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O homem dos sete ofícios

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Define-se como um actor que pisa os palcos, por prazer. Por vocação. Por gosto. Para respirar. A sua personalidade não se esgota, contudo nessa palavra. Uma das suas outras facetas é o de argumentista, de professor e até de advogado. É um homem de corpo inteiro que dispensa apresentações. Senhoras e senhores, António José Bastos de Oliveira Martinho.

Este ano estreou duas peças de teatro, porque este retorno aos palcos?

Tozé Martinho: Faço teatro há sete anos, nunca parei. É o que eu gosto mais de fazer. O que me paga mais é escrever novelas e argumentos, mas estar nos palcos é algo que me dá muito prazer e eu não prescindo. Sou essencialmente actor, sou também advogado e professor, mas aquilo que gosto mais de fazer é representar.

Tendo estado na génese da criação de séries e telenovelas nos últimos anos, como vê a evolução do actual panorama televisivo para este tipo de formatos?

TM: Penso que é um caminho lento, que começou bem e que tem encontrado alguns avanços e por vezes recuos, porque, às vezes o caminho trilhado não foi o melhor.

Fala da sucessão de caras novas que vemos em algumas séries e que pouco tempo depois desaparecem dos ecrãs?

TM: São actores e actrizes que não estavam devidamente preparados e que não se percebe como é que, estes jovens não foram criteriosamente escolhidos. Nos guiões, há avanços e recuos e até se verifica esse fenómeno com o mesmo guionista. Houve escolhas mal feitas.

Em termos de casting?

TM: Não, não. Em termos gerais, quer técnicos e actores. Houve realizadores com grande talento, que não foram devidamente acarinhados e acabaram por dar lugar a outros que não estavam tão bem preparados.

Então o que acha que se deve melhorar?

TM: Pode-se melhorar tudo. O que é fundamental é que as coisas andem para frente e até vão andando, devagarinho, mas não tão depressa como deveriam.

Acha que os contratos de exclusividade são parte do problema?

TM: Acho que é automático, uma empresa quando tem num actor, ou uma actriz, ou seja, a satisfação por encontrar um talento, naturalmente quer reserva-lo para si.

Acha então que é vantajoso?

TM: Não sei se é vantajoso, o que eu digo é que compreensível. Por exemplo, se você amanhã for uma grande autora, é natural que uma estação de televisão que teve consigo um grande êxito queira preservá-la por mais uns anos.

Falemos de novelas, sei que uma das futuras estreias, é violeta.

TM: Tenho uma novela que afinal, não se vai chamar violeta, mas sim destino e vai ser gravada em Janeiro. A TVI pediu-me para fazer alterações que provocaram este atraso.

Uma das críticas que faz quando se fala de argumentos para telenovelas é que, não são pagos tendo em conta o êxito em termos de audiências. É a favor de uma associação que defendesse os direitos dos guionistas?

TM: Acho que sim, deveria haver sobretudo uma diferenciação entre uma novela ter êxito ou não, aquelas que tem mais audiências deviam ser reavaliados nessa questão.

Uma das grandes falhas apontadas quer em termos de argumentos, para séries, ou para cinema são os próprios textos, partilha desta ideia?

TM: É o maior defeito do cinema português. Nós temos bons actores, realizadores, decore e paisagens. Na minha opinião são os guiões. Os de cinema são muito complicados, é problemático escrever-se um guião no nosso país.

Em que sentido é tão complicado?

TM: É preciso uma certa prática para se escrever este tipo de textos. O manuseamento de um assunto é muito técnico, ao contrário do que se pensa.

Então o que falta é simplificar? Depurar o texto é isso?

TM: É tudo isso. Eu tive um professor nos EUA, que um dia perguntou aos alunos: um actor vai na rua, precisa de saber as horas e questiona alguém que passa, como descreveriam essa cena? Todos dissemos na altura, coisas tais como, desculpe, importa-se de me dizer as horas? Ou, que horas são? Ele replicou apenas: e que tal, desculpe? Nós ficámos um pouco pasmados perante essa questão, quem pergunta sobre as horas não se limita a pedir desculpa. O professor depois esclareceu. E se ele apontar para o relógio e dizer desculpe? O que isto quer dizer? Que o guionista tem que contar com a representação do actor, com a sua interpretação para expressar um sentimento, uma atitude e dar voz à personagem. Os guiões normalmente não contemplam essa vertente. É a principal falha do cinema português.

Então não partilha da opinião de um dos críticos do NY Times que proclamava o cinema português como um dos mais inovadores em termos europeus?

TM: Acho que tem de melhorar muito. Precisa de investimento, de técnica e sobretudo serem encontrados os reais valores dessa arte. O apuramento de actores e realizadores tem de ser honesto e sincero e ai encontrámos com certeza uma solução.

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