades a fazerem a sua casa, para dar apoio comunitário. Outro projecto interessante era ao nível individual, eu ajudar à troca na casa das pessoas. Será talvez viver uma semana na residência de alguém e em troca de dormida e comida, eu ajudo-a a ser mais sustentável, mais poupada, minimizar custos com gestos simples. Isso vai ser muito engraçado e as pessoas pedem-me muito. Outro projecto que gostaria de por em prática, mais para à frente, é uma escola, em que as crianças ensinam-se os pais a serem felizes. Eles tem tudo lá dentro, gostava de envolver as crianças, para que elas nos ensinam-se a voltar a sonhar.

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