Porquê gastas tanto tempo a pensar nisso?
PMR: Porque não se consegue explicar. O porquê de terem corrido mal. Um comediante quando tenta fazer carreira disto, ensaia tanto, dedica-se imenso que, garantidamente, o público pelo menos vai apreciar o seu esforço.
Mas, tens essa noção quando escreves os textos e ensaias, que o público se vai rir?
PMR: Quando te lembras da piada sim. Quando começas a escreve-la, convences-te que não, quando começas ensaia-la tens a certeza que não, na véspera da estreia tens a certeza absoluta que não tens piada nenhuma e que és a maior m*** à face da terra, perdoa-me a expressão! Estreias cheio de nervos e não importa que tenhas feito muitas actuações, sabes que te vais estrear com a certeza absoluta que não dominas nada disto, nem sabes o que o público vai pensar, depois eles começam a rir e tu lembrastes, ah! É por isso que este tema tinha piada! O Jorge luís Borges, o escritor argentino, dizia que, o humor é uma tradição oral e que não foi feito para ser escrito. Foi para ser contado, dito e acrescentado. O processo de escrever humor, transformar o impulso em piada, o seu timing e domesticar isso tudo é um processo complicado. A piada surge de forma natural e depois tens de conseguir uma forma de que ela resulte sempre, em qualquer local, em qualquer tempo, em qualquer língua e qualquer tipo de público.
Existe algum tema tabu nos teus espectáculos? Que tenhas pezinhos de lã para tratar?
PMR: Eu tenho sempre muito cuidado a fazer stand up comedy por duas razões: o meu background é em televisão e sobretudo programas para crianças e a minha sensibilidade nessa vertente tem de ser diferente. A parte didáctica é muito forte e temos muito cuidado ao abordar certos temas. Faço muito humor para empresas, esse tipo de humor é de colarinho branco. Usar palavrões e trocadilhos é muito complicado. Nestes espectáculos liberto-me mais, se bem que essa preocupaçãozinha fica sempre, está lá nos espectáculos ao vivo, solto-me mais e não há temas tabus. Há uns que vou com pezinhos de lã é o quê? Às vezes usámos situações escabrosas nos espectáculos, mas se usarmos palavras e imagens elegantes, se sobretudo nos colocarmos na posição do gajo que é parvo e não convencer as pessoas da nossa visão, mas dizer apenas o que achámos sobre o assunto, podemos então falar sobre qualquer tema que ninguém nos leva a mal. Há temas que ainda não abordei, porque não tenho talento para tal, como as doenças graves, já fiz contudo, actuações para médicos, onde posso fazer esse tipo de piadas, porque eles tem uma relação com o corpo mais pragmática, mas terra à terra. No que diz respeito ao público em geral, doenças e deficiências são temas que passo um pouco ao lado. Se bem que existem comediantes que tem o talento, ou a lata de entrar por aí e ter sucesso.
Quando referistes a pouco o teu trabalho nas empresas, falavas do teu site o Boole Sheat & associados?
PMR: É uma consultora que criei para fazer humor para empresas e que tem tido muito sucesso. No fundo misturo a parte de stand up comedy com a parte de análise organizacional.
Como é que um humorista tem um curso tão pragmático?
PMR: De psicologia social de organizações? Porque não sabia na altura ainda o que queria fazer. Comecei a trabalhar em televisão, desde muito cedo, em programas para crianças, mas nunca senti aquilo como uma ocupação a tempo inteiro. Iam surgindo convites, eu fui fazendo e sempre foi assim. A hipótese de fazer teatro também surgiu mais ou menos dessa forma. A minha carreira em teatro e televisão foi crescendo sem que eu fizesse grande esforço para isso, as pessoas gostavam e eu ia fazendo. Pelo sim e pelo não, foi continuando os estudos e psicologia social acabou por ser o curso que se adequava mais a aquilo que gostava de estudar na altura que foi para a faculdade. No fundo acabou por se coordenar muito bem, com os meus espectáculos, porque quando as empresas organizam conferências e vão buscar oradores, é preciso que o orador tenha uns traços de actor e comediante e é precisamente isso que eu faço, junto a componente de comédia com temas muitos sérios, resultados, números de gestão e passo mensagens importantes através do humor.
Tens um certo pudor em apresentar um espectáculo diante de uma personalidade do teu meio? Humoristas?
PMR: Muitos comediantes conhecem-se, dão-se muito bem e isso é uma coisa boa. As pessoas não têm essa noção. O pessoal do cinco para a meia-noite e eu jogámos a bola juntos, há muita gente que se conhece do tempo do levanta-te e ri da SIC e acabámos por admirar o trabalho uns dos outros. Todos nos sentimos um pouquinho julgado quando estamos a actuar, porque muitas vezes em eventos de solidariedade social estamos juntos. Agora a pouco tempo actuei com o Raminhos, o Pedro Fernandes, com o cómico brasileiro que é o Fernando Caruso, o Luís Franco Bastos e o Guilherme Fonseca. Mas, estamos sempre com aquele receio, porque os temas são os mesmos e agora? Mas, pronto não há problema, não é a mesma piada! Eu tenho a impressão que ficaria nervoso se o Herman me visse actuar, ou o Ricardo Araújo Pereira.
São as tuas referências em termos de comédia nacional?
PMR: Sim, porque são referências na comédia nacional e porque estão num patamar de genialidade. O Herman tem uma carreira muito longa e trabalhos absolutamente geniais, que foram feitos a trinta anos, mas que continuam a ser actuais. Estão à frente do seu tempo. Ainda não privei com eles o suficiente para os conhecer. Pessoas como o António Raminhos e o Bruno Nogueira são meus amigos e sentir-me-ia mais à vontade para fazer stand up comedy com eles a assistir e a ser avaliado, porque depois no final pergunto, quero saber o que eles tem para dizer e vice-versa.